“Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou,” (Rom 8.34 a)
É a ressurreição de Cristo que dá sustentação à fé:
1. Por ser uma evidência da nossa justificação,
2. Por ter uma influência em nossa justificação.
Houve necessidade da ressurreição de Cristo, para a aquisição de nossa justificação.
O apóstolo faz a ênfase do argumento em favor da nossa justificação, na ressurreição do Senhor, porque ao se referir à sua morte como a primeira grande causa, ele aponta para esta segunda, como que afirmando a sua importância, por dizer: “ou, antes, quem ressuscitou”, como se tivesse reconhecido que o argumento da ressurreição poderia até mesmo ser colocado antes do relativo à morte, como prova da nossa justificação, porque aqui, o que ele quer demonstrar, é que não há qualquer base legal para sermos condenados à morte eterna por Deus, e a prova disso está marcada de forma bastante evidente na ressurreição de Jesus.
Alguém indaga: Por que vocês foram justificados? Por causa da morte de Cristo, respondemos. Então vem a réplica: “Mas quem garante que a morte de Jesus foi eficaz para que vocês fossem justificados?”, e a nossa resposta será: “Porque isto foi comprovado na sua ressurreição, que é a prova patente que ele foi aceito e justificado pelo Pai, morrendo em nosso lugar, carregando os nossos pecados sobre o seu corpo, I Pe 2.24.
Sua ressurreição comprova então que a justiça de Deus está plenamente satisfeita pela morte de Cristo. Sua ressurreição pode nos dar plena certeza disso.
Em segundo lugar, ela teve e tem uma influência em nossa própria justificação, sim, e uma influência tão grande como a sua morte teve. Em ambos os aspectos, não podemos ser condenados, porque Cristo ressuscitou.
Ele ressurgiu dos mortos, e nós também juntamente com ele. Podemos ser justificados e vivificados porque ele vive. Nós vivemos porque ele permanece vivo, e vivo para sempre.
Como ele próprio afirmou: “porque eu vivo, vós também vivereis”, Jo 14.19.
E temos a certeza de que podemos viver nele, porque ele pagou completamente toda a nossa dívida de pecados, e Deus está satisfeito com a oferta da Sua vida em sacrifício vicário, ou seja, em nosso lugar.
Se o Senhor tivesse pago a nossa dívida em sua morte, mas caso não revivesse em glória, em sua ressurreição, não poderíamos receber da sua vida, pela qual somos salvos e vivificados. Ele é o pão vivo que desceu do céu e alimenta o nosso espírito. Vivemos pela sua vida, e assim deveria ser, porque foi isto que foi pactuado entre ele e o Pai, antes mesmo que viesse ao mundo para efetuar a nossa redenção.
Após discorrer sobre a ressurreição em todo o 15º capítulo de I Coríntios, o apóstolo Paulo fecha o capítulo com um hino de triunfo sobre o pecado e a morte:
“Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão. O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.” – 1-Corintios 15:55-57
A nossa ressurreição não será para a segunda morte, conforme sucederá aos ímpios, mas para a vida, e isto comprova que temos participado da ressurreição de Cristo, porque fomos justificados por Deus juntamente com ele, em sua morte e ressurreição.
Assim, afirma o apóstolo:
“o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.” (Rom 4:25).
Nesta passagem se afirma expressamente que Jesus ressuscitou por causa da nossa justificação. Não que o termos sido justificados tenha sido a causa da sua ressurreição, mas o oposto disto, ou seja, somos justificados por causa da sua ressurreição.
Então a ressurreição de Cristo não foi apenas uma evidência, um meio de prova da nossa justificação, mas algo que teve uma influência causal na própria justificação.
Isto pode ser visto em I Coríntios 15.17, onde o apóstolo argumenta nos seguintes termos: “se Cristo não ressuscitou, permaneceis ainda nos vossos pecados e a sua fé é em vão”, ou seja, embora você possa ter a certeza de que a fé opera em você sobre o mérito da morte de Cristo, no entanto, seria em vão, se Cristo não ressuscitasse, pois, neste caso, a sua justificação seria nula; e assim estariam ainda em seus pecados.
Ninguém deve duvidar quanto à verdade de que a morte de Cristo pagou a nossa dívida de pecados, mas ainda assim, dependíamos também da quitação dessa divida, e isto seria feito pela sua ressurreição. A conta deveria ser rasgada e devidamente quitada no céu, de modo que nós, devedores que éramos da justiça divina, pudéssemos ser liberados da nossa condição de devedores.
