A nossa contribuição é algo tão espiritual quanto as nossas orações; não há como separarmos estes dois assuntos em “natural” e “espiritual”. Quando um anjo do Senhor apareceu ao centurião Cornélio, ele fez a seguinte afirmação:
“As tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus.” (At 10.4)
Note que o anjo enviado por Deus disse que tanto as orações como as esmolas praticadas por Cornélio subiram igualmente perante Deus. Isto nos leva a entender e afirmar que, assim como a oração, a contribuição também é um ato espiritual!
Além disso, percebemos no texto acima o uso da expressão “para memória”, o que indica que as ofertas são um “memorial”. Quando estamos contribuindo em algum nível, isto não fica esquecido diante de Deus. É como um lembrete de que Ele tem um compromisso conosco. As Escrituras Sagradas usam com frequência esta aplicação para manter acesa a expectativa do nosso coração de que a recompensa é certa. Observe esta afirmação na Epístola aos Hebreus:
“Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos.” (Hb 6.10)
As esmolas mencionadas pelo anjo que falou com Cornélio fazem parte de apenas um dos níveis de contribuição, pois a Bíblia menciona outros dois níveis: o dos dízimos e o das ofertas:
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.” (Ml 3.8)
Assim como no caso das esmolas, os dízimos e as ofertas são apresentados a nós como coisas que também produzem um memorial perante o Senhor. O contexto de Malaquias 3 nos mostra isto:
“Então, os que temiam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve.” (Ml 3.16,17)
Quando contribuímos em qualquer um destes três níveis, estamos levantando um memorial diante de Deus. Com esta linguagem figurada, a Bíblia está declarando que o Senhor Se “lembrará” de nós para nos abençoar. A contribuição é um ato espiritual seguido de bênçãos!
Cada um destes níveis de contribuição reflete não somente a nossa consciência de “mordomia”, mas também a nossa gratidão a Deus pelo que Ele tem feito em nossas vidas.
Contribuir no Reino de Deus não é uma opção para o cristão, e sim uma responsabilidade, um dever a ser cumprido. É óbvio, no entanto, que devemos fazê-lo com amor e alegria. Embora esta deva ser a nossa atitude, isto não muda o fato de que é um dever. É como no caso do marido e sua mulher; a Bíblia ordena que o homem ame a sua esposa, e isto é um sentimento que acompanha uma atitude. Contudo, não deixa de ser um mandamento bíblico, e consequentemente, um dever a ser cumprido.
Cada um destes três níveis de contribuição (os dízimos, as ofertas e as esmolas) tem tanto um “destinatário” como um “propósito” bem distinto. É preciso saber separá-los e tratar cada um deles segundo os seus princípios.
OS DÍZIMOS
O primeiro nível de contribuição encontrado na Bíblia é o dos dízimos, a décima parte da nossa renda, consagrada ao Senhor. Este nível aparece na Bíblia como uma prática dos patriarcas, até mesmo antes de ser instituído como lei em Israel. Abraão deu os dízimos a Melquisedeque (Gn 14.20) e Jacó também fez votos de dar a Deus os dízimos de tudo o que o Senhor lhe concedesse (Gn 28.22). Portanto, os dízimos não “nasceram” como uma ordenança, e sim como um ato espontâneo, que depois foi instituído como lei.
A Lei de Moisés ordenava a entrega dos dízimos dos frutos da terra e também do gado:
“Também todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do Senhor; santas são ao Senhor. Se alguém, das suas dízimas, quiser resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. No tocante às dízimas do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo do bordão do pastor, o dízimo será santo ao Senhor.” (Lv 27.30-32)
O propósito dos dízimos era o sustento dos levitas que trabalhavam em tempo integral no serviço ao Senhor:
“Eu, eis que tomei vossos irmãos, os levitas, do meio dos filhos de Israel; são dados a vós outros para o Senhor, para servir na tenda da congregação. Porque os dízimos dos filhos de Israel, que apresentam ao Senhor em oferta, dei-os por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel, nenhuma herança tereis.” (Nm 18.6,24)
Havia doze Tribos, e a Tribo de Levi foi separada para o serviço ao Senhor. Como não tinham herança na terra e nem podiam dedicar-se ao trabalho secular devido ao seu ministério, os levitas viviam dos dízimos das outras onze Tribos. É interessante notar que os levitas também dizimavam (Nm 18.26,27), o que nos ensina que até mesmo os ministros de tempo integral também devem fazê-lo.
