Citações de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gálatas 2.20)
O Apóstolo refere a si mesmo – à sua própria vida interior, e sua própria morte espiritual – ao amor de Cristo por ele, e ao grande sacrifício que Cristo fez por ele. “Que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim.
Isto é instrutivo, pois é um sinal distintivo da vida cristã que traz para fora a individualidade de um homem. Ela não nos faz egoístas; pelo contrário, nos cura desse mal, mas ainda assim ela faz manifestar em nós uma individualidade pela qual nos tornamos conscientes da nossa individualidade pessoal em um grau eminente.
O Evangelho, como um telescópio, revela o homem a si mesmo. Faz com que ele se veja como uma existência individual e obriga-o a meditar sobre o seu próprio pecado, sua própria salvação, e sua própria desgraça pessoal, a menos que seja salvo pela Graça Divina.
Tendo de ir contra a corrente geral dos tempos, o crente é um indivíduo sobre o qual os olhos estão atentamente fixos. Ele é feito por Cristo um indivíduo distinto, tanto para ele como para os demais de sua espécie.
Então, em consequência de uma fé pessoal individual o crente desfruta de uma paz pessoal. Ele acha que se a Terra fosse totalmente transtornada, ele ainda encontraria descanso em Cristo, independentemente de seus companheiros. Ele pode falar de sua paz aos outros, mas não pode comunicá-la. Outros não a podem dar a ele, nem podem tirá-la dele. Onde quer que a vida cristã esteja verdadeiramente no Filho, logo leva a uma consagração pessoal a Deus. O homem vem ao altar de Cristo e clama: “Aqui estou! Deixe que outros façam o que quiserem. Quanto a mim e à minha casa serviremos ao Senhor.”
O homem renovado sente que o trabalho dos outros não o isenta de servir a Cristo, e que a tibieza geral da Igreja Cristã não pode ser uma desculpa para sua própria indiferença.
Não há doutrina na Escritura que ensine que um homem possa ser salvo pela santidade de outro. Devemos carregar os fardos uns dos outros, em relação à simpatia, mas não no sentido de substituição. Todo homem deve carregar o seu próprio fardo e dar contas de si mesmo diante de Deus. Quando um homem é sepultado com Cristo pelo ato público do Batismo, ele não pode ser morto por outro ou enterrado por outro.
Todos nós nascemos sozinhos – nós chegamos a este mundo para trilhar um caminho que só os nossos próprios pés podem pisar. Em grande medida nós percorremos o mundo sozinhos, porque todos os nossos companheiros são senão navios velejando conosco lado a lado – navios distintos e tendo cada um a sua própria bandeira.
Nenhum homem pode mergulhar na profundidade de nossos corações. Há compartimentos na câmara da alma, que ninguém pode abrir, senão o próprio indivíduo. Devemos morrer sozinhos. Os amigos podem rodear a cama, mas o espírito deve partir sozinho.
Se eu for condenado no último dia, nenhum homem pode ser condenado por meu espírito. Nenhuma alma pode entrar nas câmaras de fogo em meu nome para aguentar por mim uma angústia indizível. E, bem-aventurada esperança, se eu for salvo, será ver o Rei em Sua formosura! Meus olhos olharão para Ele e não outros em meu lugar.
Em segundo lugar, o nosso texto muito claramente nos ensina sobre o entrelaçamento de nossa própria personalidade com Jesus Cristo.
Leia o texto novamente:
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.”
Eu acho que eu vejo diante de mim uma videira. Ali está um ramo, distinto e perfeito. Ele não deve ser confundido com qualquer outro – é um ramo, um ramo inteiro e perfeito – ainda que esteja perfeitamente juntado ao caule ele possui a sua individualidade. Assim é com o crente em Cristo.
