Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“A fé que atua pelo amor.” (Gálatas 5.6)
Todas as formas de justificação pelas obras humanas e as formas exteriores são deixadas de lado pelo Apóstolo. Em uma única frase ele fecha cada estrada que é moldada pelo homem e abre o caminho do Senhor, o único caminho da salvação que é pela graça mediante a fé em Cristo Jesus.
Alguns esperam ser salvos pelo ritualismo, mas suas esperanças são quebradas com estas palavras: “nem a circuncisão para nada aproveita.” Por outro lado, muitos estão confiando em sua liberdade de todas as cerimônias e colocam a sua confiança em uma espécie de anti-ritualismo, eles são atingidos pelas palavras, “nem a incircuncisão.”
Se pensarmos que as coisas exteriores irão nos salvar porque elas são biblicamente simples, vamos errar tanto quanto aqueles que multiplicam os seus cultos lindos e procissões pomposas. Paulo diz: “nem a circuncisão para nada aproveita”, mas ele não para por aí, pois acrescenta, “nem a incircuncisão.” O exterior, seja decorado ou sem adornos, seja fixo ou livre, não pode salvar – a única coisa que pode nos salvar é a fé em Jesus Cristo, a quem Deus propôs como propiciação pelo pecado.
A fé nos põe em contato com a fonte de cura e por isso a nossa doença natural é removida. Ela se apropria, em nosso favor, do resultado do serviço e sacrifício do Redentor e por isso nos tornamos aceitos nEle. Mas qualquer coisa menos do que isso deve ser deixada – isto é o rompimento do vestuário, enquanto o coração está inquebrantável – a lavagem do exterior do copo e do prato, enquanto a parte interna está cheia de imundícia. O Apóstolo, no entanto, faz mais do que simplesmente condenar outros fundamentos além do da fé, pois distingue aqui entre a fé, em si, e suas muitas imitações. Não é todo o tipo de fé que vai salvar a alma.
A verdadeira fé, sem dúvida, salvará um homem ainda que ela seja como um grão de mostarda. Mas deve ser a verdadeira fé – a prata genuína e não um mero artigo banhado em prata. “O dinheiro responde a todas as coisas”, diz o sábio, mas então deve ser a moeda corrente do reino, porque o dinheiro falso para nada servirá, exceto para condenar o homem que o tem em sua posse! A verdadeira fé nos salvará, mas falsificações irão aumentar a nossa conta e risco. A Segurança é de Deus, mas a presunção é do diabo. A prova da verdadeira fé é que ela trabalha – “a fé que atua”, diz o texto. Para o efeito, deve, antes de tudo, ser viva, pois está claro que uma fé morta não pode trabalhar. Deve haver coração em nossa fé e o sopro do Espírito de Deus nela, ou não será a fé viva de um filho vivo de Deus.
Sendo viva, a verdadeira fé não dormirá, mas deve estar desperta, uma vez que o sono é um primo da morte. A fé torna-se ativa e vigilante, e em sua atividade encontra-se muito de sua prova. “Pelos seus frutos os conhecereis” é uma das próprias regras de Cristo para os homens – conhecemos a fé por aquilo que resulta dela – pelo que ela faz por nós e em nós e através de nós. Não vale a pena ter fé, se é infrutífera. Ela tem um nome de que vive mas está morta. Se ela não funciona não pode justificar a sua posse. Um deus morto pode ser servido por uma fé morta, mas apenas uma viva, despertada e atuante fé pode agradar ao sempre vivo e operante Jeová.
“Não foi somente por palavras que custou ao Senhor comprar o perdão para o seu povo. Tampouco será uma alma restaurada somente por palavras do Salvador.”
Uma outra distinção também é apresentada, ou seja, que a verdadeira fé “opera pelo amor.” Há alguns que fazem muitas obras como o resultado de uma espécie de fé que, no entanto, não são justificados. Como por exemplo, Herodes, que acreditou em João e fez muitas coisas e ainda matou seu ministro. Sua fé funcionou, mas funcionou por medo e não por amor e ele temia a linguagem do segundo Elias e os julgamentos que viriam sobre ele se ele rejeitasse as suas advertências, e assim sua fé trabalhou através do medo.
O grande teste do funcionamento da fé salvadora é este: que “opera pelo amor.” Se você é conduzido por sua fé em Jesus Cristo por amá-Lo e assim servi-Lo, então você tem a fé dos eleitos de Deus. Você é, então, sem dúvida, um homem salvo e pode seguir o seu caminho e se alegrar na liberdade com que Cristo o libertou.
Será uma alegria para você servir ao Senhor, porque o amor é a mola mestra do seu serviço.
Então, a FÉ sempre produz AMOR – “A fé que opera pelo amor.” As duas graças divinas são inseparáveis. Como Maria e Marta, elas são irmãs e permanecem juntas em sua casa. A fé, como Maria, senta-se aos pés de Jesus e ouve as Suas palavras e então o amor vai atuar diligentemente sobre a casa e alegrar-se em honrar o Senhor Divino. A fé é a luz, enquanto o amor é o calor e em cada feixe da Graça do Sol da Justiça, você vai encontrar uma medida de cada um. A verdadeira fé em Deus não pode existir sem o amor a Ele, nem o amor sincero, sem a fé. Eles estão unidos como gêmeos siameses, e onde você encontra um pode ter a certeza de que o outro está presente.
Isso acontece por uma necessidade da própria natureza da fé. No momento em que um homem crê em Jesus Cristo, ele o adora em consequência disto. Porque confiar no Cordeiro que sangrou por nós e não amá-lo é uma coisa que não se pode imaginar!
