Artigo de Por John Piper, traduzido pelo Pr Silvio Dutra.
George Müller (1805-1898) proveu milhares de órfãos por meio do “princípio da fé” – o que significava que ele iria olhar para Deus e nunca pedir dinheiro diretamente a qualquer pessoa. Nem ele jamais pediu dinheiro emprestado – para qualquer coisa. Ele era conhecido por sua serena confiança na provisão de Deus, mesmo quando o prazo se aproximava e a comida era pouca.
Neste princípio da fé, ele levantou £ 110.000 para construir cinco orfanatos que acomodaram 2.050 órfãos. Em sua vida ele cuidou de 10.024 órfãos. Pelo seu exemplo, ele inspirou outros a abraçar a assistência a órfãos, incluindo Charles Spurgeon, que disse: “O Deus que assiste aos orfanatos, deixem-no ser o Senhor!”
Não tinha o dom da fé
No entanto, Müller foi inflexível quanto a que ele não tinha o dom da fé. O que ele quis dizer, e por que devemos ser gratos?
Ele disse: Não penses, caro leitor, que eu tenho o dom da fé, isto é, aquele dom de que lemos em 1 Coríntios. 12.9, e que é mencionado junto com “os dons de cura”, “a operação de milagres”, “a profecia”.
É verdade que a fé, que estou habilitado a exercer, é totalmente o próprio dom de Deus; é verdade que só Ele provê, e que somente Ele pode aumentá-la; é verdade que, momento a momento, eu dependo Dele para isto, e que, se eu fosse deixado apenas por um momento deixado a mim mesmo, minha fé seria extremamente falha; mas não é verdade que minha fé é aquele dom da fé que está citado em 1 Coríntios 12.9. (Narrative, vol. 1, 302)
Ele enfatizou esse ponto, porque ele queria que o mundo visse que Deus cumpre as promessas das Escrituras para aqueles que confiam nele. Se ele tivesse um dom especial de fé que Deus não espera que todos tenham, então, um dos grandes objetivos de Müller teria sido frustrado. Ele acreditava que ele estava dando um exemplo bíblico para todos nós.
Todos os crentes são chamados, na simples confiança da fé, para lançar todos os seus fardos sobre Ele, a confiar nele para tudo, e não apenas para fazer de cada coisa um assunto de oração, mas a esperar respostas às petições que eles têm feito segundo a Sua vontade, e em nome do Senhor Jesus.
A diferença entre graça e dom
Qual é a diferença entre esta fé incrível (que Müller chamou de “graça da fé”) e do “dom da fé” em 1 Coríntios 12.7-9, que diz: “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.
Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;”
Aqui está a resposta de Müller:
A diferença entre o dom e a graça da fé parece-me isso. De acordo com o dom da fé eu sou capaz de fazer uma coisa, ou acreditar que uma coisa vai acontecer, ou não crer naquilo que seria pecado; e de acordo com a graça da fé eu sou capaz de fazer uma coisa, ou acreditar que uma coisa vai acontecer, a respeito da qual eu tenho a palavra de Deus como o fundamento para descansar, e, portanto, a não fazer, ou não crer no que seria pecado.
Por exemplo, o dom da fé seria necessário, para crer que uma pessoa doente deve ser restaurada novamente, embora não haja nenhuma probabilidade humana, porque não há nenhuma promessa para a sua efetivação; e a graça da fé é necessária para crer que o Senhor vai suprir as minhas necessidades, se eu procurar primeiro o reino de Deus e a sua justiça, porque há uma promessa para esse efeito. (Mateus 6.33 – Narrative, vol. 1, 65)
Esta resposta é extremamente importante. Isso significa que é esperado de cada cristão que confie em Deus para cumprir todas as promessas explícitas feitas para a igreja na Bíblia. Seria pecado não acreditar nelas. Mas é não pecar não crer que Deus vai fazer uma coisa que não é explicitamente prometida na Bíblia – como curar sua esposa, Mary?
