“Fira-me o justo, será isso uma gentileza; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo. Continuarei a orar enquanto os perversos praticam maldade.” (Sl 141.5)
Para que possamos receber reprovações de uma forma devida, três coisas devem ser consideradas:
1. A qualificação geral do reprovador,
2. A natureza da reprovação, e,
3. O assunto relativo à mesma.
O salmista deseja que seu reprovador seja uma pessoa justa : “Que o justo me fira”, “repreenda-me.”
Dar e receber repreensões, é um ditame da lei da natureza, através do qual cada homem é obrigado a procurar o bem dos outros, e para promovê-lo de acordo com sua capacidade e oportunidade.
A primeira coisa a ser considerada é dirigida por aquele amor que é devido aos outros; e a segunda, por aquilo que é devido para nós mesmos: estas são as duas grandes regras, e a medida para os deveres de todas as sociedades, seja civil ou espiritual.
É desejável que aquele que reprova seja uma pessoa justa, porque deve ter um senso do mal a ser reprovado.
E se a repreensão for feita sem sabedoria e humildade, todos os seus benefícios serão perdidos.
Por isso nosso Senhor nos diz que devemos primeiro tirar a trave de nossos olhos antes que tiremos o argueiro dos olhos do nosso irmão (Mat 7.3-5).
2. A natureza de uma reprovação deve também ser considerada. Assim cada repreensão pode ser:
1. Autoritária, (da parte de quem possui autoridade)
2. Fraterna
3. Simplesmente amigável e ocasional
Há uma autoridade especial que acompanha as reprovações ministeriais na Igreja. Está em foco a reprovação pessoal privada, realizada por aqueles que detêm autoridade ministerial, porque é ordenado por Deus que os ministros exortem, repreendam, admoestem, e reprovem, conforme a ocasião exigir.
Não cumprir isto significa desprezar a autoridade de Jesus Cristo que assim o determina. Ele repreende a todos quantos ama (Apo 3.19). Assim, toda autoridade para a reprovação ministerial emana dele.
A repreensão autoritária dos pais é um dos principais deveres dos pais para com seus filhos.
A negligência deste dever produzirá os Hofnis, Finéias e Absalões.
A repreensão autoritária civil é a exercida por governantes e chefes. Esta é também ordenada por Deus para o bem da sociedade civil.
A repreensão fraternal é a que é comum entre os membros da mesma igreja, em virtude de suas obrigações para com Cristo e uns com os outros. (Mat 18.15; Lev 19.17; Rom 15.14…).
Por último, as repreensões são amigáveis ou ocasionais, quando administradas por qualquer pessoa, conforme as razões e oportunidades o exijam.
Se o assunto da reprovação for verdadeiro, então deve ser devidamente considerado.
Se for um assunto privado, então deve ser tratado apenas com o próprio faltoso, conforme nosso Senhor nos instrui a fazer em Mateus 18.
Em se tratando de pecado público ou que seja ofensa que dê ocasião a escândalo, não precisa ser reprovado em particular.
Todos os males da humanidade, seja de pessoas ou de nações, concebidos ou perpetrados, são efeitos da nossa prevaricação fatal da lei de nossa criação.
Caim foi o primeiro transgressor violento e aberto das regras e limites da sociedade humana.
Como de um só homem, Deus trouxe todos os demais à existência, é um dever tanto da lei de Deus quanto da própria natureza, cuidar e preservar a continuidade deste mesmo DNA comum, que nos identifica como seres humanos e não como qualquer outra criatura. Daí, não furtarás, não adulterarás, não darás falso testemunho, não matarás etc.
Portanto, se interpõem as reprovações e repreensões no intuito de prevenir tais transgressões e violações e para manter o bem comum e a paz e continuidade da vida em sociedade em qualquer dimensão de relacionamento considerada.
Por exemplo desprezar as repreensões que sejam necessárias para a manutenção do amor fraternal é abrir uma porta para o ódio e antipatia mútuos, que, aos olhos de Deus, equivalem ao homicídio (Lev 19.17; I João 3.15).
Por isso demonstramos falta de amor e respeito para com Deus e suas leis quando desprezamos as repreensões das quais nos tornamos dignos de receber, e que visam à correção do nosso procedimento, com vistas à manutenção do amor fraternal.
Em princípio todos necessitamos destas repreensões porque o pecado trouxe à alma humana um estado ruim de inimizade contra Deus e contra o próximo.
Quantos não foram despertados de suas apostasias em razão das repreensões que receberam? Quantos não foram despertados do sono espiritual no pecado em que se encontravam? Quantas armadilhas e tentações não foram evitadas?
Daí Davi afirmar:
“Fira-me o justo, será isso uma gentileza; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo.”
Devemos portanto encarar cada reprovação que nos é dada como uma forma de dever. Isso vai remover o senso de ofensa que poderíamos ter contra o reprovador.
E se estivermos convencidos de que é dever do outro nos reprovar, não podemos deixar de estar convencidos de que é nosso dever ouvi-lo e dar a devida consideração àquilo que devemos consertar.
A Bíblia está repleta de exemplos quanto àqueles que se recusaram a dar ouvidos à repreensão que receberam e que caíram em ruína diante de Deus.
Assim, devemos cuidar de sermos curados pela graça de Deus, de nossas disposições mentais, emocionais, iracundas, exaltadas, orgulhosas, presunçosas, preconceituosas, que nos levam a rejeitar reprovações e repreensões.
“O que repreende o escarnecedor traz afronta sobre si; e o que censura o perverso a si mesmo se injuria.
Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e ele te amará.” (Prov 9.7,8).
“O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura.” (Prov 29.1).
A norma bíblica para a repreensão é que seja feita com longanimidade (sendo tardio em se irar contra o mal) e com doutrina (segundo os preceitos da Palavra de Deus), (II Tim 4.2).
A melhor maneira de manter as nossas almas numa prontidão correta para receber reprovações, que possam nos ser dadas por qualquer pessoa, é manter e preservar as nossas almas e espíritos, num temor constante de reverência às repreensões de Deus, que estão registradas na sua Palavra. Foi por causa da negligência ou desprezo dessas reprovações, que Deus derramou a sua ira sobre a humanidade no dilúvio e em várias ocasiões na história de Israel, no Velho Testamento, como forma de advertência para nós a quem o fim dos tempos tem chegado.