Com perguntas e respostas resumidas, voltemos nossa atenção a uma falsa doutrina que vem contaminando nossas igrejas nos dias de hoje. O “pastorcentrismo” é um retrocesso, é uma oposição a tudo aquilo que representou a Reforma Protestante (século XVI) através de Martinho Lutero.
É o sistema de seitas dentro das igrejas evangélicas onde o pastor se posiciona como “mestre” da igreja e por vezes pratica a chamada “teocracia” com pretexto bíblico. Quanto ao “mestre” da igreja vamos verificar nas Sagradas Escrituras logo a seguir e quanto à chamada “teocracia” lamentamos o uso desta expressão em ocasiões impróprias como recurso de adestramento, controle e ditadura dentro das igrejas.
A bíblia pode ser entendida como teocrática com relação aos ensinamentos de Jesus, sua autoridade e ministério e daqueles profetas e apóstolos conforme disposições, recomendações e exemplos específicos nas Sagradas Escrituras. Não se fala num “sistema teocrático” dentro das igrejas onde o pastor torna-se o soberano representante de Jesus e os membros reduzidos a servos do homem, a bíblia fala em soldado de Cristo e não do homem. O termo “teocracia” origina-se no sistema de governo onde clérigos exercem o poder direta ou indiretamente, enfim, um retrocesso ao Estado Laico.
Comecemos com a seguinte pergunta: um pastor, diácono ou presbítero tem unção especial? Não. Na verdade todos somos ungidos, a unção do sacerdócio (no Antigo Testamento) não cria hierarquia com aqueles que foram ungidos em outras funções ou por serem cristãos! Veja a unção simbólica do sacerdócio incluindo utensílios no Antigo Testamento: “Então Moisés tomou o azeite da unção, e ungiu o tabernáculo, e tudo o que havia nele, e o santificou; E dele espargiu sete vezes sobre o altar, e ungiu o altar e todos os seus utensílios, como também a pia e a sua base, para santificá-las.
Depois derramou do azeite da unção sobre a cabeça de Arão, e ungiu-o, para santificá-lo.” (Levítico 8:10-12). No Novo Testamento, o único sacerdote é Jesus: o único Mediador entre Deus e os homens. Veja: “Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre.” (Hebreus 7:28), “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9), “Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo.” (Hebreus 7:24).
Logo, não existe mais “unção do sacerdócio”. O ato da imposição de mãos não tem absolutamente nada a ver com unção de sacerdócio, veja: “Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério.” (1 Timóteo 4:14). Na verdade, a análise do versículo indica que foi circunstância específica a Timóteo sendo utilizado hoje, pelas igrejas, meramente como ato simbólico na condução do vocacionado ao Ministério da Palavra.
Agora note a unção é para todos nós, independentemente da função na igreja: “E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo.” (1 João 2:20) “E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis.” (1 João 2:27). Esta unção é para todos nós, cristãos! “E confirmou o mesmo a Jacó por lei, e a Israel por aliança eterna, Dizendo: A ti darei a terra de Canaã, a região da vossa herança.
Quando eram poucos homens em número, sim, mui poucos, e estrangeiros nela; Quando andavam de nação em nação e dum reino para outro povo; Não permitiu a ninguém que os oprimisse, e por amor deles repreendeu a reis, dizendo: Não toqueis os meus ungidos, e não maltrateis os meus profetas.” (Salmos 105:10-15). Fique atento por que o Salmo 105 costuma ser utilizado fora de contexto para dizer que um pastor é um super-humano intocável. O Salmo 105 fala sobre toda a nação de Israel, ou seja, nós por adoção.
Alguém certamente dirá algo sobre a unção especial de Saul então a pergunta é: a unção especial de Saul é uma unção de pastor? Não.
Foi unção de Rei, sistema monárquico, Saul era rei e logo a seguir foi Davi, também ungido. “Então tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e beijou-o, e disse: Porventura não te ungiu o SENHOR por capitão sobre a sua herança?” (1 Samuel 10:1). Mas e a “porção dobrada do Espírito” dada a Eliseu? Foi específico de uma circunstância, é liberalidade de Deus. Veja: “Sucedeu que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim. E disse: Coisa difícil pediste; se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém, se não, não se fará.” (2 Reis 2:9-10). Ou seja, nenhum dos dois casos se aplica a pastores.
Quanto a expressões comumente ouvidas nas igrejas como “servo que não serve, não serve”? Somos servos de pastores ou líderes religiosos? Não. Somos servos de Jesus Cristo somente! “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” (Gálatas 5:1). Um só é o Pastor e devemos reconhecê-lo: “e as ovelhas o seguem, porque conhecem a Sua voz.” (João 10:4). E quanto à hierarquia eclesiástica?
O pastor ou o diácono são superiores ao membro? Não. Veja: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4:11-12). O objetivo é o aperfeiçoamento dos cristãos, para eficiência e ordem na edificação do corpo de Cristo pois Ele é o cabeça e ninguém mais.
