Um texto que poderia ser pensado relativamente ao título seria o de Mateus 5.3, vertido muitas vezes como “bem aventurados os humildes de espírito…”, mas, a palavra grega no original é ptochoi, que significa pobre, conforme também empregada em várias outras passagens do Novo Testamento. Pobre, no sentido de reconhecer-se desprovido da glória de Deus, e completamente necessitado do ouro refinado da graça de Jesus, para ser enriquecido espiritualmente.
Todavia, como tal condição conduz necessariamente a nos tornar humildes diante de Deus, pode-se dizer que a expressão traduzida como humildes de espírito é correta. A humildade é a condição requerida por Deus para que possa nos exaltar, sem o perigo de nos tornarmos arrogantes e orgulhosos.
Quando conscientes da nossa real condição, e desprovidos da graça de Jesus, estamos preparados para receber os dons de Deus sem o perigo de deixar de Lhe atribuir toda a honra, louvor e glória.
Temos o exemplo supremo e insuperável de humilhação na própria pessoa de Jesus Cristo, que sendo o Criador e soberano sobre tudo e todos, rebaixou-se a ponto de se fazer homem, gerado segundo a carne no ventre de Maria, sem ter sequer onde reclinar a cabeça. Foi perseguido e escarnecido, rejeitado e crucificado; e tudo isso para efetuar a obra da nossa salvação.
De igual modo, todos os que Lhe pertencem são chamados a compartilhar da Sua humilhação e sofrimento, carregando cotidiana e pacientemente a cruz que lhes está designada por Deus, como sendo a porção deles neste mundo, pois importa que em tudo sejam conformados ao seu Salvador e Senhor.
Além disso, em nosso caso, a auto-humilhação possui o efeito benéfico de nos colocar no nosso devido lugar de criaturas dependentes de Deus, pois somos dados naturalmente à auto-exaltação, por causa do pecado que opera em nossa natureza terrena.
A humildade é uma virtude comparativa, ou seja, ela se manifesta quanto ao que sentimos em relação a outros. Geralmente, por um engano do pecado, somos levados a pensar que somos mais qualificados do que os nossos semelhantes. Todavia, deveríamos nos comparar sempre com Cristo, para vermos qual é de fato a nossa real condição.
Assim, somos exortados a considerar os outros superiores a nós mesmos, para que não incorramos neste grave pecado de soberba e presunção.
Lembremos sempre, que foi por causa da exaltação que Satanás e os anjos que o seguiram, que caíram do seu estado original se transformando em demônios; inimigos de Deus e da verdade.
Assim, Deus sempre rebaixará aqueles que se exaltarem, seja para a perdição eterna, como no caso do diabo e os demônios; como no caso dos homens que morrem resistindo a Cristo; ou seja, para correção, no caso de crentes que se permitem deixar-se dominar por este pecado de auto-exaltação.
Não é lícito que louvemos a nós mesmos, nem devemos andar à procura do louvor dos homens, senão somente do de Deus. Não é correto quem a si mesmo se glorifica, senão a quem Deus glorifica.
De modo que se a intenção do nosso coração é a de subir acima das estrelas, e estabelecer um trono acima de Deus, é certo que seremos derrubados para as profundezas, tal como o Senhor fizera com Satanás.
Aos pecadores arruinados que foram salvos por exclusiva graça e misericórdia, não cabe um melhor lugar do que os joelhos dobrados, com o rosto no pó, diante da sublime majestade do seu Salvador e Senhor.
Por que Deus se agrada tanto da nossa humildade?
Porque Ele é Deus verdadeiro e se agrada da verdade. O que se reconhece humilde testifica da verdade da sua condição pessoal. É isto o que convém a toda e qualquer pessoa, por maior que seja a sua força, inteligência ou riqueza.
“Jeremias 9.23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas;
Jeremias 9.24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.”