Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“Agora nós não temos recebido o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que possamos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.” (I Coríntios 2.12)
O curso de nossa raça caída tem sido uma sucessão de fracassos. Sempre que houve um crescimento aparente, foi seguido por uma queda real. Cada vez mais na escuridão a mente humana parece decidida a mergulhar em suas lutas buscando uma falsa luz. Quando os homens se tornam tolos, eles têm dançado em um delírio de pecado. Quando eles têm sido sóbrios, eles se entregam a uma sabedoria de sua própria imaginação, que tem revelado sua loucura mais do que nunca. É uma triste história, a história da humanidade! Leia-a à luz da Palavra de Deus e isto trará lágrimas ao seu coração.
A única esperança para o homem era a de que Deus se interpusesse. E Ele tem se interposto, assim Ele tem começado uma nova criação, ou trabalhado uma ressurreição a partir do reino da morte. Deus veio à história humana e aqui as luzes começam a brilhar. Onde Deus está trabalhando com a Graça Divina, o pecado abundante é vencido, a esperança começa e o bem torna-se perceptível. Este estado melhor é sempre marcadamente o efeito de uma ruptura no curso natural das coisas, um produto sobrenatural que nunca teria sido visto neste pobre mundo caso não tivesse se manifestado em Cristo.
Eis que Deus em Cristo Jesus lança-se no caminho. Ele então se interpõe entre as rochas que descem em avalanche esmagadora sobre nós. Ele para a avalanche em seu caminho terrível. Ele arremessa para trás a massa enorme e muda todo o aspecto da história. Na interposição da Graça Onipotente notamos que o Senhor trabalha de modo a preservar a sua própria glória. Ele cuida para que nenhuma carne se glorie perante ele.
Ele poderia ter usado o poder dos grandes, mas ele não o tem feito. Ele poderia ter instruído o homem pela própria sabedoria do homem, mas ele não o faz. Ele poderia ter declarado o seu Evangelho com a excelência da fala humana, mas Ele jamais o fez ou fará. Ele tomou para suas ferramentas não a armadura de um rei, mas a canção de um pastor. E Ele não colocou o Seu tesouro de verdade no vaso de ouro de talento, mas nos vasos de barro de mentes humildes. Ele não fez com que os homens falassem por Ele sob o feitiço de um gênio, mas movidos pelo Espírito Santo. O Senhor dos Exércitos irá salvar os homens, mas Ele não vai dar aos homens um centímetro de espaço para vanglória. Ele lhes concederá a salvação que deve humilhá-los na poeira e levá-los a saber que Ele é Deus e além dele não há outro.
O Senhor nosso Deus tem trabalhado de forma paralela com a sua interposição central, que é vista na cruz onde Jesus revelou a maneira de Jeová manifestar o Seu poder na fraqueza. É por isso que o apóstolo Paulo diz: “Eu determinei nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” Ele sabia que não havia mais nada a saber. O plano da Cruz é vencer a morte pela morte, para remover o pecado. A forca com a qual Cristo morreu era o abismo de opróbrio, e no auge do sofrimento. Mas também foi o foco da Graça da interposição de Deus. Ele não foi glorificado com honra e poder, mas com vergonha e morte.
O grande auto-sacrifício de Deus é a grande vitória da Graça Divina. Amados, é mais doce pensar que todos os caminhos de Deus para os homens estão em harmonia com esta forma de Cruz e que a Cruz é o padrão do método constante do Senhor de realizar Seus desígnios da Graça, em fraqueza em vez de força, pelo sofrimento do que pelo esplendor da Sua majestade.
Permitam-me acrescentar também que esta maneira que Deus tem usado, pela qual Ele salva os homens e glorifica a Si mesmo, é inteiramente adequada para a condição daqueles a quem Ele salva. Se a salvação fosse pela excelência humana eu nunca poderia ter sido salvo.
Tal Evangelho não teria sido qualquer Evangelho para nós, por isso estaria muito fora do nosso alcance. Os planos de Deus são planos viáveis, apropriados para a fraqueza de nossa raça caída. Em Cristo, Ele vem para o homem ferido onde ele está e não lhe pergunta, em sua condição caída, para vir ao caminho correto por si mesmo. A Graça não começa no meio do alfabeto do caminho, mas é o Alfa da nossa esperança.
Meu texto fala dos dons de Deus que nos são dados gratuitamente e o propósito para o qual nos são dados.
Todas as coisas de Deus são dadas gratuitamente. Todas as bênçãos da salvação são um presente. Toda a herança da Aliança é um dom. Tudo o que vem por nosso Senhor Jesus Cristo para salvar e santificar os homens é um dom. Um presente não é algo para ser comprado. Não nos é pedido, em qualquer sentido, para trazer um preço para Deus, a fim de comprar o perdão, a justificação, ou a vida eterna. Onde a noção de compra é por um instante insinuada, é apenas para mostrar mais claramente o quão livre é a bênção, “Vinde, comprai vinho e leite sem dinheiro e sem preço.” Deus livremente dá a Sua graça, sem esperar nada em troca, mas que nós a recebamos tão livremente como Ele livremente a concede a nós.
