“O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).
Antes de definirmos o que é graça comum, é importante adquirir algumas noções básicas acerca do pecado e da punição decorrente do mesmo. Olhando para a Bíblia, percebemos que ela afirma que “… o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). Isso significa que todos que pecam devem receber a devida punição pelo pecado. Os anjos, por exemplo, foram imediatamente punidos depois que pecaram. Diz a Escritura que “… Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo” (II Pe 2.4).
Contudo, o que aconteceu com os anjos quando esses pecaram não aconteceu com os seres humanos. Vejamos o caso de Adão e Eva: eles pecaram e, apesar disso, não receberam a punição imediatamente (Gn 2.17). Nós também deveríamos, por causa de nossos pecados, ser imediatamente punidos; entretanto, ainda estamos vivos. Qual é a razão disso? O que leva Deus a não aplicar imediatamente a Sua justiça aos homens quando esses pecam? A “graça comum”. Graça comum é a parte do caráter de Deus que faz com que Ele dê a todas as pessoas, indistintamente, inumeráveis bênçãos.
Exemplos de graça comum
O domínio físico: Os incrédulos continuam a viver nesse mundo unicamente por causa da graça comum de Deus. Todos nós respiramos por causa da graça, porque o salário do pecado é a morte, não a vida. Além disso, a terra não produz somente cardos e abrolhos (Gn 3.18), nem permanece como um deserto ressecado, mas pela graça comum de Deus ela produz alimento e material para roupa e abrigo. Jesus disse: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos de vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5.44,45). De modo semelhante, Paulo declarou às pessoas de Listra: “… nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos; contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria”. (At 14.14-17).
Além disso, vemos evidências da graça comum de Deus até na beleza do mundo natural. Embora a própria natureza esteja no “cativeiro da corrupção” e “sujeita à vaidade” (Rm 8.20,21) por causa da maldição da queda (Gn 3.17-19), ainda há formosura no mundo natural. A beleza das flores, dos gramados e florestas, dos rios, lagos, montanhas e praias ainda permanecem como um testemunho diário da incessante graça comum de Deus.
O domínio intelectual: O pecado corrompeu os anjos caídos de maneira imediata e completa. Satanás, por exemplo, segundo a Bíblia, é “mentiroso e pai da mentira”. Ele é alguém em quem não há qualquer verdade (Jo 8.44). Mas o que acontece com os anjos caídos não acontece com os seres humanos. Mesmo incrédulos não são totalmente inclinados para a mentira, para a irracionalidade e para a ignorância; todas as pessoas conseguem compreender alguma medida de verdade, e certamente alguns têm grande inteligência e entendimento. Isso é resultado da graça comum de Deus. A Bíblia diz que Jesus é “a verdadeira luz que ilumina a todo homem” (Jo 1.9). Isso significa que, em sua função como Criador e sustentador do universo, Deus permite que iluminação e o entendimento cheguem a todas as pessoas do mundo. Isso explica, por exemplo, a capacidade que o homem possui de transmitir verdades científicas e construir, através do esforço comum, automóveis, telefones e outros inventos.
O domínio moral: Deus também, por meio da graça comum, limita as pessoas para que não sejam tão más quanto poderiam ser. Se por um lado os demônios, por causa da corrupção do pecado, são totalmente devotados ao mal e à destruição, por outro lado ainda é possível distinguir algum tipo de bondade nos seres humanos. Na sociedade humana o mal é claramente controlado. Paulo fala sobre isso ao dizer: “Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (Rm 2.14,15). O ser humano possui dentro de si uma consciência que ainda guarda padrões morais de comportamento. Por causa disso ele consegue, em diversas situações, discernir o certo do errado.
O domínio criativo: Deus tem permitido medidas significativas de talento nas áreas artísticas e musicais, bem como em outras esferas nas quais a criatividade e o talento podem ser expressos, tais como atividades atléticas, arte culinária, literatura e assim por diante. Além disso, Deus nos dá capacidade para apreciar a beleza em muitas facetas da vida.
O domínio social: A graça de Deus também é evidente na existência de várias organizações e estruturas na sociedade humana. Vemos isso primeiramente na família humana, atestada pelo fato de que Adão e Eva permaneceram como marido e mulher depois da queda e então tiveram descendentes, tanto filhos como filhas (Gn 5.4). Os filhos de Adão e Eva se casaram e formaram suas próprias famílias (Gn 4.16,17,19). Além disso, o governo humano também é resultado da graça comum. Paulo, falando sobre isso ao escrever aos romanos, afirma claramente que “… não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas” (Rm 13.1).
Aplicação
Diante de tudo que vimos acerca da graça comum, é importante refletirmos e tomarmos algumas atitudes práticas:
Devemos ser cautelosos para não rejeitar as coisas boas que os incrédulos fazem como se fossem totalmente más;
A doutrina da graça comum deve conduzir o no
sso coração a uma extrema gratidão a Deus: Quando passeamos pelos campos e observamos árvores floridas e lindas cachoeiras, quando experimentamos as maravilhas tecnológicas produzidas por cientistas, quando recebemos educação e também algum tipo de segurança do governo, devemos perceber que, no final das contas, Deus é quem nos tem abençoado, mesmo não merecendo tantas e incontáveis bênçãos.
Artigo extraído do site www.diantedotrono.com