Hoje, a maioria das igrejas investe a grande parte da entrada dos dízimos em construções, aquisições, e em outras formas de investimentos igualmente importantes. Contudo, a necessidade de obreiros é enorme, e as igrejas acabam ficando com uma falta de recursos para equipes de trabalho maiores. Todavia, a prioridade nos investimentos de uma igreja local deve ser a de suprir (e bem) os seus ministérios. Um dos textos que melhor esclarecem o propósito dos dízimos é este:
“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós bênção sem medida. Por vossa causa repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. Todas as nações vos chamarão felizes, porque sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos.” (Ml 3.8-12)
Encontramos alguns princípios importantes neste texto, os quais devem nos orientar quanto ao entendimento correto dos dízimos.
Primeiramente, vemos que os dízimos pertencem a Deus. Esta parte da nossa renda é do Senhor, e não entregá-la é roubo! Não fazemos nada mais que o nosso dever quando a entregamos.
Em segundo lugar, vemos que a entrega ou não dos dízimos determina a bênção ou a maldição. A entrega dos dízimos é um ato espiritual, de repercussão espiritual. Ao entregá-los, somos abençoados (Dt 14.28,29), mas se os retivermos (o que a Bíblia claramente chama de “roubo”) seremos amaldiçoados. O profeta Ageu foi contemporâneo de Malaquias e também condenou a retenção do que pertencia a Deus. A sua geração não mais contribuía com os dízimos e as ofertas, e foi amaldiçoada por causa disso (Ag 1.6,9-11). No entanto, quando descobriram que não havia lucro algum em roubarem a Deus, eles se arrependeram e voltaram a contribuir, o que permitiu que o Templo fosse reconstruído. No dia em que eles lançaram os fundamentos do Templo, Deus mudou a maldição em bênção, porque eles obedeceram (Ag 2.18,19).
Em terceiro lugar, encontramos o destinatário deste nível de contribuição. Ele deve ser entregue na Casa do Tesouro. Os dízimos têm um destino certo. No Antigo Testamento, eles eram levados ao Templo, para que houvesse mantimento (para os levitas).
E por que ao Templo? Porque este é um princípio espiritual válido em todas as Escrituras, tanto no Antigo como no Novo Testamento:
“Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho.” (1 Co 9.11,13,14)
As Escrituras ensinam que os que semeiam o espiritual devem colher o material. As pessoas devem entregar os seus dízimos nas igrejas em que recebem ministrações espirituais e participam da Ceia do Senhor (como vemos no ocorrido entre o patriarca Abraão e o sacerdote Melquisedeque – Gn 14.18-20). Paulo também ensinou este princípio aos gálatas:
“Mas aquele que é ensinado na palavra faça participante em todas as coisas boas aquele que o ensina.” (Gl 6.6 – Tradução Brasileira)
Os ministérios para-eclesiásticos (que existem para auxiliar as igrejas, mas não são igrejas) não devem aceitar dízimos – somente ofertas! Bato muito nesta tecla porque eu também tenho um ministério de apoio às igrejas (e que depende de contribuições), mas sempre orientamos os irmãos a não dizimarem em nosso próprio ministério. Nós os instruímos a fazê-lo em suas próprias igrejas. Já tive que rejeitar altas quantias em dinheiro que queriam oferecer ao nosso ministério de ensino da Palavra porque não eram ofertas, e sim dízimos!
OS DÍZIMOS NO NOVO TESTAMENTO
Algumas pessoas afirmam que os dízimos pertencem única e exclusivamente ao Antigo Testamento e que as contribuições do Novo Testamento não têm uma quantia determinada, ou seja, não estão limitadas a apenas dez por cento da renda.