Em sua morte Jesus é o nosso Sacrifício, e em sua ressurreição e ascensão ao céu, Ele é o nosso Sacerdote e Advogado. Ambas funções são necessárias para a nossa redenção, e por isso elas se encontravam prefiguradas na Lei, onde nenhum sacrifício teria valor caso não fosse apresentado na presença do sumo sacerdote de Israel, e também no tabernáculo, e quanto ao sacrifício que era oferecido pelo pecado de toda a nação no dia da Expiação, o sangue teria que ser apresentado no Santo dos Santos, e deveria ser aspergido sobre o propiciatório da arca da aliança, que representava a presença de Deus. Assim, também nosso Senhor se apresentou como nosso Sumo Sacerdote no céu para apresentar o sangue do seu sacrifício na presença do Pai no Santo dos Santos celestial. Isto é devidamente explicado na epístola aos Hebreus.
Nenhum de nós poderia ter a plena justificação que nos dá o direito de acessarmos diretamente ao Pai, caso não tivéssemos a nosso Senhor Jesus Cristo intercedendo por nós, à sua direita, como nosso Sumo Sacerdote. Por isso importava que ele ressuscitasse dentre os mortos para realizar a sua função sacerdotal em nosso favor, de modo que sejamos aceitos por Deus Pai.
O Pai designou antes mesmo dos tempos eternos, Tito 1.1-3, o Filho para realizar estes ofícios para o nosso benefício e para a Sua glória.
Como o ato da justificação é um ato jurídico, no qual somos os beneficiados, em razão do pagamento da fiança da nossa libertação que foi pago por nosso Fiador, e por todas os atos atributivos e imputativos para sermos considerados sem culpa e justos diante de Deus, e então poder desfrutar de tudo isto porque Jesus não apenas pagou o preço exigido em sua morte, como também, ressurgiu dos mortos para a realização de todo este aparato jurídico, necessário à nossa libertação e defesa contra nossos acusadores, agindo como nosso Advogado no céu, para garantir a nossa justificação. O apóstolo João, por isso, em sua primeira epístola ao falar de Jesus como nosso Advogado, I Jo 2.1, ele diz que ele é fiel e justo para nos “purificar de toda injustiça”, como se referindo de um modo peculiar ao ato da justificação, caso confessemos os nossos pecados, I João 1.9.
Como isto poderia ter sido feito senão pela sua ressurreição? Daí ser afirmado na Palavra que ele ressuscitou por causa da nossa justificação, ou seja, para ativá-la, para administrá-la, para não somente nos atribuir a sua própria justiça, como também para implantá-la progressivamente ao nosso caráter, por nos fazer participantes de sua própria vida e virtudes.
Daí a grande certeza do apóstolo ao indagar: Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? Quem os condenará? E então apresenta o argumento final: eles estão justificados e é Deus quem os justifica desta forma jurídica incontestável, quer perante toda a Terra, quer perante o céu, ou até mesmo perante o próprio inferno.
O plano de justificação dos pecadores é perfeito e completamente seguro, de forma que também é segura a salvação daqueles que são justificados por meio da fé em Cristo.
Não há neste plano divino qualquer brecha que possa dar ocasião a uma apelação ou ação por parte de tudo e todos que tentem anular o direito que Cristo conquistou para os justificados, de modo que eles podem repousar seguros que este direito nunca poderá lhes ser negado ou retirado, ainda que parcialmente.
“por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior aliança.” (Heb 7.22).
Tão perfeito é o ato da nossa justificação, que se diz que nosso Senhor aparecerá uma segunda vez em sua volta, sem pecado, Heb 9.28, ou seja, a justificação garantirá a nossa perfeição espiritual por ocasião de sua volta, de tal forma, que não haverá nenhuma necessidade que ele carregue de novo os nossos pecados sobre si, como fizera em seu primeiro advento, para que pudéssemos receber esta justificação. Assim, aparecerá sem pecado, não que tivesse pecado antes, ou que estivesse com algum pecado no céu, mas sem a necessidade referida de fazer expiação pelo pecado em nosso lugar, uma segunda vez. Daí se dizer também, que tendo ele “ressuscitado dentre os mortos, já não morre mais”, Rom 6.9, ou seja, pela perfeita justificação que ele operou em nosso favor, jamais haverá necessidade de qualquer outra expiação que demandasse que ele morresse de novo pelos pecadores. E também se diz, que com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados, Heb 10.14.
Agora, todo este argumento da Palavra de Deus em favor da ressurreição de nosso Senhor como prova e causa da nossa justificação, encoraja e aumenta a nossa fé nele. Aumenta também a nossa gratidão e amor. Porque ainda que não cheguemos a ter um conhecimento pleno da real profundidade deste maravilhoso plano de salvação, ele funcionará para todos os que creem em Cristo, independentemente do citado conhecimento pleno.
Mas bem faremos em aumentar no conhecimento desta graça e do Senhor, conforme nos exorta a própria Palavra, para que jamais nos desviemos da Rocha na qual somos firmados por meio da fé.
“Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno.” – 2-Pedro 3:17-18