A palavra “carne” (sarx, no grego) é usada no texto do Novo Testamento, tanto para designar o corpo físico natural, no qual não há inerentemente qualquer mal moral, senão o mau uso que se pode fazer do mesmo, e também, a condição da natureza terrena decaída no pecado que se opõe a Deus e à Sua vontade.
A revelação bíblica apresenta um contraste entre o que é espiritual e o que é natural e carnal, e não propriamente material, como costumeiramente ocorre ao modo de se pensar em geral.
Sendo que o carnal e o natural aqui referidos reportam, respectivamente, o primeiro ao que é pecaminoso, e o segundo ao que é pertencente à vida moral, que não é espiritual, celestial, sobrenatural e divina.
O conceito de espiritual, conforme o encontramos especialmente no Novo Testamento, transcende o de espírito, porque os anjos caídos e o espírito de pessoas ímpias não são ditos espirituais, pois esta palavra indica a condição de espíritos que são conduzidos pelo Espírito Santo de Deus, que se encontram a Ele voluntariamente sujeitos, a saber, os anjos eleitos e as pessoas que foram regeneradas pelo Espírito.
A condição do espírito pode ser tanto de luz ou de trevas. A de luz identifica os que são espirituais, e a de trevas, os que são carnais, ou seja, os que não são de Cristo e não têm, por conseguinte o Espírito.
Como a geração que viveu nos dias de Noé não atendia ao propósito da criação do homem por Deus, ou seja, viviam como carnais e não permitiam o trabalho do Espírito Santo em seus corações, então foi determinada a destruição pelas águas do dilúvio (Gênesis 6.3), como um sinal e aviso do que há de suceder a todos os que viverem como carnais, resistindo ao Espírito.
Ao homem natural não ocorre o pensamento de ter sido criado para viver no e pelo Espírito Santo. Se Deus não abrir o seu entendimento para as coisas que são espirituais e celestiais, ele jamais poderá topar com o propósito da criação da humanidade por Deus. E, não há nenhum jogo de esconde-esconde nisto; nenhuma vontade caprichosa de Deus envolvida nisto, senão a manifestação da vida eterna que está oculta em Cristo, e à qual Ele dá acesso somente àqueles que têm escolhido, e obedecem à Sua vontade.
Evidentemente, para muitos propósitos úteis e convenientes à Sua exclusiva soberania e autoridade, bem como a nós próprios, fomos criados por Deus sendo espíritos dotados de um corpo natural, colocados a viver num mundo também natural.
Por nossa relação com as realidades naturais, o nosso espírito pode ser exercitado em cuidados providenciais visíveis, que de outra forma, não poderiam ser manifestados, e importava que Deus manifestasse, segundo Seu propósito eterno, toda a Sua glória, em demonstrações de Seu amor, Sua bondade, misericórdia e justiça para com pecadores.
O homem deve se interessar em saber o que fazer, para que seja encontrado como espiritual e não como carnal, pois temos este dever da parte de Deus para que possamos agradá-Lo.
O apóstolo Paulo afirma na parte final do quinto capítulo da epístola aos Gálatas, que devemos andar no Espírito Santo de modo a não satisfazer às cobiças da carne – carne aqui considerada, como na maior parte das passagens do Novo Testamento, como sendo a nossa natureza terrena decaída no pecado, da qual devemos nos despojar pelo trabalho de mortificação do pecado, pelo Espírito Santo.
Essa vida espiritual, como já foi dito antes, não é pertencente à nossa natureza terrena, ela nos vem do Alto, descendo do Pai das luzes, e por isso, assim nos exorta o apóstolo Paulo:
“Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” (Colossenses 3.1-3)
O oitavo capítulo de Romanos e o segundo de I Coríntios discorrem sobre a verdade, de que o homem natural não tem o pendor do Espírito Santo, porque a carne (aqui também com o significado de natureza terrena corrompida pelo pecado), não pode estar sujeita a Deus. Nisto se evidencia e cumpre a seguinte palavra de nosso Senhor Jesus Cristo: “o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.” (João 14.17).
Sem conversão, permanecendo carnal, o homem não pode receber o Espírito Santo para nele habitar. Então, o que nos torna espirituais é a habitação do Espírito Santo.
Sendo feitos espirituais importa vivermos como espirituais, andando continuamente no Espírito, e não mais como carnais.
Pr Silvio Dutra