Concordamos que o Novo Testamento ensina acerca das contribuições sem quantia determinada e não limitada aos dez por cento dos dízimos, mas o Antigo Testamento também já ensinava isto! Trata-se de uma outra forma de contribuição, chamada em Malaquias 3.8 de “oferta”. Toda a argumentação que as pessoas contrárias aos dízimos usam é praticada nas ofertas que damos além dos dízimos.
Para quem quer contribuir com mais que os dízimos, é só ofertar e ir além deles! Parece-me, no entanto, que as pessoas contrárias, em sua maioria, não querem reconhecer que estão aquém do que deviam fazer pelo Reino de Deus. Elas precisam extrair os dízimos da sua doutrina para aplacarem as suas próprias consciências!
Vivemos na Nova Aliança, que é uma melhor aliança, baseada em melhores promessas, e que tem a Jesus como Fiador (Hb 8.6). Se passamos da Antiga para a Nova Aliança (que é superior à Antiga), não consigo imaginar como podemos regredir nas contribuições. Se a Antiga Aliança exigia um mínimo de dez por cento da nossa renda como contribuição, será que a Nova Aliança merece menos do que isto?
De fato, todos os textos que esclarecem os dízimos são do Antigo Testamento, mas o Novo os confirmou, e não viu uma necessidade de novas instruções. O ensino neo-testamentário deu muita ênfase às ofertas, que faziam parte de um outro nível de contribuição e que necessitavam de mais instruções. A verdade, no entanto, é que o Novo Testamento também fala dos dízimos. E os confirmam! Praticamente tudo o que pertencia à Antiga Aliança foi ensinado por Jesus de forma diferente, mas os dízimos não! Jesus confrontou as práticas dos fariseus de Seus dias em quase tudo, menos nos dízimos, os quais não foram suprimidos, e a sua prática foi encorajada pelo Senhor:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23.23)
A frase “devíeis fazer estas coisas” significa: “Vocês devem entregar os dízimos, mas isto não remove a responsabilidade da prática de outros princípios igualmente importantes.”
O Senhor Jesus também disse que devemos “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21), o que significa que, assim como há uma fatia do nosso orçamento (proporcional aos nossos ganhos) que pertence a César – que é uma figura de quem recolhe os nossos impostos – assim também temos uma fatia orçamentária (proporcional aos nossos ganhos) que pertence a Deus – os nossos dízimos.
Na Epístola aos Hebreus, falando de Abraão, que deu o seu dízimo a Melquisedeque, o escritor afirma:
“Aqui certamente recebem dízimos homens que morrem; ali, porém, recebe aquele de quem se testifica que vive.” (Hb 7.8)
Ele está deixando claro que em seus dias (no Novo Testamento), os dízimos ainda eram recebidos.
Eu quero, no entanto, acrescentar mais um pensamento. Se, hipoteticamente, os dízimos não fossem de fato um mandamento neo-testamentário, será que existiria algum ensino que os proíba de serem entregues? Isto seria – aos olhos de quem diz que o dízimo não é uma prática para hoje – uma quebra de algum princípio novo? De forma alguma!
Tudo o que o Novo Testamento ensina acerca das ofertas – e nós também praticamos este outro nível de contribuição – permanece intocável quando alguém entrega os seus dízimos. Portanto, mesmo se eu tivesse dúvidas sobre a entrega dos dízimos hoje – e eu não tenho um pingo de dúvida acerca disto – ainda assim eu não conseguiria entender onde isto poderia ser um problema!
