Baseado em I Reis 13.
Não é sem motivo que o livro de Crônicas omite quase tudo o que se refere à história dos reis de Israel (Reino do Norte), porque desde a inauguração daquele reino com Jeroboão, que os israelitas se desviaram dos caminhos do Senhor, e passaram a viver como todas as demais nações pagãs.
E assim, como estas não eram dignas de terem os seus feitos registrados na Palavra de Deus, de igual modo, esta honra foi retirada de Israel, quando o povo de Judá voltou do cativeiro babilônico, e foram escritos os livros de Crônicas para incentivar os judeus a reconstruírem a vida da nação em torno das coisas relativas ao trono de Davi, e dos seus sucessores em Judá.
Mas, para o nosso ensino e advertência, quanto ao que sucede àqueles que voltam as suas costas para o Senhor, foi ordenado por Ele que ficasse registrado nos livros dos Reis toda a história relativa ao reino apóstata de Israel.
O Reino do Norte somente não foi abandonado definitivamente por Deus, por causa da promessa que Ele havia feito aos patriarcas de ser o Deus dos seus descendentes, e também porque muitos deles, ao verem o que sucedia em Judá com os reis que andaram nos Seus caminhos, desertaram do Reino do Norte e vieram habitar em Judá e em Benjamim, para fugirem da idolatria que imperava em Israel.
Deus não era apenas o Deus da tribo de Judá e Benjamim, mas de todas as demais tribos de Israel.
E mesmo na infidelidade deles à aliança, e anulando a mesma, por estarem transgredindo os Seus mandamentos, Ele os suportou na Sua longanimidade e lhes enviou profetas para chamá-los ao arrependimento, tal com havia feito no período dos Juízes.
Mas se eles foram poupados naquele período, porque sempre se arrependiam e voltavam para o Senhor, agora já não voltavam mais a servi-lo como nação, com fidelidade, em nenhuma das gerações do período do Reino do Norte, e por isso foram expulsos da terra que lhes havia sido dada por promessa, e não temos nenhum registro de que alguns destes que foram levados cativos, tivessem retornado para lá.
No lugar deles os assírios colocaram povos de outras nações, que se misturando com o remanescente de Israel, que permaneceu na terra, deu origem aos samaritanos, que tanto cultuavam ao Deus de Israel, por influência do que haviam aprendido com estes israelitas, quanto os falsos deuses, que eles adoravam em suas terras de origem.
Em 1 Reis 12:11 é dito que residia um velho profeta em Betel, um dos locais em que Jeroboão havia colocado um dos bezerros de ouro, e um altar para serem apresentados sacrifícios ao mesmo. No entanto, tudo indica que este profeta havia se acomodado ao culto instituído por Jeroboão, de modo a não sofrer qualquer tipo de perseguição, caso protestasse contra aquele culto idólatra.
Era um homem de Deus que havia se aposentado por conveniência pessoal, e assim, quando Deus quis protestar contra o culto que Jeroboão realizava em Betel, não usou este homem que fizera a si mesmo um desacreditado, mas a um profeta que veio de Judá e do qual se diz que era homem de Deus, indicando o seu caráter de ser alguém que se consagrara ao Seu serviço (I Reis 12.1), e ele chegou ao altar de Betel, no justo momento que o rei Jeroboão se preparava para queimar incenso nele.
E ele profetizou contra o altar do bezerro de Betel, que um filho que nasceria à casa de Davi, cujo nome seria Josias, sacrificaria sobre ele os falsos sacerdotes que ministravam a mando de Jeroboão, oferecendo sacrifícios e queimando incenso, e que ossos humanos seriam queimados por Josias naquele altar (I Reis 12.2).
Para confirmar que aquelas palavras provinham do Senhor disse que Ele lhes daria um sinal naquele instante, fazendo com que o altar se fendesse, e as cinzas que estavam sobre ele seriam derramadas (v. 3).
No momento mesmo que esta palavra foi liberada, Jeroboão estendeu a mão com a qual estava oferecendo incenso sobre o altar e a voltou na direção do profeta, ordenando que ele fosse preso, e na mesma hora a sua mão secou e ele não podia movê-la (v. 4).
Simultaneamente, o altar se fendeu e a cinza se derramou conforme o profeta havia afirmado que ocorreria como um sinal da parte de Deus de que a palavra proferida contra o altar seria cumprida no tempo apropriado (v. 5).
Josias seria levantado como rei de Judá e daria cumprimento a esta palavra cerca de 300 anos depois.