Isto é um dom, um presente, e não um prêmio. Há prêmios (galardões) celestes a serem distribuídos, pelos quais devemos lutar e obter com a ajuda Divina. Há uma retribuição que buscamos e uma coroa pela qual devemos lutar, mas a Graça Divina que perdoa o pecado e opera por fé não é prêmio para o esforço, mas sim um presente para aqueles que não têm força. “Não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia.” Jeová terá misericórdia de quem Ele tiver misericórdia, e Ele terá compaixão de quem Ele tiver compaixão, segundo o beneplácito de sua própria vontade. A salvação não é concedida aos homens, como resultado de tudo o que são, ou fazem – é dom imerecido dos Céus. Se fosse de obras, não seria de graça divina. Mas é por fé para que seja somente pela Graça Divina.
Oh crente, se o seu pecado é apagado, ele nunca pode ser escrito de novo! Deus declarou que Ele perdoou as nossas transgressões. E então Ele acrescenta: “dos seus pecados e de suas iniquidades não me lembrarei mais.”
O poder de compreender a Cristo não está na nossa natureza em sua própria força e bondade. Nosso estado é o da morte, e a morte não pode compreender a vida. Deus, o Espírito Santo deve dar vida a nós antes que possamos subir da sepultura de nossa depravação natural e apegar-nos a Cristo, que é a nossa vida. Não é da natureza humana não regenerada ver o reino de Deus, e muito menos entrar nele. “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus.” O poder de receber as coisas de Deus não está em nossas realizações. De fato, grande talento e grande aprendizado muitas vezes perdem o caminho onde a humildade viaja com facilidade. Não se sente e diga: “Eu sou um pobre ignorante e não posso ser ensinado por Deus. Eu não posso saber essas coisas preciosas”. Não é assim. Leia as palavras de Paulo no primeiro capítulo desta epístola, “Vejam a sua vocação, irmãos, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.” O poder de receber as bênçãos de Deus não está no talento, mas ele está no Espírito de Deus.
“Bem”, diz alguém, “mas certamente devemos passar por um período de grande angústia e aflição para que possamos receber as coisas de Deus.” Muito frequentemente os homens sofrem com um sentimento de culpa e medo de punição antes de lançar mão de Cristo. Mas eles não lançam mão de Cristo por esta experiência. O homem ferido não é restaurado por suas dores, o homem faminto não é alimentado por sua fome. O poder de prendê-lo a Cristo é um poder espiritual, que deve ser dado de cima. Ele não está escondido no nosso interior, mas é implantado pelo Senhor de fora para dentro.
O poder receptivo não é concedido pela emoção humana, nem pelo poder de oratória do pregador, a quem o homem ouve. Você vai crer em Jesus Cristo, quando o Espírito Santo levá-lo a vê-lo como seu Salvador e digno de sua confiança. Você nunca vai crer nele, se você estiver olhando para si mesmo para ter o poder de acreditar, senão pela própria Verdade e pelo Espírito Santo que pode tornar a Verdade clara para você e operar em você para querer e fazer segundo a boa vontade de Deus.
Venham, então, queridos corações, que se sentem tão frios e mortos e tão sem força que vocês não podem fazer nada – lembrem confiantemente que o Espírito Santo pode capacitá-los para receberem todos os dons de Deus.
Você está procurando a salvação? Mantenha-se afastado do espírito do mundo, tanto quanto possível. Lembre-se que o mundo religioso é mais perigoso, de longe, que o mundo sensual. Ele veste a pele de cordeiro, mas tem toda a ferocidade do lobo. Você não pode esperar que o Espírito de Deus possa abençoá-lo se rendendo ao espírito do mundo. Não se meta com o que é duvidoso. Há obras de ficção hoje em dia em abundância, cuja tendência está poluindo – o mundo está encharcado com elas. Evite-as como se fosse um banho de ácido.
Se você quiser encontrar a vida eterna, vá para onde o Espírito de Deus opera – examine as Escrituras e ouça a Verdade de Deus através da qual o Espírito de Deus opera normalmente. E associe-se com aqueles em quem o Espírito de Deus habita. Ouça a pregação que vem de Deus, porque somente ela vai levá-lo a Ele.
Se você ainda deseja saber mais sobre a preciosidade infinita dos dons de Deus, isto é uma ambição sábia. E vai ser plena e livremente satisfeita pelo Espírito Santo. Recorra a Ele, pois é o grande Mestre. Não há professor como Ele. Seu conhecimento supera todos os outros, pois conhece a mente de Deus. Nenhum homem pode comunicar-lhe o que ele não sabe e ninguém conhece a mente de Deus, senão o Espírito de Deus. O Espírito Santo conhece o infinito e o insondável. E, portanto, Ele é capaz de ensinar o que você não pode aprender em outro lugar. A mente e o significado de Deus em todo o dom da graça, o Espírito pode revelar a você. O Espírito Santo fala à alma e escreve as linhas de verdade nas tábuas de carne do coração, de modo que elas nunca podem ser apagadas.