No próximo capítulo, queremos trazer mais luz sobre como a entrega dos dízimos está entrelaçada a outras doutrinas imutáveis, que não ficaram presas aos dias do Antigo Testamento. Por ora, no entanto, sustentamos que os dízimos fazem parte da Nova Aliança em que estamos vivendo hoje! Estabelecido este princípio, podemos prosseguir, afirmando que muitos questionam se a entrega dos dízimos deve ser sobre a renda líquida ou a bruta. Nos dias de hoje, com benefícios que são deduzidos do salário, temos uma distinção muito grande entre a renda bruta (valor do holerite) e a líquida (o que o trabalhador recebe em suas mãos). E muitos se perguntam sobre qual valor eles devem calcular os seus dízimos.
Números 18.27 diz que os dízimos dos grãos se contavam depois que estavam limpos na eira, e o dízimo da vinha depois que as uvas haviam sido espremidas no lagar. Isto fala do ganho líquido, e digo que isto deve se aplicar a quem tem o seu negócio próprio. Ninguém deve dizimar sobre o faturamento, e sim sobre os lucros, sobre os ganhos.
Quanto ao trabalhador assalariado, recomendamos que ele dizime sobre a renda bruta do seu holerite, uma vez que a maior parte das deduções são benefícios (ganhos indiretos), e os impostos são despesas pessoais, como qualquer outro gasto da casa que não deduzimos ao fazermos esta conta.
No que tange à venda de imóveis, automóveis, e outros bens, ensinamos que os dízimos devem ser entregues sobre o lucro da negociação, e não sobre o valor da venda do patrimônio. Como dizia o meu pai, “venda não é renda”!
Aos empresários, lembramos que os dízimos são entregues sobre o ganho real, e não sobre o faturamento da empresa. E fazemos uma distinção entre os dois tipos de ganhos: o pró-labore (a sua retirada mensal) e a distribuição anual de lucros.
Quanto à sua renda pessoal, aconselhamos que os empresários dizimem mensalmente na ocasião da retirada do pró-labore. Quanto à distribuição anual de lucros, a minha posição e conselho pessoal é que eles deveriam dizimar os lucros antes que eles sejam reinvestidos ou repartidos. Não acho bom que eles esperem o dia em que a empresa seja vendida (porque talvez isto nunca aconteça), para então apurarem os lucros do capital reinvestido e entregarem os seus dízimos.
AS OFERTAS
Quando Malaquias repreendeu o povo de Israel, ele não o fez pela retenção dos dízimos apenas, mas também pela retenção das ofertas! Este é um outro nível de contribuição que precisa ser entendido e praticado de acordo com os seus princípios. Mesmo dizimando fielmente, o crente não pode parar aí! Ele deve ofertar também!
Mesmo antes de os dízimos aparecerem na revelação bíblica, as ofertas já eram entregues ao Senhor. O Livro de Gênesis mostra Caim e Abel trazendo, individualmente, uma oferta ao Senhor. Os patriarcas também sacrificavam ao Senhor. Com o tempo e o desenvolvimento de um sistema financeiro, as ofertas começaram a ser expressas principalmente por meio do dinheiro e de outros bens valiosos. Quando Jesus visitou o Templo, Ele Se assentou diante do gazofilácio e observou como as pessoas ofertavam. O texto enfatiza as ofertas dadas em dinheiro. Hoje não vivemos mais no contexto de um sistema religioso que exige sacrifícios de animais, e quase todo o nosso conceito de ofertas relaciona-se ao investimento financeiro que devemos fazer.
Os dízimos têm o seu percentual determinado; as ofertas não! Elas são algo que fazemos além dos dízimos. Os dízimos não são um ato voluntário, mas uma obrigação! As ofertas, por sua vez, são uma expressão voluntária do coração de alguém que ama ao Senhor e a Sua obra.