Agora a pergunta mais simples biblicamente, porém mais polêmica na prática dentro das igrejas: o pastor é o mestre da igreja? Não. Ele apenas lidera enquanto aprovado pelas Sagradas Escrituras e pelas ovelhas. Veja: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos.” (Mateus 23:8) “Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.” (Mateus 23:10). Deus age contra os pastores maus? Sim. Veja: “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o SENHOR. Portanto assim diz o SENHOR Deus de Israel, contra os pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, e as afugentastes, e não as visitastes; eis que visitarei sobre vós a maldade das vossas ações, diz o SENHOR.” (Jeremias 23:1-2).
Só Deus pode agir para exortar um mau líder dentro da igreja? O quê fazer quando um pastor ou qualquer outro irmão tem conduta questionável à luz das Escrituras? Simples: “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano.” (Mateus 18:15-17).
Pastores não são super-cristãos, isto não é bíblico! Nem mesmo o curso de Teologia é necessário apesar de ser extremamente recomendável. Não havia isso naquela época! Jesus não fez faculdade! Mas está escrito: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade.” (2 Timóteo 2:15-16). O texto em 2 Timóteo 2:16 está em contradição com o texto anterior em Mateus 18:15-17? Não! Esteja atento, pois alguns pregadores utilizam esta passagem (2 Timóteo 2:15-16) e algumas outras para afirmar que não se deve levantar questões acerca de lideranças da igreja, que isto é “falatório profano”.
Quando exortamos ao pastor é o mesmo que exortar ao irmão em Cristo, todos somos pecadores! Veja: “Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.” (2 Timóteo 4:1-2), observe bem o trecho que diz “repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina”, exortar e repreender conforme as Escrituras não é o mesmo que “falatórios profanos”.
Quem prega isso demonstra ser alguém que precisa estudar mais a bíblia, ou seja, não é um bom manejador da Palavra! Vale lembrar que a tarefa de Timóteo na cidade de Éfeso não era pequena. Paulo o havia deixado com o cargo de corrigir “certas pessoas” que estavam promovendo erro doutrinário (1 Timóteo 1:3). Na primeira carta, para ajudá-lo a combater estes falsos mestres, Paulo ensina a Timóteo “como se deve proceder na casa de Deus” (1 Timóteo 3:15). Embora Timóteo fosse ainda jovem (1 Timóteo 4:12), ele teria que ensinar e ordenar estes mandamentos de Deus aos irmãos de Éfeso (1 Timóteo 4:6,11,16).
Devemos ser desobedientes com as autoridades da igreja? Não. Devemos obedecer as autoridades pois “Obedecei a vossos pastores (ou “líderes” na Nova Tradução Internacional), e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.” (Hebreus 13:17) assim como também “Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores (ou “líderes governamentais” na Nova Tradução Internacional); porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus.” (Romanos 13:1), Ou seja, a lealdade aos pastores e dirigentes da igreja deve existir enquanto estes permanecerem fiéis e leais a Deus, à sua Palavra e ao Seu propósito para a igreja. Então devemos obedecer aos pastores mesmo que estejam errados? Não. Pois: “acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.”
(Mateus 7:15) e também: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.” (1 João 4:1) Ou seja, devemos ter cautela com todo aquele que prega a palavra de Deus. Levamos as bíblias costumeiramente para a igreja para conferir se o quê o pregador está dizendo está em conformidade com as Sagradas Escrituras e não para acompanhar os cultos! O pastor também é homem e está sujeito a erros como todos nós e deve ser exortado assim como também exorta aos membros. Perfeito, só Jesus!
Lembremos que “virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências” (2 Timóteo 4:3) e “Se alguém ensina alguma outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, É soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras” (1 Timóteo 6:3-4).
Também não devemos nos conformar com ensinamentos que não estão dentro do contexto bíblico e até mesmo doutrinas sem devido embasamento bíblico, pois “ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema (ou “amaldiçoado” na Nova Tradução Internacional)” (Gálatas 1:8) e ainda, quando um líder religioso admoestou aos apóstolos para não pregarem as palavras de Jesus, “Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 5:29) e o apóstolo Paulo referindo-se a dissensões dentro da igreja: “E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.” (1 Coríntios 11:19).
Em 27/04/2012.
por Herbert Heidemann
Bacharelando pela Escola Superior de Teologia do Espírito Santo
Cursos de Extensão: Arqueologia e Geografia Bíblica pelo Instituto Teológico Monte das Oliveiras, Professor de Escola Bíblica pela Faculdade Teológica Charisma, Clínica Pastoral pelo Instituto Bíblico das Assembléias de Deus do Estado do Rio de Janeiro, Simbologia Bíblica pela Faculdade de Teologia Wittenberg, Mitologia Grega e Romana pela Universidade da Pennsylvania.
“Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.” (Mateus 22:29)
OBS1: A tradução utilizada neste estudo foi Almeida Corrigida e Revisada Fiel com algumas notas entre parêntese da Nova Versão Internacional;
OBS2: Sugestões de temas polêmicos para estudo e troca de idéias podem ser enviados para o meu e-mail: [email protected] Críticas e sugestões a este ou outros estudos também podem ser enviados e eu responderei com satisfação!