Numa certa ocasião eu ganhei um presente de aniversário diferente dos demais – e que me marcou! O irmão em Cristo que me presenteou era alguém que ganhava muito pouco por mês. Ele havia trabalhado como servente de pedreiro numa casa que eu reformei. Ele veio a mim num culto anterior ao meu aniversário, todo constrangido, dizendo que eu conhecia a sua condição financeira e sabia que ele não podia me dar o presente que ele achava que eu merecia. Tentei tranquiliza-lo, dizendo-lhe que eu mesmo não tinha como me lembrar do aniversário de tanta gente e que eu não costumava esperar isto de ninguém, mas não adiantou. Ele me disse que estávamos em posições diferentes, que ele havia aprendido sobre a importância de honrar os seus líderes, e que ele queria fazer algo especial para mim. Então, devido à sua dificuldade financeira, ele decidiu fazer ele mesmo o meu presente, ao invés de comprar um. E ele me deu uma miniatura de um navio, todo feito com palitos de sorvete e barbante!
Pensei sobre quanto tempo ele gastou para fazer aquilo e sobre o fato de que, mesmo sem dinheiro para comprar um presente, ele conseguiu tornar aquele momento especial! Emocionei-me! Percebi que eu tinha em mãos algo que valia muito mais do que os demais presentes comprados numa loja. Monetariamente falando, a avaliação daquele presente não seria alta. Mas, emocionalmente falando, valia uma fortuna, pois mais do que expressar um hábito ou rotina em circunstâncias semelhantes, aquele irmão expressou honra! Foi assim que me senti: honrado.
O verbo “honrar” significa “distinguir, fazer diferença”. E é isto o que Deus espera de nós! Muito mais do que dízimos e ofertas, Ele espera que O honremos!
“Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.” (Pv 3.9,10)
Temos aqui uma promessa de Deus… que tem o Seu “Sim” e o Seu “Amém” (2 Co 1.21). O texto de Provérbios fala de Deus suprindo abundantemente o Seu povo com a Sua provisão. Isto não se aplica somente a celeiros e lagares hoje, de forma literal, como no caso dos judeus daquela época, mas também devemos entender que Deus está Se referindo a uma provisão abundante.
A vontade de Deus é suprir as necessidades materiais dos Seus filhos. Há diversas promessas na Bíblia que se referem a isto (Sl 23.1; Fl 4.19). Contudo, isto não acontece de forma automática. Esta promessa é condicional, ou seja, não se cumpre por si só, mas depende de cada um de nós para que possa ser concretizada. O texto bíblico acima pode ser dividido em duas partes: o que nós temos que fazer, e o que Deus fará depois que fizermos a nossa parte.
Esta promessa divina é sobre provisão e prosperidade (não entenda como “riqueza”), e revela a vontade do Próprio Deus para Seus filhos. Contudo, muitos crentes sinceros não a experimentam. Acredito que isto tem ocorrido justamente porque há uma dimensão de entendimento por trás desta promessa que ainda não foi alcançada pela maioria dos crentes.
Temos ouvido muito sobre as bênçãos do dar e acredito nesta doutrina porque é bíblica. Mas, a Palavra de Deus não nos ensina somente a darmos, mas ensina também a forma certa de fazê-lo! Creio que este texto nos revela mais sobre a atitude correta que devemos ter ao darmos do que sobre a dádiva em si.
Observe que quando afirmamos que Deus responde as orações, estamos afirmando algo bíblico e verdadeiro. Mas, a Escritura Sagrada não nos ensina apenas a orarmos, mas revela também que há uma forma correta de se fazer isto. Percebemos este princípio na Epístola de Tiago, onde lemos: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal”(Tg 4.3). Logo, precisamos aprender a pedir, mas também precisamos aprender a forma certa de fazê-lo!
Acredito que o mesmo se dá com o ato de ofertarmos ao Senhor. Foi por isso que Paulo deu a seguinte instrução aos irmãos de Corinto:
“Faça cada um conforme resolveu em seu coração, não com tristeza, nem por necessidade; porque Deus ama ao que dá alegremente.” (2 Co 9.7 – Trad.Brasileira)
As Escrituras Sagradas também nos mostram pessoas como Caim, que ofertou ao Senhor, sem, contudo, ser aceito, uma vez que havia algo errado em sua atitude.
O QUE CONTA É A HONRA
O conselho que Deus nos dá por meio de Salomão é o de honrarmos ao Senhor com os nossos bens. O que está em questão aqui é a manifestação da honra, e não os bens em si. O uso dos bens é só um meio de expressarmos esta honra.
