Ira: um pecado ou uma virtude?
como evitar que a fome de
justiça se torne em sede de vingança
“Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo”. Efésios 4:26-27
Introdução: Quem nunca se irritou alguma vez com alguma pessoa ou com alguma coisa? Se você nunca se irritou com nada e com ninguém, então seu problema é maior ainda, pois se não peca ao irar-se, peca por não irar-se, se tornou indiferente. Mas será que a ira é uma virtude a ser cultivada ou um pecado a ser evitado? A resposta a essa pergunta depende da resposta que damos a outra pergunta – “o que nos deixa irritados?”. Se o que nos deixa irritados é o menino atrapalhando o trânsito e pedindo uma moeda e não o sistema corrupto que permite que crianças sejam colocadas nessa situação, nossa ira é um pecado e não uma virtude. Mas, mesmo uma ira santa em sua motivação pode se tornar uma ira pecaminosa em sua expressão, o que exige que o assunto seja tratado com temor e tremor. Não se trata de um assunto complicado, apenas complexo, ou seja, mais do que conhecimento sobre o assunto (explicação), precisamos de entendimento do assunto (revelação). Nesse estudo trataremos de duas questões, a primeira é a diferença entre ira e raiva e a segunda tratará de como se irar sem ficar com raiva.
I. Como discernir entre a ira e a raiva – quando a ira é uma virtude e quando a ira se torna um pecado
“O homem de grande indignação deve sofrer o dano; porque se tu o livrares ainda terás de tornar a fazê-lo”. Provérbios 19:19
1. A ira deixa de ser uma virtude para se tornar um pecado quando sua motivação é errada – a ira é tanto um efeito quanto uma causa de outro pecado. Ela pode ser originada do orgulho ou da inveja e originar o ódio, a murmuração e o ressentimento. Não há como haver um fruto bom de uma raiz ruim. Lembre-se que Deus nos julgará pelos nossos anseios e não simplesmente pelos nossos feitos. Tudo o que não nasce do amor é pecado: a ira se torna cólera, a coragem em atrevimento etc.
2. A ira deixa de ser uma virtude para se tornar um pecado quando sua expressão é errada – como já foi dito na introdução, mesmo uma ira santa em sua motivação pode se tornar uma ira pecaminosa em sua expressão. O modo como expressamos a ira é tão importante quanto aquilo que a motivou. Se a expressamos com xingamentos, murmurações e agressões, ela é pecado!
3. A ira deixa de ser uma virtude para se tornar um pecado quando seu alvo é errado – Jesus disse que qualquer que se irar contra seu irmão comete pecado, isto é, o que é relevante perante Deus não é tanto o porquê nos iramos, mas contra quem nos iramos. Precisamos atacar o mal e não o malvado. Precisamos odiar o pecado, mas continuar amando o pecador. É necessário desassociar o pecado do pecador.
4. A ira deixa de ser uma virtude para se tornar um pecado quando sua finalidade é errada – desejamos suprimir um mal para que um bem seja preservado? Nosso objetivo é defender a glória de Deus ou nossa reputação? Os fins revelam os meios e os princípios!
5. A ira deixa de ser uma virtude para se tornar um pecado quando sua medida é errada – muitas vezes nossa ira é desproporcional ao que a provocou. Às vezes demonstramos uma grande ira por um problema pequeno. O colérico leva tudo a sério, tanto as coisas relevantes como as insignificantes, e por isso perde de vista aquilo que é realmente importante!
6. A ira deixa de ser uma virtude para se tornar um pecado quando seu momento é errado – a hora certa para se confrontar alguém é fundamental. Discutir com quem está irado é a mesma coisa de tentar apagar um incêndio com gasolina!
7. A ira deixa de ser uma virtude para se tornar um pecado quando sua duração é errada – breve é o único tempo admitido para a ira. Lembro-me da história de dois irmãozinhos que haviam brigado e sua mãe disse a eles que não poderiam deixar que o sol se pusesse sobre a ira deles. Mais tarde, ao passar pelo quarto de um deles, ouviu uma oração que dizia o seguinte – “Deus, assim como fizeste para seu servo Josué, impeça o sol de se pôr hoje, porque estou com muita raiva de meu irmão e não quero perdoá-lo!” – nós podemos não orar dessa maneira, mas nossas atitudes revelam o mesmo desejo daquela criança!
Reflexão: “Existem aqueles que facilmente se iram e dificilmente se deixam apaziguar, outros que facilmente se iram e facilmente se deixam apaziguar, aqueles que dificilmente se iram, mas dificilmente se deixam apaziguar e também outros que dificilmente se iram, mas que facilmente se deixam apaziguar. Este último grupo é o daqueles que precisamos imitar!”