Orou pela sua cura, pregando em seu funeral
Então, como ele confiou em Deus quando orou pela cura de sua esposa quando ouviu que ela tinha febre reumática? Será que ele tinha o “dom da fé” para ela? Não, ele não tinha. Mas ele tinha fé como ele orou – grande fé. Ele pegou uma promessa na Bíblia e ele acreditou. Aqui está como ele descreveu aquela fé:
A última parte da Escritura que eu li para minha preciosa esposa foi esta: “O Senhor Deus é sol e escudo; o Senhor dará graça e glória. Nenhuma coisa boa ele negará aos que andam na retidão.“ (Salmo 84.11). Eu disse a mim mesmo, no que diz respeito à última parte, “nenhuma coisa boa ele negará aos que andam na retidão” – Eu sou em mim mesmo um pobre pecador sem valor, mas eu fui salvo pelo sangue de Cristo; e eu não vivo em pecado, eu ando em retidão perante Deus. Portanto, se ele é realmente bom para mim, minha esposa querida será levantada novamente; doente como ela está. Deus vai restaurá-la novamente. Mas se ela não for restaurada novamente, então isto não seria algo bom para mim. E assim o meu coração estaria descansado. Ficaria satisfeito com Deus. E tudo isso brota, como eu já disse muitas vezes antes, de tomar Deus em Sua Palavra, acreditando no que ele diz. (Narrative, vol. 2, 745)
Ela morreu em 06 de fevereiro de 1870. Müller tinha 64 anos. Ele nunca vacilou na sua fé. Ele pregou no funeral de sua esposa o Salmo 119.68: “Tu és bom e fazes o bem”. Ele contou como ele pregou para si mesmo quando ela estava morrendo: “Se Deus quiser tomar minha querida esposa, isto vai ser bom, como Ele mesmo é bom. O que eu tenho que fazer, como Seu filho, é estar satisfeito com o que meu Pai faz, para que eu possa glorificá-Lo.” (Narrative, vol. 2, 399).
Esta resposta significa que a fé de Müller para os órfãos era o mesmo tipo de fé que ele tinha para sua esposa. Se é bom que os órfãos tenham ovos no café da manhã, a oração de Müller para ovos será respondida. Mas se não, Müller irá assumir que a sua oração foi respondida de uma maneira que é melhor do que ovos. Os ovos podem falhar. Deus nunca falha. Porque os ovos não foram prometidos.
O que foi prometido na Bíblia é “as necessidades da vida.” “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas [comida, bebida, roupas] serão acrescentadas” (Mateus 6.33). Deus sabe quanta comida, bebida e roupas são “necessárias” para nós – assim como ele sabia o que era “bom” para Mary e para o próprio Müller. Ela morreu.
Mas, perguntamos, Deus não promete na Bíblia que tudo que nós pedirmos a Deus crendo, nos será dado? E não quer isto significar que, no entendimento de Müller, a graça da fé, que seria pecado se nós falhássemos em confiar em Deus para nos dar tudo o que pedimos? Isto é, de fato, a “palavra da fé” – nome com que os curandeiros compreendem a Escritura). Müller não via dessa forma.
Mas porque não? Em Marcos 11.24 Jesus diz: “Tudo o que pedirdes em oração, crede que recebestes, e será assim convosco.” Então, sim, é verdade que não há nenhuma promessa específica na Bíblia que sua esposa Mary seria curada. Mas há uma promessa de que “tudo o que pedirdes” seria concedido, se você acreditar. Não está a cura de Mary incluída no “tudo o que”?
Müller diria que não. Ele sempre disse que a oração que podemos crer em Deus deve ser “de acordo com a vontade de Deus” – o que significa a vontade soberana de Deus – o que, na verdade, Ele quer fazer. Como se diz em I João 5.14,15: “E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos.”
Note que João diz: “tudo o que pedimos” (as mesmas palavras que Jesus usa em Marcos 11.24), pelas quais já tinha limitado a pedir coisas que estejam de acordo com a vontade de Deus. Assim, a palavra “qualquer” não é absoluta. Ela é limitado pelo contexto. Da mesma forma, o contexto de Marcos 11.24 limita a palavra “qualquer” como Jesus a usou.
O versículo seguinte (Marcos 11.25) afirma que “tudo o que pedirdes” tem limites. Jesus diz: “E quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas.” O que implica claramente que você não receberá respostas ao seu pedido de perdão se você for uma pessoa implacável (veja também Mateus 6.14,15). “O que quer que” não inclui as coisas boas que Deus tem a intenção de reter – como o perdão do implacável.
Como Müller definiria o “qualquer” de Marcos 11.24? Eu acho que ele diria: “Isso significa crer em Deus implicitamente e sem duvidar de tudo o que ele prometeu em sua Palavra.” Essa perspectiva só é tão radical como que para torná-lo totalmente diferente do mundo. Você não vai estar ansioso. Você não vai ficar amargurado com decepções. Você saberá que nenhuma coisa boa será negada aos que andam na retidão (Salmo 84.11). Ele sempre fará o que é bom para aqueles que o amam (Romanos 8.28). Ele sempre proverá todas as suas necessidades (Filipenses 4.19). Müller realmente acreditava nessas promessas. Deus estava contente e respondia.
Ele fez sua vida ser um exemplo para nós. E ela foi. Senhor, concede que esta graça da fé seja sempre a nossa maior porção.