Assim, a fé recebe as promessas e o amor alimenta o fruto delas. Ela faz isso ainda mais docemente pela familiaridade com Deus que ela gera no coração, pois a fé é o hábito de ir a Deus com todas as suas carga e volta com a sua carga removida. A fé tem a prática diária de suplicar promessas junto a Deus, falar com Ele face a face como um homem fala com seu amigo e recebe favores da mão direita do Altíssimo! A fé começa com Deus pela manhã, como Abraão fez, e caminha com Ele no campo à noite, como Isaque. A fé abriga-se com Deus como a andorinha que construiu seu ninho sob o beiral do telhado do templo. A vida da fé está em Deus, assim como a vida de um peixe está no mar.
O seio de Jesus Cristo é o travesseiro da fé e o coração de Deus é o pavilhão da fé. Porque a fé assim nos mantém perto de Deus, que nos leva a amá-Lo. Oh, pobre alma cega, se você pudesse ver Jesus, você iria amá-Lo! Vocês que mais se opõem a Ele se tornariam Seus amigos! Não é possível para um crente estar na companhia de Cristo por uma hora que seja sem sentir seu coração aquecido.
Porque a fé, portanto, faz-nos familiarizados com o nosso Senhor Divino, deve inevitavelmente produzir amor na alma.
Assim, o santo e o Salvador crescem unidos depois de anos de convivência –crescemos nEle em todas as coisas, pois é a Cabeça. Oh que nossa semelhança a Cristo seja tão clara e completa como nossa semelhança com os nossos queridos companheiros aqui embaixo! Você vê como o amor é assim nutrido na alma por uma semelhança cada vez maior de disposição. Onde quer que haja simpatia de gosto, mente, visão, e espírito, o amor torna-se forte e bem estabelecido. E, assim, a fé, por gerar em nós semelhança a Cristo, leva-nos a amar a Cristo para se tornar um grande poder na alma!
O amor deve ser livre, ele não pode ser comprado ou forçado. Se você crê, você vai adorar. Se você não crê, nunca vai amar até que você creia. Vá à raiz da questão. Não tente fazer crescer o jacinto de amor sem o bulbo da fé.
Deixe-me agora fazer uma observação – o AMOR é totalmente dependente da FÉ. “A fé que atua pelo amor.” O amor, então, não funciona por si só, exceto na força da fé. O amor é tão inteiramente dependente da fé que, como eu já disse, não pode existir sem ela! Pode haver uma admiração do caráter de Cristo, mas a emoção que a Escritura trata como “amor”, só vem ao coração quando nós confiamos em Jesus. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.” O amor a Jesus não pode existir sem a fé nEle.
Certamente o amor não pode desabrochar exceto quando a fé floresce. Se você duvidar de seu Senhor, você vai pensar em coisas duras acerca dEle e deixará de amá-lo como deveria. Se você cair em apuros e você duvidar de Sua sabedoria, ou da Sua bondade, a próxima coisa que vai ocorrer é que seu coração vai ficar frio em relação a Ele – você vai começar a pensar que seu Senhor é tirânico e cruel contigo e lutará com Ele. As duas Graças devem diminuir ou aumentar juntas! Se você alcançar uma confiança simples e infantil que se apoia em Cristo como um bebê no colo de sua mãe repousa inteiramente no seu cuidado, então o seu amor será perfeito!
Como Jesus nos amou, assim também devemos amar uns aos outros. E como Ele amou o Pai e por amor do Pai, que Ele pudesse glorificá-Lo, cumprindo a Lei e fazendo-se um sacrifício por nós, assim também, devemos estar dispostos a dar nossa vida pelos irmãos e para a glória e honra do Pai.
O amor é a essência de toda boa obra. Se há alguma virtude, zelo, consagração ou santa ousadia, sua essência é o amor. Todas as grandes obras que os heróis da Cruz apresentaram são compostas do metal sólido de amor a Jesus Cristo. Seja ela grande ou pequena, aquele que tem servido a Deus corretamente sempre trouxe para dentro do santuário uma oferenda de amor puro comparável ao ouro de Ofir.
A falta de confiança mútua na vida conjugal é a morte do amor, mas o amor expulsa qualquer suspeita relativa ao amado querido e fiel. Mesmo quando se supõe que há um erro, o amor o coloca para baixo e conclui que pode haver uma sensação de que ele está certo, pois o amor tudo crê, tudo suporta e não vai tolerar a desconfiança que sabe ser um verme no âmago do coração. Então você vê, onde há um grande amor de Cristo, que proíbe a dúvida e, assim, mata as raposas de desconfiança que estragam as vinhas da fé.
O amor a Jesus sente que seria melhor desconfiar de todos os homens e anjos do que duvidar do querido Redentor, que derramou Seu sangue para provar o seu amor! Além disso, o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo tem tormento e o perfeito amor lança fora o medo – a fé tem espaço para mostrar a sua força. O amor não aprendeu a ter medo, nem vai permitir que o trabalho da fé diminua e se torne o trabalho de um escravo.
O amor dá coragem e é ainda muito reverente – reverência familiar. Calafrios não são para os filhos de Deus – eles são chamados à íntima comunhão com o Pai celestial e o lugar de encontro deles não é no Sinai, mas no Calvário!
Oh Amado, esta é a alegria do amor, que nos traz a tão estreita comunhão pessoal com Deus em Jesus Cristo! Estamos familiarizados com Ele e confiamos nEle implicitamente. Oh, queridos amigos, confiem no seu Deus em tudo! Confiem nEle nas pequenas coisas! Confiem nEle em grandes coisas! Confiem nEle em suas alegrias para mantê-los sóbrios! Confiem nEle em suas tristezas para mantê-los livres de desespero!