– Afinal, existe maldição hereditária?
– Não!
Porém, esse falso ensinamento tem sido propagado como verdadeiro e seguido por crentes incapazes de exercer discernimento devido à falta de conhecimento bíblico. O evangelho de Cristo é simples: basta crer em Jesus, confessá-lo como Senhor (Rm 10.9-10), permanecer nEle (Mt 24.13 e 1Co 15.1-2) e viver em santificação (Hb 12.14), a fim de ser salvo e participar das bênçãos que acompanham a salvação (Hb 6.9). No entanto, há enganadores querendo complicar a simplicidade do evangelho (2Co 11.3-4). Somente Cristo, por meio de Sua Graça, liberta o ser humano. Não são necessárias fórmulas e receitas para alguém se libertar de supostas maldições hereditárias. Os propagadores da maldição hereditária costumam mesclar conceitos e métodos psicoterápicos com a Bíblia. No entanto, a chamada “psicoterapia cristã” é um jugo desigual (2Co 6.14). Quem cura o nosso íntimo, libertando-nos do passado, é o Senhor Jesus (Jo 8.32,36 e Lc 4.18).
O ensino das “maldições hereditárias”, conhecida também como “maldição de família” ou “pecado de geração” é uma “droga espiritual” que está sendo disseminada através da televisão, rádio, literatura e seminários nas igrejas. Os pregadores da maldição afirmam que se alguém tem algum problema relacionado com alcoolismo, pornografia, depressão, adultério, nervosismo, divórcio, diabete, câncer e muitos outros, é porque algum antepassado viveu aquela situação ou praticou aquele pecado e transmitiu tal pecado ou maldição a um descendente, ou surge em decorrência de um trabalho de feitiçaria ou de qualquer outra ação maligna lançada contra outra pessoa (a vítima). Uma pessoa em sofrimento pode ter sido “consagrada”, antes ou depois do seu nascimento, às entidades demoníacas.
Uma palavra má pode ter sido lançada sobre a vida de uma família, que nunca prosperará e será vítima de enfermidades e angústias. Os que defendem a existência de crentes amaldiçoados por maldições provindas de antepassados, admitem que é possível estarmos de posse de uma herança maldita, por nós desconhecida, e difícil de ser detectada no tempo e no espaço, e o “remédio” seria “quebrar”, “anular”, “amarrar”, “repreender” essa maldição, orando a Deus a fim de que lhe seja “revelado” qual é a geração no passado que o está afetando. Uma vez que se saiba qual, pede-se perdão por aquele antepassado ou pela geração revelada e o problema estará resolvido, isto é, estará desfeita a maldição.
Não há nenhuma base bíblica e teológica para as definições e práticas da maldição hereditária. Defensores dessa heresia usam versículos da Bíblia tirando-os do contexto, manipulando-os e adulterando o sentido da Palavra de Deus, e, para apoiar a sua doutrina insustentável biblicamente, usam um grande número de supostos testemunhos, com interpretações subjetivas e falaciosas.
É mentira que a maldição de outra pessoa, conseqüência dos seus pecados, seja transmitida como herança a seus familiares; cada um dará conta do seu pecado.
“Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.” Rm 14.12.
Alguns defensores da heresia em análise têm afirmado que o simples fato de alguém ter recebido de seus pais um nome com significado negativo resulta em uma vida de derrota. Se alguém se chamar Maria das Dores, precisa quebrar essa maldição e se apresentar com outro nome! Quanta invencionice!
A Bíblia ensina uma responsabilidade individual pelo pecado, como pode ser observado no livro do profeta Ezequiel:
“Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:1-4).
Seria o mesmo que afirmar nos dias atuais: os pais comeram açúcar e os dentes dos filhos criaram cárie. Tem se tornado um costume colocar a culpa dos fracassos pessoais nos antepassados ou em outros. Isso faz lembrar o que aconteceu no jardim do Éden, quando, por ocasião da Queda, o homem colocou a culpa na mulher e a mulher na serpente. Parece ser próprio do ser humano não admitir seus erros, buscando evasivas para não tratá-los de forma responsável à luz da Palavra de Deus. Infelizmente, alguns acham mais fácil culpar os antepassados do que enfrentar suas tentações.
O ensino da quebra de maldições hereditárias aparece como um atalho mágico e ilusório para substituir o caminho árduo da santificação, que é um processo diário e constante na vida do cristão, exigindo dele autodisciplina e perseverança na fé. Um outro aspecto incorreto desse ensino é confundir as doenças transmitidas por herança genética com maldições hereditárias espirituais. O Senhor Jesus nunca ensinou tal doutrina. Quando perguntado sobre o cego de nascença:
“Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”, ele respondeu: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9:2-3).
Jesus destruiu qualquer superstição ou crença que os discípulos pudessem ter de que a cegueira fora provocada pelos pecados de seus antepassados, e o próprio Jesus nunca ensinou tal doutrina.
Se precisamos quebrar maldições de antepassados, para que serve a nossa santificação diária (Hb 12.14)? E os erros que cometemos, eles se devem a fatores hereditários? Por que a Bíblia diz: “Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos” (Cl 3.9)? Que culpa tenho eu se meu avô foi um mentiroso inveterado? Ora, tenho de lutar é contra a minha própria natureza (Hb 12.4 e Gl 5.17)!
Portanto, que tal seguir à Bíblia? Ela diz:
“… nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus…”, Rm 8.1.
E:
“… se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”, 2Co 5.17.
Autor: Priscila Macêdo