Jeroboão rogou ao profeta que ele intercedesse em seu favor junto do Senhor Deus dele (do profeta) para que a sua mão fosse curada. E tendo o profeta orado ela ficou como antes (v. 6). Isto foi feito pelo Senhor para manter o Seu profeta em segurança, de maneira que Jeroboão temesse fazer qualquer mal contra ele.
Mas este acabou contribuindo, ainda que indiretamente, para que o mal lhe sobreviesse, porque tendo tentado ganhar o seu favor, ofereceu-lhe amizade chamando-o à sua casa para recompensar-lhe por ter orado em seu favor e ter tido a sua mão restaurada por Deus. Ele devia pensar que agradando ao profeta talvez pudesse também agradar a Deus, de modo que ele voltasse atrás no juízo que havia proferido contra ele.
Afinal, não foi o profeta que orou para que a sua mão secasse, e aquilo lhe sobreveio por uma intervenção direta da parte de Deus. Mas, tendo recusado o convite de Jeroboão e declarado a ele tudo o que o Senhor lhe havia ordenado, e que ele, por motivo de prudência, não necessitava ter declarado a ninguém, acabaria em apuros, em razão de ter falado mais do que devia, pois uma vez tendo tornado do conhecimento de todos que Deus lhe havia proibido comer pão e beber água naquela terra, e que deveria retornar a Judá por outro caminho, diferente daquele através do qual havia se dirigido a Betel (v. 8 a 10), acabaria trazendo confusão e desconfiança, quanto à veracidade da profecia que havia proferido, caso contrariasse isto que acabara de divulgar, como tendo também sido ordenado por Deus.
Assim, ele voltou por um outro caminho diferente do que havia chegado a Betel, e estava com isto dando mais uma prova de que falara de fato da parte do Senhor. Certamente, foi o diabo que levantou o velho profeta para mentir ao homem de Deus, lhe dizendo que este lhe enviara um anjo modificando as suas ordens iniciais.
O alvo do diabo era o de trazer descrédito à profecia proferida a Jeroboão, uma vez que o homem de Deus havia contrariado o que havia afirmado na presença de Jeroboão, quando se permitiu privar da companhia do velho profeta em sua casa, talvez confortado pela ideia que o Senhor havia se compadecido dele, que deveria estar com fome e sede, permitindo que comesse e bebesse em companhia daquele que havia se apresentado a ele como sendo também um profeta do Senhor.
Assim, Deus, que estava preocupado em garantir a segurança do seu servo, teve que intervir de maneira miraculosa, de modo a convencer a todos em Israel que aquela palavra, que havia sido proferida contra o altar era exata e verdadeira, e havia procedido dEle, porque em tendo sido desobedecido no que havia ordenado, teve que estabelecer um juízo à desobediência do profeta, ainda que este tivesse sido enganado, de modo a revelar que a palavra dita a Jeroboão que ele não poderia comer e nem beber água em Betel era tão verdadeira, quanto a que foi proferida contra o altar.
E isto foi reforçado por um milagre porque o leão que matou o profeta, não o devorou e nem ao jumento que ele montava, tendo ficado ambos parados ao lado do seu cadáver (v. 21, 28).
E ainda para reafirmar a palavra dada, quem profetizou a morte do homem de Deus foi o próprio velho profeta mentiroso, mas naquela hora foi-lhe dado profetizar e a palavra do Senhor na sua boca era verdadeira (v. 21, 22), porque disse que o seu cadáver não entraria no sepulcro dos seus pais em Judá.
E por temer esta palavra dada pelo Senhor o velho profeta não enviou o seu corpo a Judá e providenciou para que ele fosse sepultado em Betel, no seu próprio sepulcro, de modo que quando morresse fosse sepultado no mesmo lugar em que fora enterrado o homem de Deus (v. 30, 31) porque com isto, ele entendeu que ele era de fato um profeta do Senhor, e que a palavra proferida por ele teria cumprimento cabal.
É dito no verso 33, que apesar de todas estas coisas terem sido testemunhadas por Jeroboão, nem assim ele deixou o seu mau caminho e continuou a constituir sacerdotes para os seus altares, e que ele mesmo os consagrava (v. 33).
Mas isto não ficaria sem uma resposta à altura, porque o grande juízo contra Jeroboão não seria apenas a destruição dos seus altares e o extermínio daquele ofício sacerdotal espúrio, mas o que viria sobre ele e a toda a sua casa, de modo que não teria sucessores no trono, porque Deus já havia determinado exterminá-los por causa deste pecado (v. 34).
Todos estes juízos do Senhor continham também uma grande manifestação da Sua misericórdia por Israel, porque muitos viriam a se arrepender da sua idolatria e fugiriam de Israel para Judá, em face de todas estas coisas que estavam sendo realizadas pelo Senhor contra a idolatria deles e de Jeroboão.