Deus não está interessado em nossas ofertas, e sim na atitude que nos leva a entregarmos a Ele as nossas ofertas. Um dos maiores exemplos disto está no que Deus pediu a Abraão: o sacrifício de Isaque (Gn 22.1-10). Na hora de imolar o filho, o patriarca foi impedido de fazê-lo, e o Senhor deixou claro que Ele só queria a expressão da honra, e não privá-lo de seu filho. Ao pedir justamente o que Abraão mais amava, o Senhor estava lhe dando uma oportunidade de honrá-Lo tremendamente.
Vemos o mesmo princípio revelado de forma inversa, quando Ananias e Safira trouxeram uma oferta de alto valor, mas com a motivação errada e recheada de mentira. O que aconteceu? Deus Se agradou? De forma alguma! Lemos em Atos 5.1-5 que o Senhor os julgou pelo que fizeram. O Pai Celestial não queria o dinheiro deles, e sim uma atitude de honra. “Honrar” significa “distinguir, fazer diferença”. Portanto, Deus deseja ser distinguido de todas as demais coisas em nossas vidas, mesmo as que temos como mais preciosas.
POR QUE DEUS ANSEIA SER HONRADO?
Sabemos que Ele é infinitamente perfeito. Logo, ele não tem nenhum problema de rejeição ou auto-aceitação. Então, por que Ele busca tanto ser honrado? Deus o faz pelo simples fato de que Ele deseja que nós sejamos abençoados! O Reino de Deus funciona por princípios. E um dos princípios que o Senhor estabeleceu é o seguinte:
“Honrarei aqueles que me honram, mas aqueles que me desprezam serão tratados com desprezo.” (1 Sm 2.30b – NVI)
Deus não está atrás de nossas ofertas, e sim da honra que deve ser expressa por meio delas. Quando a oferta não demonstra a honra que Ele espera, então ela passa a estar numa condição de não mais ser aceita pelo Senhor:
“O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? – diz o Senhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda perguntais: Em que te havemos profanado? Nisto que pensais: A mesa do Senhor é desprezível. Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será favorável? – diz o Senhor dos Exércitos. Agora, pois, suplicai o favor de Deus, que nos conceda a sua graça; mas, com tais ofertas nas vossas mãos, aceitará ele a vossa pessoa? – diz o Senhor dos Exércitos. Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis, debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oferta.” (Ml 1.6-10)
Ao instituir as ofertas, Deus esperava ser honrado por meio delas. Ele jamais buscou a oferta em si. Por intermédio do profeta Malaquias, o Senhor está nos dizendo que Ele preferia o Templo fechado a receber uma oferta que não expressasse honra. Nos dois níveis de relacionamento com Deus em que nos enquadramos (o de filho e o de servo), espera-se que haja honra. A honra não se atém à oferta em si, mas ao anseio de se expressar amor e valor ao Senhor. Encontramos o melhor exemplo deste princípio nas páginas do Novo Testamento:
“Estando ele em Betânia, reclinado à mesa em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro cheio de bálsamo de nardo puro, de grande preço; e, quebrando o vaso, derramou-lhe sobre a cabeça o bálsamo. Mas alguns houve que em si mesmos se indignaram e disseram: Para que se fez este desperdício do bálsamo? Pois podia ser vendido por mais de trezentos denários que se dariam aos pobres. E bramavam contra ela. Jesus, porém, disse: Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou uma boa ação para comigo. Porquanto os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; a mim, porém, nem sempre me tendes. Ela fez o que pôde; antecipou-se a ungir meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo que, em todo o mundo, onde quer que for pregado o evangelho, também o que ela fez será contado para memória sua.” (Mc 14.3-9)
Observe o que esta mulher fez. Certamente ela honrou ao Senhor com a sua atitude e permitiu que, por meio do seu ato, o Senhor também pudesse honrá-la. Estamos estudando acerca desta mulher por causa de um mandamento de Jesus de sempre contarmos o que ela fez. E isto não foi ordenado por Ele só para que tivéssemos o que aprender, mas para que esta mulher jamais fosse esquecida por aquilo que fez.
Se a honra que o Senhor nos concede está ligada à honra que a Ele concedemos, então podemos dizer que esta mulher, Maria de Betânia, conseguiu ir fundo em sua atitude. Em geral, este texto é usado para ilustrarmos a adoração – e eu concordo com isso – mas, o que a maioria dos crentes não percebe é que o seu contexto envolve valores materiais, e não uma expressão musical. Este é um tipo de adoração silenciosa, mas que certamente satisfaz plenamente o coração de Deus!
