“Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.” (II Coríntios 5.16)
O nosso conhecimento de Cristo não é por vista, porque amamos Alguém invisível, mas Ele é muito real para o cristão que partilha da Sua intimidade, porque se dá a conhecer em espírito, e assim, todo verdadeiro conhecimento não somente relativo a Cristo, mas às pessoas com as quais temos comunhão, é pelo espírito, não pelo que vemos ou ouvimos com nossos sentidos naturais.
O apóstolo tinha falado antes da sublimidade de se morrer para se estar para sempre com o Senhor, e não mais estarmos ausentes dEle, pelas limitações que ainda nos são impostas pela vida que temos no corpo.
Paulo afirmou que não se conhece a Cristo segundo a carne, senão pelo espírito.
Deste modo, o Cristo que servimos é onisciente, onipotente, onipresente. Ele tudo sabe, vê e governa. É inútil tentar viver aparte da consideração de que se deve viver de tal modo, que em tudo Lhe sejamos agradáveis, quer estando neste mundo, em que não O vemos, quer no vindouro, quando o veremos face a face.
Este empenho em se viver de modo agradável ao Senhor deve levar em conta, principalmente, o temor que Lhe é devido, porque teremos que comparecer ante o Seu Tribunal, no qual prestaremos contas e receberemos o louvor ou o dano de tudo o que tivermos feito por meio do corpo neste mundo, seja o bem segundo a Sua vontade para recompensa, seja o mal, para dano ou perda de galardão.
Então pregar o evangelho com fidelidade não é uma opção para os que são chamados, mas uma honra, e uma grande responsabilidade e dever, porque este nos foi encarregado da parte de Deus, para sermos seus embaixadores, na convocação de todos os homens a se reconciliarem com Ele, porque Cristo “morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
Paulo podia afirmar este ensino com toda a autoridade porque ele foi o último dos apóstolos, que não havia conhecido a Jesus em Seu ministério terreno, e no entanto, conforme ele próprio diz em suas epístolas, havia aprendido o evangelho pela revelação que lhe fora feita pelo próprio Senhor, em espírito, e que havia trabalhado muito mais para o Senhor do que todos os demais apóstolos, e o próprio Pedro reconheceu a profundidade do conhecimento de Jesus que Paulo havia alcançado.
Por isso nosso Senhor havia dito a Tomé que mais bem-aventurados do que ele eram todos aqueles que haviam crido na Sua ressurreição e que foram instruídos quanto a isto em espírito, sem tê-lo visto, do que aqueles que Lhe tinham visto ressuscitado com os olhos da carne.
O conhecimento do Senhor é feito através dos olhos espirituais da fé, e não por evidências visíveis.
Assim, Paulo podia recomendar a si mesmo às consciências de seus ouvintes quando os persuadia à fé, porque podiam se gloriar no testemunho da sua sinceridade, e no fato de se gloriar nas coisas operadas por Deus em seu coração, e não na aparência, conforme muitos faziam em Corinto em seus dias.
As vidas que estavam sendo geradas pelo evangelho através do seu ministério não haviam crido por evidências externas e por argumentos persuasivos humanos, mas por demonstrações do Espírito e de poder que repousavam sobre sua vida.
Em Cristo está sendo formada uma nova criação espiritual, e todo verdadeiro cristão faz parte da mesma, então não devem se fixar nas coisas do velho homem que são passadas à vista do Senhor, mas na nova vida que receberam do céu.
Deus mesmo proveu todas estas coisas relativas à reconciliação dos pecadores com Ele, não lhes imputando mais a condenação dos seus pecados por causa de Cristo.
O trabalho do apóstolo e de qualquer ministro de Cristo é portanto o de rogar aos homens que se reconciliem com Deus, porque Cristo, que não tinha pecado, morreu no nosso lugar, fazendo-se réu do pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus, isto é, alvo de Sua justiça, para que pudéssemos ser justificados do pecado.
À vista destas realidades, o objetivo maior e principal de um cristão não deve estar nas coisas deste mundo, mas no céu, porque foi de lá que recebemos a nova vida que há de permanecer por toda a eternidade; e é de lá também que recebemos todas as virtudes espirituais invisíveis, como elas se encontram em nosso Senhor Jesus Cristo.
E ainda que venhamos a morrer, temos um outro corpo celestial e glorificado aguardando por nós no céu, e deveríamos aspirar por deixar um dia este corpo terreno para que possamos receber este novo corpo celestial.
Assim o que é mortal dará lugar ao que vive eternamente; conforme planejado por Deus desde o princípio, e para comprovar esta verdade Ele deu o Espírito Santo para habitar nos cristãos, para que seja o penhor do cumprimento cabal de tudo o que lhes tem prometido quanto à sua vida futura e celestial.
Esta esperança de vida eterna deve ser motivo para que os cristãos tenham sempre bom ânimo, em todas as aflições que sofrem ainda no corpo neste mundo, uma vez que todas elas cessarão somente quando estiverem para sempre na presença do Senhor, depois de terem sido chamados por Deus a deixarem o corpo mortal, para que possam viver na esfera das coisas que são somente espirituais, celestiais e divinas.