“Irmãos, rogo-vos que sejais como eu, porque também eu sou como vós; nenhum mal me fizestes. E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne; E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo. Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis. Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?” (Gál 4.12-16).
Paulo roga humildemente aos crentes da Galácia como um pai que insta com seu filho perdido a voltar ao mesmo bom caminho em que andava antes da sua perdição.
Ele havia desabafado no verso 11 dizendo que estava perplexo com o que eles haviam feito, e receava então que estivesse trabalhando em vão em relação a eles.
Mas como que lembrando imediatamente da condição deles de terem sido feitos filhos de Deus, tal como ele havia sido feito também, ele desce ao nível deles, não no que se refere ao pecado, mas da miséria deles, e por um momento também se sente miserável com eles, ante a impotência de poder fazer por si mesmo algo em relação a eles, de modo que todo o seu trabalho e cuidado não se tornasse infrutífero.
E assim lhes fez recordar quão grande era o afeto que eles tinham por ele quando lhes pregou o evangelho pela primeira vez, e como lhe haviam tratado tão bem, mesmo diante da sua fraqueza na ocasião, provavelmente em razão de alguma possível enfermidade, pois lhes disse que estavam dispostos até mesmo, se possível fora, a arrancarem os seus próprios olhos para lhos darem.
Ou isto foi o resultado de ferimentos produzidos pelo apedrejamento que ele havia sofrido dos judaizantes naquela região. O livro de Atos conta detalhes do que ocorreu ao apóstolo quando pregava o evangelho nas cidades da Galácia (Perge, Derbe, Listra, Antioquia da Psídia e Icônio).
Aquela fraqueza quanto à sua incapacidade e impotência pessoais, serviram aos propósitos de Deus, porque o poder de Cristo, e a Sua graça, se aperfeiçoam na nossa fraqueza. De modo que quando somos fracos então é que somos fortes, porque trocamos a nossa incapacidade pelo poder do Espírito Santo, que nos assiste nas nossas fraquezas.
Deste modo, Paulo introduz esta seção da epístola chamando a todos os crentes gálatas de irmãos.
Ele quer demonstrar que apesar de apóstolo de Cristo ele não se envergonha de chamá-los de irmãos, desde o maior até o menor deles, assim como o nosso Salvador também não se envergonha de nos chamar de irmãos, apesar de ser o nosso Senhor.
No amor cristão as diferenças se dissolvem.
Assim como Cristo se rebaixou deixando a glória dos céus, por amor, também devemos nos humilhar para que possamos ser úteis àqueles que se encontram em necessidade espiritual, que é comum a todos nós.
Não devemos lhes falar do alto da nossa autoridade e importância (que na verdade nem é nossa, caso a tenhamos, mas de Cristo), porque esmagaríamos a cana quebrada e apagaríamos o pavio fumegante, e certamente não é este o ministério do Senhor Jesus neste mundo, porque tem se compadecido das nossas misérias espirituais.
E quando o próprio Paulo havia pregado o evangelho em fraqueza, os gálatas superaram por causa do seu amor a ele, a tentação que foi para eles vê-lo naquela fraqueza.
Eles não o desconsideraram e nem o desprezaram como possivelmente estavam fazendo agora, por causa dos argumentos dos judaizantes, porque procuravam por todos os meios desqualificar e rebaixar o apóstolo diante dos seus olhos, afirmando que se fosse verdadeiro ministro de Cristo não estaria sujeito a tantas tribulações, fraquezas e perseguições.
Os falsos apóstolos se gloriavam das suas honrarias, das suas posses e conquistas terrenas, alegando que eram bênçãos de Deus por observarem a Lei de Moisés.
E agora os gálatas não haviam conseguido vencer a tentação de considerar Paulo alguém que não era bem sucedido segundo os padrões do mundo.
Ele rogou que eles voltassem a ser como foram no princípio. Que não julgassem segundo a aparência, e que não interpretassem as tribulações como prova de um possível desfavor de Deus.
A grande preocupação do apóstolo não era com a questão de receber a honra que lhe era devida, mas com a própria condição espiritual dos crentes gálatas que estavam se desviando da simplicidade que é devida a Cristo, e sem a qual não é possível termos comunhão uns com os outros.
Paulo fecha esta seção da epístola afirmando que o que estava dizendo quanto à reprovação do que eles estavam fazendo agora, que ela não era movida por nenhum ressentimento pessoal, ou por inimizade, ao contrário, eram palavras de um autêntico amigo, porque eram a pura expressão da verdade. O amor folga com a verdade.
O amor não recorre à mentira. Que então os gálatas aprendessem a julgar segundo a reta justiça conforme convém a todo filho de Deus.
Um verdadeiro amigo prevenirá o seu irmão que estiver errando, e se o irmão errado tiver algum senso ele agradecerá ao seu amigo.
O apóstolo queria que os gálatas soubessem por que ele lhes tinha falado a verdade, para o próprio bem deles, e que não pensassem que ele os repugnava. Ele lhes falou a verdade porque os amava.