O que podemos aprender com esta mulher e com as pessoas que estavam naquele banquete? A primeira coisa que Deus falou ao meu coração, com relação a este texto, é que normalmente vinculamos as nossas ofertas a uma necessidade específica. Como pastor, percebo muito bem isto. Sempre que desafiamos as pessoas a ofertarem com vistas a um propósito específico, elas correspondem mais. E quero declarar que temos errado nesta matéria. Vemos exemplos bíblicos de ofertas que foram levantadas visando-se suprir uma necessidade, como foi no caso do Tabernáculo de Moisés, por exemplo. Isso em si não é errado, mas há uma mentalidade errada que entrou juntamente com a prática deste princípio: a de que sempre temos que achar um destino de utilidade justificável para a oferta!
Quando aquela mulher quebrou o vaso e derramou o perfume, ela estava praticando um desperdício. Não havia razão – diante do raciocínio humano – para se fazer aquilo. E estamos falando de uma oferta altíssima, especialmente se considerarmos a escassez que se vê naquele lar (quando Marta reclama que sua irmã Maria não a estava ajudando é porque elas não tinham servas para fazer aquele trabalho).
Trezentos denários era muito dinheiro. Um denário era a paga de um dia de trabalho. Os judeus trabalhavam seis dias por semana. Portanto, num mês de 30 dias, ganhavam cerca de vinte e seis denários (descontando-se os quatro sábados de descanso). O perfume “desperdiçado” (de segunda mão) poderia ser vendido por trezentos denários, mas talvez ele tenha custado até mais do que isso para a mulher. Isto dava mais de um ano de salário de um trabalhador normal!
Note que ninguém se importou com a oferta em si, mas com o fato de ela não poder ser utilizada da maneira esperada pelas pessoas. Da mesma forma, acredito que temos perdido a essência da oferta, que é darmos honra ao Senhor. Só pensamos na maneira em que o dinheiro pode ser aproveitado. Se a oferta for para melhorias no templo, todo mundo dá, pois isto redundará em mais conforto para quem está dando. Mas, quando se trata de ofertarmos para quem está no campo missionário, nem sempre nos sentimos tão dispostos!
Não temos nos preocupado de verdade em agradarmos ao Senhor. Muitas mensagens sobre contribuição quase parecem sugerir que “dizimar” e “investir num título de capitalização” sejam a mesma coisa. Não nego que Deus fez promessas que Ele nos abençoaria. Malaquias 3.10-12 é muito claro sobre isto. Mas o que faz com que Deus nos abençoe?
Não é apenas o dar em si, mas é também a atitude de honra que demonstramos ao darmos. Creio no princípio de dar e receber, e dedicamos um capítulo inteiro deste livro para ensinarmos sobre isto, mas tudo deve ser entendido sob a ótica da honra ao Senhor.
Há crentes que dizimam com fidelidade, mas faltam com a honra quando sonegam os impostos, pisam nas pessoas com quem negociam para ganhar dinheiro e exploram os necessitados. E ainda acham que, pelo fato de dizimarem, Deus os recompensará. O dízimo traz bênçãos enquanto está sendo uma expressão de honra ao Senhor. Mas, quando o isolamos do princípio da honra, estamos literalmente anulando a promessa do Senhor. E, o que fazemos de errado em outros aspectos da nossa vida material e financeira, acaba nos roubando, ao invés de fazer com que recebamos uma bênção divina!
Honrar ao Senhor com os nossos bens diz respeito a muito mais do que apenas dizimar e ofertar. Os dízimos e ofertas são apenas uma parte disto (se forem entregues da forma correta!). Tenho visto pessoas dando o dízimo sem provarem as bênçãos que advêm deste gesto. A bênção não está ligada somente ao dízimo, à oferta, ou ao ato de dar. Ela tem tudo a ver com a maneira com que fazemos isto. E, por falar em oferta, é preciso entender como Deus recebe honra quando praticamos este nível de contribuição…
COMO DEUS VÊ NOSSAS OFERTAS?
