Não podemos esquecer que todas as palavras de Jó em seu livro, foram proferidas por ele quando se encontrava em sua grande aflição, e não confortavelmente instalado num escritório escrevendo sobre teologia.
Não era seu propósito definir os atributos de Deus, e meditar sobre as Suas grandezas, para registrá-las por escrito.
Ao contrário, ele fala da miséria em que ele se encontrava, e usou-a para ilustrar quão passageira e incerta é a vida do homem neste mundo.
Ele chega a comparar os homens com as árvores, conforme vemos neste 14º capítulo, porque a estas é dado rebrotarem muitas vezes se forem cortadas, e permanecerem por um período de vida na terra muito maior do que aquele que tem sido permitido por Deus ao homem.
Esta brevidade da vida na terra é comumente esquecida quando alguém se encontra sem aflições.
Ainda que Jó não tenha feito tal reflexão, é importante que a façamos, a saber, quanto à utilidade da aflição neste propósito divino de nos lembrar de tal brevidade de vida, e que deveríamos, portanto, ponderar todos os nossos caminhos, porque um dia nos apresentaremos a ele em juízo.
Deus pôs limites à existência de cada homem, e assim, não poderão ultrapassar os limites de sua existência neste mundo.
Tudo se desgasta pelo uso na natureza, para que o homem se lembre que ele também passará e já não será achado neste mundo.
Com isto, o Senhor nos ensina a não colocarmos nossas esperanças neste mundo e em nada que nele há, porque é certo que nos arrancará dele no tempo que tem determinado para cada um de nós.
Por isso somos chamados a juntar tesouros no céu e não na terra, porque não é aqui a nossa morada eterna.
Nem mesmo poderemos nos gloriar, depois que morrermos, conforme dito por Jó, nas honras que nossos filhos vierem a receber e nem compartilhar das dores das humilhações que eles vierem a sofrer (v. 21).
Disto se aprende que sequer vale o argumento de que devemos colocar aqui na terra as nossas esperanças, objetivos e expectativas, em razão de que elas se justificam por causa de nossos filhos.
Pela sua própria experiência, que estava vivendo, Jó tinha autoridade para dizer tais palavras porque lhe fora dado estar como que morto em vida.
Os humores da podridão da morte estavam espalhados por todo o seu corpo.
A ausência inexplicável, para Ele, da presença de Deus, tudo o que havia perdido, inclusive todos os seus filhos, estando despojado de tudo e de todos, poder-se-ia bem se dizer dele que não vivia, mas que já estava morto.
Então, podemos dar a devida consideração a todas as suas palavras, quanto a nos alertar que não vale a pena investir nas coisas deste mundo que passa.
Se nenhum outro testemunho ou ensino tivéssemos na Bíblia a tal respeito, este de Jó seria bastante para nos incentivar a estarmos crucificados para o mundo e o mundo para nós, e empenharmos todo o nosso vigor e empenho nas coisas relativas ao reino de Deus, que permanece para sempre.