“Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição;” (I Tessalonicenses 4.3)
Por mais que reconheçamos a sinceridade de zelo e esforço daqueles que creem na perfeição de santidade sem pecado, ou perfeição cristã absoluta neste mundo, e por mais que eles possam se aproximar deste alvo em suas próprias vidas, temos de ficar com o que as Escrituras ensinam e com o que a própria realidade confirma, de que não é possível atingir tal perfeição aqui embaixo.
Muitos, por um entendimento diverso daquilo que Paulo quer se referir ao dizer que o crente deve buscar estar revestido com toda a plenitude de Deus, e das palavras do próprio Cristo ao dizer que devemos ser perfeitos assim como o Pai é perfeito, pensam que isto pode ser obtido por uma segunda experiência de poder renovador do Espírito Santo, à qual costuma-se chamar de segunda bênção, além da justificação e regeneração, dando portanto à santificação não o seu caráter bíblico de processo progressivo ao longo da vida, senão uma experiência pontual que pode ser atingida por meio de consagração e oração.
É evidente que todo crente é chamado a ser diligente, e se esforçar para atingir a perfeição espiritual, pois isto lhe é colocado não apenas como um alvo para ser atingido (ainda que completamente, somente depois desta vida), mas como algo para ser observado em seu esforço e diligência em santificação, para a mortificação do pecado, e revestimento das virtudes de Cristo, pela aplicação da Palavra pelo Espírito Santo.
Agora, valer-se da verdade de que não é possível atingir a perfeição total neste mundo, para justificar um comportamento indolente, e para a não consagração da vida ao Senhor para que seja santificada, é um procedimento ímpio, pois, ainda que não seja possível obter-se a perfeição, é possível e necessário obter graus cada vez maiores de santificação, que nos levam cada vez mais para perto do citado alvo, e conforme é da vontade de Deus.
E com isto muitos pecados grosseiros são vencidos e muitas virtudes espirituais são adquiridas por aqueles que se santificam. Todavia, a perfeição absoluta não pode ser atingida aqui neste mundo porque além de termos um Inimigo invisível e astuto que sempre busca oportunidade para nos levar a pecar, carregamos ainda a antiga natureza terrena decaída no pecado, que ainda que subjugada pela mortificação, pode por vezes nos surpreender tomando vantagem, ainda que temporariamente, sobre a nova natureza celestial que recebemos por meio da fé em Jesus Cristo.
Assim, preguemos e ensinemos a santificação, porque esta é da vontade de Deus, mas nunca incorrendo nos extremos, quer da afirmação de uma santidade (perfeição) absoluta, ou da indulgência para com o pecado e o mundo, sob o argumento e desculpa de que não há afinal quem não peque.
Pr Silvio Dutra