Observe os pontos de contato. Primeiro, Paulo diz, eu estou “crucificado com Cristo.” O que ele quer dizer? Ele quer se referir a muitas coisas, mas quer dizer isso – ele acreditava na Representação de Cristo na cruz – ele declarou que quando Jesus Cristo foi pendurado no madeiro Ele não estava lá como uma pessoa privada, mas como Representante de todo o Seu povo escolhido.
Em seguida, por Sua morte justificou todos os Seus santos e fez uma expiação em relação à vingança divina por todos os seus pecados.
“Estou crucificado com Cristo. “O Apóstolo dos gentios se encantava em a pensar que como um dos muitos do povo escolhido de Cristo, ele morreu na cruz em Cristo. Ele fez mais do que crer nesta doutrina, no entanto – ele a aceitou confiantemente e fez repousar sua esperança sobre ela. Ele cria que, por força da morte de Jesus Cristo, ele mesmo tinha pago o que a Lei lhe exigia, para satisfazer a justiça divina, e possibilitar a reconciliação com Deus!
Paulo sentia o poder da morte de Cristo em sua própria vida, pela crucificação de sua natureza corrompida pelo pecado.
Assim que Paulo via a si mesmo como um criminoso em quem a sentença da Lei tinha sido cumprida. Quando ele viu os prazeres do pecado, ele disse: “Eu não posso apreciá-los. Estou morto para eles. Uma vez tive uma vida em que estes foram muito doces para mim, mas eu fui crucificado com Cristo. Por conseguinte, como um homem morto não posso mais ter prazer nas alegrias que uma vez foram deleitáveis para mim.”
Nem ele deu a sua força para seus propósitos, nem sua alma para seus costumes, nem o seu julgamento para seus veredictos, nem o seu coração para suas afeições, pois ele era um homem crucificado através de Jesus Cristo! O mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo. Isto é o que o apóstolo quis dizer.
Observe em seguida, outro ponto de contato. Ele diz: “eu vivo.” Mas então ele se corrige, dizendo: “não mais eu, mas Cristo vive em mim.” Ele explica o que é a sua vida – sua vida é produzida nele por virtude do ser de Cristo nele e seu ser em Cristo. Jesus é a fonte da vida do cristão! A seiva na videira vive mesmo no menor dos ramos.
Assim, em cada cristão – embora seja insignificante e possuidor de pouca Graça Divina, ainda assim, se ele é realmente um crente, Jesus vive nele! A vida que mantém a sua fé, a sua esperança, o seu amor na existência vem de Jesus Cristo, e por Ele sozinho.
Deveríamos deixar de ser santos vivos se não recebêssemos diariamente a Graça Divina de nossa Cabeça da Aliança. À medida que a força de nossa vida vem do Filho de Deus, assim Ele é o governante e o poder que se move dentro de nós.
Esse é outro ponto de contato. Mais adiante, o apóstolo diz – “A vida que eu agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus.” Em todo momento a vida do cristão deve ser uma vida de fé. Nós erramos quando tentamos caminhar pelo sentimento ou pela vista.
Creia que você está seguro em Cristo, mesmo quando parece estar no maior perigo – creia que você é glorificado quando se sentir como se tivesse sido expulso da presença de Deus – esta é a vida de fé.
Além disso, Paulo observa outros pontos de união. “Que me amou.” Bendito seja Deus, porque desde antes da fundação do mundo Cristo nos amou. Ele nos amou eternamente – o Filho todo-glorioso de Deus nos escolheu para ser a Sua noiva por toda a eternidade! Aqui está uma bendita verdade, de fato!
Observe em seguida: “e se entregou por mim.” Não somente deu tudo o que Ele tinha, mas deu a Si mesmo! Não apenas pôs de lado Sua glória e Seu esplendor, e Sua vida, mas entregou a Si próprio por nós.
Você descobriu ser uma personalidade independente e individual, mas uma personalidade que está relacionada com a Pessoa de Cristo Jesus, de modo que você está em Cristo, e Cristo está em você – por uma abençoada união indissolúvel estão unidos para sempre e sempre!