As ofertas têm como destinatário o Reino de Deus. Não são somente destinadas à igreja local, mas ao Reino de Deus em toda parte. Elas vão para missões, para ministérios para-eclesiásticos, para construções, para a aquisição de qualquer coisa útil à propagação do Evangelho. Sempre que um templo foi construído no Antigo Testamento, os recursos vieram de ofertas voluntárias. Uma vez que os dízimos deveriam suprir as necessidades dos levitas, não eram usados em outras coisas. As demais necessidades materiais eram supridas mediante doações voluntárias. Vemos este modelo desde que Deus ordenou a construção do Tabernáculo de Moisés:
“Fala aos filhos de Israel que me tragam oferta; de todo homem cujo coração o mover para isso, dele recebereis a minha oferta. Esta é a oferta que dele recebereis: ouro, e prata, e bronze, e estofo azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino, e pelos de cabra, e peles de carneiro tintas de vermelho, e peles finas, e madeira de acácia, azeite para a luz, especiarias para o óleo de unção e para o incenso aromático, pedras de ônix e pedras de engaste, para a estola sacerdotal e para o peitoral. E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles.” (Êx 25.2-8)
A oferta é fruto de um coração generoso, que move a pessoa a entregar voluntariamente o que ela não é obrigada a entregar. É uma expressão de amor! E tem um propósito diferente dos dízimos. Enquanto os dízimos visam suprir a necessidade de sustento dos obreiros de tempo integral, as ofertas não têm um propósito específico. Elas geralmente são usadas para se suprir necessidades diversas que os dízimos não suprem. Estão sempre relacionadas com aquisições e realizações, como vimos nas ofertas para a construção do Tabernáculo de Moisés.
Na preparação para a construção do Templo de Salomão, o mesmo princípio foi aplicado. Davi foi o primeiro, dando o exemplo de se ofertar por amor:
“E ainda, porque amo a casa de meu Deus, o ouro e a prata particulares que tenho dou para a casa de meu Deus, afora tudo quanto preparei para o santuário: três mil talentos de ouro, do ouro de Ofir, e sete mil talentos de prata purificada, para cobrir as paredes das casas; ouro para os objetos de ouro e prata para os de prata, e para toda obra de mão dos artífices. Quem, pois, está disposto, hoje, a trazer ofertas liberalmente ao Senhor?” (1 Cr 29.3-5)
Depois de dizer o que fazia por amor, o Rei Davi desafiou o povo a seguir o seu exemplo. E os líderes o seguiram, dando ofertas pessoais:
“Então, os chefes das famílias, os príncipes das tribos de Israel, os capitães de mil e os de cem e até os intendentes sobre as empresas do rei voluntariamente contribuíram e deram para o serviço da Casa de Deus cinco mil talentos de ouro, dez mil daricos, dez mil talentos de prata, dezoito mil talentos de bronze e cem mil talentos de ferro. Os que possuíam pedras preciosas as trouxeram para o tesouro da Casa do Senhor, a cargo de Jeiel, o gersonita. O povo se alegrou com tudo o que se fez voluntariamente; porque de coração íntegro deram eles liberalmente ao Senhor; também o rei Davi se alegrou com grande júbilo.” (1 Cr 29.6-9)
Em relação às ofertas, não há regras que determinem “quanto” devemos dar e “quando” devem ser dadas, somente “como” devem ser dadas. No entanto, as ofertas devem fazer parte da vida do crente!
No capítulo acerca da Lei das Primícias, falamos que há pessoas que distinguem a entrega das primícias como sendo uma forma a mais de contribuição, ao invés de entregá-las apenas em caráter de primazia. Neste caso, entendemos que a entrega das primícias se enquadra na condição de oferta. Ela foi chamada assim desde a primeira vez em que foi mencionada na Bíblia (Gn 4.4).
