Deus revela no livro de Jó que há uma grande guerra espiritual neste mundo, especialmente do diabo contra os santos. Se não fosse pela providência e controle divino, Satanás já teria de há muito destruído a tudo e a todos.
Veja que foi ele quem instigou os sabeus e os caldeus para roubarem os rebanhos de Jó e para matarem os seus servos.
Nós vemos aqui o diabo em seu ministério de matar, roubar e destruir.
Até então, nada sucedia aos servos de Jó e a seus rebanhos, e num só momento lhe sobrevieram todas estas coisas.
Logo, vemos que o diabo é quem move nações às guerras injustas, movidas por motivos injustos; e que este mundo seria um grande palco de conflitos, caso lhe fosse permitido por Deus agir com toda a liberdade.
Ele somente pôde agir contra Jó, instigando os sabeus e os caldeus, quando isto lhe foi permitido pelo Senhor. De outro modo, nada poderia ter feito.
O mesmo se dá em seus ataques desferidos contra a Igreja de Cristo. Nada é feito por ele, senão aquilo em que lhe damos lugar, de forma a obter permissão de Deus para agir contra o Seu povo, com o fim de sermos disciplinados e aperfeiçoados em santidade.
Jó não poderia ter aprendido muitas coisas relativas ao caráter de Deus e ao Seu modo de se relacionar conosco, a não ser por ter experimentado tais provações, e isto não é diferente em relação a qualquer filho de Deus.
Todavia, já havia nele um verdadeiro temor ao Senhor, que é o princípio de toda a sabedoria posterior que poderemos vir a adquirir em relação a Ele e aos Seus caminhos, porque, depois de todas as perdas que sofreu, Jó não se indispôs contra Deus. Ao contrário, adorou ao Senhor e declarou com os seus lábios com o resto de força que lhe sobrara por concessão da graça divina, as belas e profundas palavras que podemos ler no final deste capitulo:
“20 Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça e, lançando-se em terra, adorou;
21 e disse: Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor.
22 Em tudo isso Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.”
Onde muitos gigantes espirituais da própria Igreja de Cristo poderiam ter tombado, caso fossem provados de tal forma, Jó permaneceu firme em sua confiança no Senhor, não se desviando de Sua presença.
Tal é a grandeza de Jó diante de Deus na glória, que Ele o citou pela boca do profeta Ezequiel, colocando-o ao lado de Noé e Daniel (Ez 14.14,20), como sendo homens justos perante Ele, dotados de um espírito excelente que os levava a se desviarem continuamente do mal, para não desapontá-lo.
Foi permitido a Satanás, excepcionalmente, por Deus, para provar a Jó, que ele tivesse até mesmo poder sobre o fogo do céu, e sobre os ventos para produzir tempestades. Vento este com o qual derrubou a casa onde os filhos de Jó se encontravam, e os matou a todos, os sete filhos e três filhas, ao mesmo tempo.
Jó conduziu dez filhos ao sepultamento, no mesmo dia, e a sua atitude foi a de se humilhar perante Deus reconhecendo que Ele tem o pleno direito de dispor como quiser de tudo o que temos e que somos, e bendizendo o nome do Senhor o adorou.
Naquele momento, até mesmo as vestes que trazia sobre si ele as rasgou em sinal de que não dependia sequer delas para continuar adorando e servindo a Deus, sabendo que ele próprio, seria também convocado um dia a estar em Sua presença, sem nada levar consigo deste mundo.
Demonstrou com isso que não vivia pela visão do presente, mas pela visão da fé que aponta para a nossa vida futura com Deus.
O seu presente era dirigido, conduzido por esta visão de fé, e não pela vista, modo este que é o que deveria ser vivido por todo servo de Deus, e no qual temos um grande exemplo em Jó.
Não foi por nenhum pecado que houvesse cometido que Jó estava sendo afligido daquela maneira, porque o próprio Deus declarou acerca dele não apenas que era um homem reto, mas também íntegro.
Ele não estava sendo castigado por ser um malfeitor, mas sofrendo por causa do seu amor a Deus.
Ele estava sendo chamado a dar o testemunho de amor a Deus no vale da provação, tal como todo servo fiel é também chamado a dar, para que o Senhor seja glorificado na fidelidade e no amor deles por Ele.
Não são os confortos e os prazeres deste mundo o fim último e a razão de ser de nossa vida.
Todas estas coisas serão desfeitas com o tempo, e cessam na morte.
Mas, o espírito permanece vivo e convém que seja achado na presença de Deus.
Afinal, a sentença de retornar ao pó não foi dada ao espírito, senão ao nosso corpo que foi feito do pó da terra, e que sendo um elemento natural, não participante do mundo espiritual, deve retornar à terra, de onde foi tirado no princípio para ser formado, quando Deus criou o primeiro homem, do qual todos somos descendentes, a saber, Adão.