Na introdução desta seção de I Timóteo Paulo afirma que alguns haviam se desviado, na Igreja de Éfeso, da verdadeira fé, da boa consciência, e consequentemente do amor de Deus, porque ele é o resultado da afirmação da sã doutrina na vida, quando se tendo uma boa consciência para com Ele, firmada não nos nossos próprios critérios de vida, mas nos que Ele nos ensina na Sua Palavra.
Deus é puro espírito, com atributos santos e perfeitos, de modo que não podemos permanecer nele participando da sua natureza divina, quando nos falta pureza de coração, que exige de nós fé e boa consciência.
O apóstolo cita o motivo deles terem se desviado: entregaram-se a discursos vãos, substituindo a vida espiritual que é baseada nas operações transformadoras da graça nos corações, mediante o poder do Espírito, segundo a prática da sã doutrina, por uma especulação filosófica, legalista e moralista baseada no uso indevido da Lei.
Eles estavam afirmando a salvação e a santificação pelo simples uso da lei, e sabemos que não é o próprio homem que salva e que se santifica a si mesmo, senão que isto é decorrente da operação sobrenatural do Espírito Santo.
O cumprimento da lei não é porventura o amor? (Rom 12.10).
Deste modo, tudo o que tende a enfraquecer o nosso amor a Deus ou aos irmãos, tende a derrotar a finalidade da lei, e quando isto acontece, não importa qual seja o uso que façamos da Lei, isto será sempre algo que estará fora do objetivo de Deus em relação à Igreja.
Por isso se diz que ainda que façamos muitas coisas e que tenhamos muitos dons, mas se não tivermos este amor que procede de Deus na nossa experiência diária, nada disso nos aproveitará (I Cor 13.1-3).
Não foi uma afirmação solta de Jesus a de ter dito que é o amor de uns pelos outros, que identifica os seus discípulos, porque isto significa que é somente quando estamos vivendo neste amor, que estamos de fato fazendo a Sua vontade (João 13.35), e atendendo portanto ao objetivo para o qual fomos criados e salvos.
Quando a pregação do evangelho descamba para temas que ocultem aquilo que os cristãos são em Cristo e o que eles devem viver em consequência disto, como nós encontramos por exemplo, no ensino de Jesus no Sermão do Monte, e quando não se dá a devida consideração e prática a esta verdade, o amor é lançado fora, porque é pela verdade da Palavra que é santificado e purificado o coração (João 17.17).
Um coração que não for purificado não pode amar com o amor de Deus, porque Deus é santo e amor.
Por isso Paulo afirmou no verso 5 que o amor procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé não fingida.
Como poderiam então aqueles falsos mestres da Igreja de Éfeso ensinarem estas coisas aos discípulos se eles próprios não andavam na verdade?
Como poderiam ensinar aquilo que eles não entendiam e não viviam?
Do que estiver cheio o coração a boca falará! E como poderá falar do puro e santo amor de Deus da maneira que convém, estando o coração cheio de impureza carnal e de soberba mundana?
Se a Igreja é corrompida por tais falsos mestres e pastores nós não devemos ficar surpresos com isto, porque desde o princípio foi assim.
Quando as pessoas e principalmente os ministros se afastam da grande lei do amor, não será nenhuma maravilha ver que eles estarão desviados do caminho, porque isto sempre ocorrerá quando as pessoas perdem de vista o grande objetivo pelo qual devem viver, conforme lhes foi designado por Deus desde antes da fundação do mundo.
“como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;” (Ef 1.4).
O amor a que a Bíblia se refere não é mero sentimento, e muito menos simples afeto natural, mas a unidade espiritual que é vinculada pelo amor sobrenatural ágape, que é derramado pelo Espírito Santo nos corações que são fiéis ao Senhor, e que buscam fazer a Sua vontade em obediência à Sua Palavra, por meio de uma verdadeira vida de oração e de comunhão real no espírito com aqueles que invocam ao Senhor com um coração puro, para fazer avançar os interesses do reino de Cristo na terra.
Daí a necessidade que o rebanho de Cristo seja apascentado por pastores que sejam fiéis, homens piedosos, na fé e na oração.
Pastores verdadeiramente fiéis a Cristo não são dominadores do rebanho. Não exercem domínio sobre as almas que lhes foram confiadas por Deus, isto é, se foram efetivamente confiadas, e se eles foram de fato chamados para apascentá-las.
O amor de Cristo deve governar sobre tudo e sobre todos, e não o desejo ambicioso de serem mestres de outros, para exporem o que eles pensam e não a verdade revelada da Palavra no temor de Deus.
É muito comum que muitos se intrometam no ministério pelo desejo de falar daquelas coisas das quais eles são na verdade ignorantes, porque não foram instruídos por Deus, uma vez que ou não foram chamados por Ele ou então se corromperam em sua vocação, deixando-se vencer pelo orgulho e pela presunção, esquecidos que a carne e o ego devem ser renunciados para que ensinemos a outros apenas aquilo que temos aprendido de Cristo.
Daí a exortação de Pedro aos pastores:
“ Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.” (I Pe 5.2,3).
Tentar produzir a vida de Deus com debates sobre a lei, conforme aqueles falsos mestres de Éfeso estavam fazendo, não somente não atingia o objetivo deles, como anulava o objetivo de Deus para a Igreja. Eles haviam abandonado o primeiro amor, conforme nós vemos na carta que Jesus dirigiu àquela Igreja, quando o apóstolo João se encontrava na ilha de Patmos (Apo 2.4).
Eles haviam sido repreendidos por isto.
E nós vemos aqui nesta primeira epístola de Timóteo, em conexão com Atos 20, o que havia produzido este esfriamento no amor por parte da Igreja de Éfeso.
Em razão de a da pregação e o ensino daqueles líderes desviados estarem tão centrados na lei, e somente nela, isto era indicativo de estarem decaídos da graça.
Pr Silvio Dutra