AS ESMOLAS
Enquanto o destinatário dos dízimos é a igreja local e o das ofertas é o Reino de Deus, as esmolas destinam-se aos necessitados, sejam eles cristãos ou não. É uma expressão de compaixão e misericórdia para com os que estão passando por necessidades. São uma forma de suprimento. O Antigo Testamento já nos instruía a cuidarmos dos pobres:
“Semelhantemente não rabiscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o Senhor, vosso Deus.” (Lv 19.10)
“Distribui, dá aos pobres; a sua justiça permanece para sempre, e o seu poder se exaltará em glória.” (Sl 112.9)
“Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício.” (Pv 19.17)
Uma parte dos dízimos do Antigo Testamento era destinada ao sustento dos pobres:
“Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os recolherás na tua cidade. Então, virão o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o Senhor, teu Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem.” (Dt 14.28,29)
A cada três anos, os dízimos se tornavam não somente o sustento dos levitas, mas também dos pobres. Portanto, cerca de um terço dos dízimos tinha este destinatário no Antigo Testamento. Morris Cerullo, em seu livro “Dando e Recebendo”, faz o seguinte comentário:
“Creio que dizimar significa, especialmente, suprir um rendimento aos nossos modernos levitas e sacerdotes – e aos pobres ao nosso redor. Creio que Deus quer que usemos cerca de dois terços dos nossos dízimos para capacitarem alguns líderes da igreja a desempenharem seu ministério sacerdotal (pastorear e ensinar), e outros que trabalham no ministério, semelhantemente aos levitas (administração e zeladoria). E ainda creio que Deus quer que nos asseguremos de que a outra terça parte dos nossos dízimos seja usada para a provisão dos pobres da nossa comunidade.”
Isto não significa que as pessoas devam decidir o que fazer com os seus dízimos. Eles são entregues na igreja local, mas esta, por sua vez, deveria ter um programa ou fundo de ajuda aos necessitados. A Bíblia não está dizendo que os dízimos devem ser repartidos sempre, senão não haveria o terceiro nível de contribuição, que é a esmola. Mas esta aplicação dos dízimos na Antiga Aliança revela um princípio importante para nós hoje: o dinheiro arrecadado na igreja não deveria servir somente à construção de prédios e aquisições de bens materiais, mas também para ajudarmos os necessitados.
Vemos que a Igreja da primeira era cristã sustentava as suas viúvas (At 6.1; 1 Tm 5.3-16) e que os irmãos supriam as necessidades uns dos outros, repartindo os seus bens entre os que tinham necessidades:
“Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.” (At 2.44,45)
Temos a responsabilidade de exercermos misericórdia e assistência social aos necessitados. E os recursos que proporcionam isto são as “esmolas”, ou, como outros preferem denominar, “beneficência”.
O Capítulo 58 de Isaías trata disso, enfatizando que a falta de solidariedade social pode prejudicar toda a batalha do jejum e da oração.
Temos um conceito errado e achamos que “esmola” é a moedinha esquecida no bolso que jogamos ao necessitado da rua, mas toda e qualquer forma de ajuda ao pobre e necessitado é enquadrada nesta categoria de contribuição.
O Novo Testamento também sustentou o quanto isto é necessário, começando-se pelos cristãos que precisam de ajuda e estendendo-se aos ímpios. Paulo disse que devemos fazer o bem a todos, e Jesus incluiu nesta categoria até mesmo os nossos inimigos. Mas a prioridade é ajudarmos os da família da fé:
“Não nos desanimemos de fazer o bem; pois a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos. Portanto, à medida que tivermos oportunidade, façamos o que é bom a todos os homens, mas especialmente aos que pertencem à família da fé.” (Gl 6.9,10 – Tradução Brasileira)
Uma das principais recomendações ministeriais que o apóstolo Paulo recebeu de Tiago, Pedro, e João (a quem ele chamou de “as colunas da Igreja em Jerusalém”) envolvia este assunto da ajuda que deve ser ministrada aos necessitados:
“Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer.” (Gl 2.10)
Que tipo de lembrete é este a que Paulo se refere?
Certamente ele não está falando apenas de nos lembrarmos ou recordarmos a existência destes pobres, mas de nos importarmos com eles, de procurarmos suprir as suas necessidades.
O Evangelho não toca somente o espírito e a alma das pessoas; toca também o corpo com cura, e o estômago com comida!
Cada um destes três níveis de contribuição tem a sua importância, e, juntos, nos ajudam a edificarmos o nosso memorial de contribuição diante do Senhor. Certamente a nossa obediência a estes princípios não será esquecida e tampouco passará despercebidamente diante de Deus!
Que o Senhor nos ajude a crescermos em cada um destes níveis de contribuição!