II. Como se irar sem ficar com raiva – como lidar com a ira e os irascíveis
“Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”.
Tiago 1:19
1. Para que a ira esteja sob controle é preciso não confundir traço de personalidade com perversão de caráter – a ira precisa ser uma reação e não uma norma de vida! Precisamos parar de arranjar desculpas para nosso comportamento e procurar perdão para nossas atitudes! A ira é mais do que um simples sentimento, pois tem um elemento chamado vontade anexado a ela. Você já percebeu que nos iramos com nossos familiares, mas não com nosso patrão! Ofendemos os mais frágeis que nós, mas nos resignamos frente aqueles que têm mais autoridade que nós! Isso prova que a ira não é uma reação involuntária de nosso temperamento, mas algo produzido por um caráter afetado pelo pecado! Nosso temperamento influencia nosso comportamento, mas não o determina! Precisamos parar de confundir o normal com o comum! Não é porque todo mundo se comporta de uma maneira ou porque sempre temos agido e reagido de um modo que isso se torna normal. O fato de todo mundo começar a andar plantando bananeira tornaria isso normal?
2. Para que a ira esteja sob controle é preciso não confundir paciência com passividade – mansidão não significa ser frouxo. Paciência não é sinônimo de passividade. Precisamos que nossa capacidade de suportar o mal dos outros seja maior que a capacidade dos outros em infringir-nos o mal! Temos que andar a segunda milha, para que os que nos fazem sofrer se cansem! Muitas vezes a falta de ira em nós é sinal de indiferença e não sinal de um espírito tranquilo! Não somos resultado daquilo que fazem conosco, mas do que fazemos com aquilo que fizeram conosco! A paciência é dinâmica e não passiva, pois implica na sabedoria de saber quando e como agir! Mansidão não é fraqueza, é simplesmente o poder de não se usar o poder!
3. Para que a ira esteja sob controle é preciso entender que o autocontrole só é possível sob o controle do Alto – não basta ter o Espírito residindo em nós, é preciso ter o Espírito presidindo em nós, ou seja, não basta possuir o Espírito é necessário ser possuído pelo Espírito! Lembre-se que o filho do trovão foi capaz de se tornar o apóstolo do amor! Numa vida controlada pelo Espírito as situações que nos provocam a ira se transformam em ocasiões de confiarmos em Deus e em sua justiça!
4. Para que a ira esteja sob controle é preciso entender que a ira não pode ser eliminada, mas deve ser controlada – Moisés, um assassino se tornou o homem mais manso da terra, contudo no final de sua vida, o pecado que ele acreditava ter eliminado, ressurgiu com tamanha força que o privou de ter acesso à terra prometida! Enquanto estivermos nesse mundo, precisamos nos lembrar de que ele é campo de batalha e não lugar de lazer! No que se refere ao pecado gozamos de períodos de trégua, mas nunca de solução definitiva! Um pecado adormecido não é o mesmo que um pecado extinto! O pecado pode estar oculto, mas nunca ausente!
5. Para que a ira esteja sob controle é preciso saber que ganhar uma discussão pode significar a perda da comunhão – queremos ganhar uma discussão ou ganhar um irmão? Queremos estar certos ou ser abençoados? Lembre-se que uma palavra branda desvia o furor, mas uma palavra áspera aumenta o furor.
6. Para que a ira esteja sob controle é preciso entender que um problema meio resolvido é um problema mal resolvido – não basta evitar a manifestação da ira, temos que lidar com sua fonte! Mudar o comportamento sem mudar o coração só piora o problema, porque eliminamos o sintoma, mas continuamos com a doença! Davi derrubou o gigante com a pedra, mas cortou a cabeça dele com a espada. Não deixou o serviço pela metade. Derrubar o gigante sem cortar sua cabeça é dar a ele a chance de se levantar e nos destruir!
7. Para que a ira esteja sob controle é preciso saber que o perdão pode custar muito, mas a falta de perdão custará muito mais – a melhor maneira de nos livrar de um inimigo é fazê-lo nosso amigo e isso só o amor cristão é capaz de fazer! O amor cristão não ama o outro por que ele é amável, mas para torna-lo amável! Perdoar pode ser difícil, mas não é impossível! Qualquer um é capaz de se irar, mas capaz do perdão só aquele que é nascido do Espírito!
Reflexão: “Pagar o bem com o mal nos faz parecidos com o Diabo. Pagar o mal com o mal nos faz parecidos com nossos inimigos. Pagar o bem com o bem nos faz parecidos com qualquer um. Mas, pagar o mal com o bem é a única prova de que somos parecidos com Deus!”