O Senhor vê as nossas ofertas de modo diferente do que costumamos ver. Observe:
“E sentando-se Jesus defronte do cofre das ofertas, observava como a multidão lançava dinheiro no cofre; e muitos ricos deitavam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, lançou dois leptos, que valiam um quadrante. E chamando ele os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os que deitavam ofertas no cofre; porque todos deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha para seu sustento.” (Mc 12.41-44)
Assim como no dízimo Deus estabeleceu uma proporção dos rendimentos a ser devolvida a Ele, levando-nos a darmos de acordo com o que ganhamos, assim também, no que diz respeito às ofertas, Ele considera as posses (ou o ganho) de cada um.
Este texto bíblico nos revela que uma viúva pobre deu mais do que os ricos que lançavam muito dinheiro. Para eles, aquelas grandes quantias eram trocado apenas, mas, para a viúva, significava tudo o que ela possuía para continuar a viver.
Quem honrou mais a Deus com sua oferta? Certamente foi a viúva, que deu tudo, e não os ricos. Ela demonstrou um amor genuíno. Os outros só cumpriram a sua obrigação! Infelizmente, porém, temos a mania de acharmos que a oferta só é realmente válida se fizer uma boa diferença no caixa da igreja.
Semelhantemente à mulher que quebrou o vaso de alabastro, esta viúva também não fez diferença para o caixa da igreja (figurada no Templo). No entanto, ela demonstrou honra, e é isto que importa!
Recebi certa vez uma oferta, que veio num momento de grande necessidade, no início do nosso ministério. Eu havia dito à minha esposa, na noite anterior, que se eu não visse a provisão de Deus, trazendo uma certa quantia em dinheiro para que pudéssemos prosseguir com os nossos projetos, eu pararia tudo. Na manhã seguinte, um irmão da igreja me ligou, pedindo para eu passar em seu escritório. Fui lá esperando qualquer outra coisa, menos o que recebi: a maior oferta que, até então, alguém já havia dado ao nosso ministério. Agradeci a ele e a sua família pela generosidade e comentei que nunca alguém havia contribuído com tanto ao nosso ministério. Mas, quando Deus começou a falar comigo sobre “honra”, Ele me mostrou que a minha afirmação estava errada. Ele me fez calcular a proporção do que aquela família me dera em relação a seus ganhos, em contraste com as ofertas que as pessoas que vivem com apenas um salário mínimo haviam me dado diversas outras vezes. Por este prisma, não havia dúvida: outros haviam dado mais!
Não estou subestimando a preciosa oferta que recebi naquela ocasião. Até hoje ela é um marco para a minha fé. Ela se tornou um lembrete de que nunca devo pensar em desistir do projeto que Deus me confiou, e carrego uma grande gratidão em meu coração pelo que aqueles irmãos fizeram pelo nosso ministério. Mas, assim como Jesus disse que aquela viúva pobre havia dado mais que os ricos (que deram grandes quantias), também há pessoas hoje que, embora contabilmente falando tenham dado menos, aos olhos de Deus deram bem mais!
HONRA COM BENS QUE NÃO CHEGAM AO REINO
A Bíblia fala de outras formas de se ofertar (abençoando pessoas) e que não produzem diferença no caixa e na contabilidade da igreja, mas que são vistas pelo Senhor como uma forma de honrá-Lo:
“Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, e ele lhe pagará o seu benefício.” (Pv 19.17 – ARC)
Há ocasiões em que seremos levados a agir com misericórdia e dar esmolas aos necessitados (o conceito da palavra “esmola” em nossa cultura reflete uma “ninharia”, mas o conceito bíblico não é este). Este dinheiro doado não entrará no caixa ou na contabilidade da igreja, mas Deus o recebe como se houvesse sido dado a Ele e recompensa os que se preocupam com quem é importante para Ele.
No chamado Sermão da Montanha, Jesus nos ensinou que devemos ter uma atitude de não brigarmos por causa dos bens materiais. Há momentos em que a melhor atitude é abrirmos mão do que temos:
“E ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa.” (Mt 5.40)
Deus me ensinou isto, de forma muito prática, numa situação em que eu não gostaria de ter que praticar isto. Um carro que eu tive teve um problema no motor, e procurei uma oficina mecânica que, além de retificar o motor do carro, me desse também uma garantia do seu bom funcionamento depois. Acabei até pagando mais caro do que pagaria em outras oficinas, por ter usado o critério da garantia. E com suados dois mil reais, deixei o motor “novinho”.
Três meses depois, o motor do carro fundiu na estrada e me deixou na mão. Como o guincho era muito caro, liguei para a oficina mecânica para saber se eles poderiam vir buscar o meu carro numa carretinha de transportes que eles mesmos possuíam. Para meu espanto, o dono da oficina queria cobrar mais do que o serviço do guincho! Falei para ele que eu estava naquela situação por um problema no serviço por ele prestado, e que, ao invés de querer consertar o seu erro, ele ainda estava tentando se aproveitar de mim. O homem retrucou do outro lado do telefone (separado por cerca de quinhentos quilômetros) que ele não me daria garantia alguma, que eu não tinha provas contra ele, e bateu o telefone na minha cara.
Um pouco nervoso, liguei para um irmão que é advogado e falei a respeito da situação. Ele me garantiu que eu tinha provas suficientes, o que incluía testemunhas, para cobrá-lo na justiça. Falei também com um outro irmão que trabalha no PROCON numa outra cidade. Ele me pediu detalhes, e afirmou que eu tinha a causa ganha. Entrei em contato também com um outro irmão que é fiscal da Receita Federal. Disse-lhe que o homem havia me negado a nota fiscal, mas que eu havia guardado uma cópia da ordem de serviço, e que eu tinha testemunhas do serviço prestado. Ele me garantiu que, se eu fizesse uma denúncia, eles iriam com tudo para cima do homem com um processo de sonegação fiscal.
Eu tinha tudo para me defender do que eu considerava uma grande injustiça, mas, ao orar sobre o assunto, Deus me pediu para deixar aquilo por isso mesmo. Ele me disse que haveria diferentes versões da história, e que não somente eu, mas também outros pastores seriam difamados durante o processo, e que Ele não queria que eu agisse assim. Estou falando de dois mil reais perdidos. Para mim isto não é uma quantia para se ficar jogando fora! Foi muito difícil aceitar esta ordem que o Senhor me deu. Falei para Ele que se fosse para ofertar o dinheiro na igreja, usá-lo com a minha família, ou até mesmo repartí-lo com os necessitados, eu faria com alegria. Mas fazer isto por causa de um “incircunciso filisteu” me parecia tão injusto!
No entanto, obedeci ao Senhor e coloquei a questão no altar como se fosse uma oferta a Ele. Foi então que Ele me falou fortemente ao coração que, uma vez que eu havia me disposto a honrá-Lo, Ele recebia aquele dinheiro como se eu estivesse dando a Ele! E não estou dizendo que seja errado acionarmos uma causa na justiça numa outra situação semelhante na vida de outros. Aquilo era algo pessoal entre mim e Deus. Paulo ensinou este princípio aos coríntios:
“Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, constituís como juízes deles os que são de menos estima na igreja? Para vos envergonhar o digo. Será que não há entre vós sequer um sábio, que possa julgar entre seus irmãos? Mas vai um irmão a juízo contra outro irmão, e isto perante incrédulos? Na verdade já é uma completa derrota para vós o terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes a fraude?” (1 Co 6.4-6)
Quando deixamos de lado uma causa que é um direito nosso, simplesmente para evitarmos um escândalo ou um mau testemunho, e o fazemos de coração, para que o Senhor seja honrado, mesmo que o dinheiro não vá para o caixa do Reino de Deus, o Senhor o recebe como se tivesse sido ofertado a Ele. Isto também é honrar ao Senhor com os nossos bens!
A Bíblia também nos fala de Jó, de quem o Diabo roubou todos os bens (Jó 1.12), mas que manteve uma atitude correta diante das perdas. A sua mulher lhe disse para amaldiçoar o seu Deus e morrer, mas ele demonstrou crer que o seu Redentor haveria de mudar a sua condição. E, por fim, não vemos o Diabo devolvendo o que havia roubado, e sim Deus dando-lhe em dobro tudo o que possuía! (Jó 42.10).
Acredito que se mantivermos uma atitude correta diante das perdas e se agirmos corretamente, mesmo sem ofertarmos, só por agirmos corretamente, Deus receberá isto como honra, a ponto de restituir as perdas causadas.
Também já passei por isto num acidente de carro que me trouxe uma profunda crise interior (falo mais sobre isto em meu livro “O Agir Invisível de Deus”). Mas, assim que passei a ter a atitude correta diante da perda – o que incluía não culpar a Deus, mas glorificá-Lo – pude ver a restituição do Senhor chegando em minha vida.
Precisamos aprender a honrar ao Senhor com os nossos bens e atitudes com relação a eles, porque este é um caminho que, além de agradar a Deus, nos leva a usufruirmos das Suas abundantes bênçãos!