Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“Pois se elevam acima de minha cabeça as minhas iniquidades, como fardos pesados, excedem as minhas forças.” (Salmo 38.4)
Proponho, em primeiro lugar, falar dos terrores que frequentemente acompanham a convicção de pecado. Em segundo lugar, descrever os casos de alguns que, embora realmente convencidos do pecado, são, no entanto, estranhos a esses terrores. E, em seguida, dirigir algumas palavras de conselho, tanto para aqueles que são extremamente quebrados por medos cruéis e aqueles que, por outro lado, que são mais gentilmente trazidos a Cristo.
Há um grande e atroz TERROR DE MENTE frequentemente associado à convicção de pecado. Normalmente, quando a Graça Divina entra no coração, uma das primeiras coisas que ocorre é uma espécie de medo indefinível. O homem não sabe como ou por que ele tem tanto medo. Ele se sentia seguro o suficiente antes, mas agora o próprio chão sob seus pés parece ser podre. Ele brincou com o pecado, pensando que era apenas uma coisa pequena, mas, de repente, ele começa a tremer por causa do pecado. Ele descobre que a serpente tem uma picada mortal e ele tem medo dela.
Às vezes, de noite, ele vai ficar com medo com visões em seus sonhos e, de dia, algo mais vivo do que as visões aparecem diante dele. Agora, ele começa a acreditar que existe um inferno, que há um só Deus, que o pecado deve ser punido, que tem pecado e que, portanto, ele deve perecer! Ele não sabe o que deve fazer, mas sente que algo deve ser feito, seja por si ou por outra pessoa, porque sua alma está realmente temerosa. Em maior ou menor grau, ele tem pela primeira vez o medo da punição que virá – por meio da Graça de Deus, cresce nele um medo do pecado!
Então, quando esse medo aumenta, uma espécie de inquietação e desassossego se apodera do homem. Davi nos conta sua própria experiência e a sua oração quando ele estava em tal estado dizendo: “Ó Senhor, não me repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor porque suas flechas se cravaram em mim, e sua mão me aperta dolorosamente. Não há coisa sã na minha carne, por causa da tua ira, nem há… descanso em meus ossos, por causa do meu pecado.” Esse é o caso de um homem sob a convicção do pecado, ele fica inquieto e pouco à vontade. Aquelas coisas que ele considerava prazeres agora lhe parecem ser extremamente dolorosas. Se ele ainda procura os divertimentos nos quais uma vez havia se regozijado, eles somente o adoecem agora, ele não pode suportar sequer olhar para eles. Ele tem um coração tão triste dentro dele que ele não quer ter músicas cantadas para ele, pois elas parecem estar fora do lugar para um homem como ele se sente agora.
Os companheiros de tal homem não podem entender o que está acontecendo com ele! Eles pensam que ele está sofrendo de uma crise de melancolia. Ele, então, começa a buscar descanso em seu lar, mas, de alguma forma, até mesmo a sua própria família não pode dar-lhe a paz que ele experimentou uma vez. Sua esposa acha que algo estranho veio sobre ele, e deve ser algo bastante incompreensível para ela. Esta inquietação e desassossego de espírito vai crescer, pouco a pouco.
Com alguns homens este estado de espírito vai continuar até que eles vêm, enfim, a ter totalmente nojo de si mesmos. Eles podem até adotar a linguagem de Davi, no Salmo do qual eu tomei o meu texto. “Sinto-me encurvado e sobremodo abatido, ando de luto o dia todo. Ardem-me os lombos, e não há parte sã na minha carne. Estou aflito e mui quebrantado; dou gemidos por efeito do desassossego do meu coração.” (v. 6-8). Houve quem disse que ele gostaria de ter sido uma rã ou um sapo, nada melhor do que um homem, quando ele percebeu o quão pecaminoso ele tinha sido!
Ele se sentia tão detestável à sua própria visão por ter pecado contra a luz, contra o amor, contra a longanimidade, por ter rejeitado a Cristo, entristecido o Espírito Santo e desprezado o sangue precioso que por si só pode purificar do pecado! Todas essas coisas vêm antes à mente do homem e ele acha que nenhum castigo é muito ruim para ele. “Não”, ele diz, “eu pensava que era uma coisa injusta que um homem fosse lançado fora por toda a eternidade, mas agora eu sinto que o que você faz comigo, ó Deus, não é nada severo demais! Mereço tudo o que sua Justiça Infinita possa trazer sobre mim.”
Mas se você tem tido esta experiência, agradeça a Deus por ela. Há milhares de pessoas que passaram por essa experiência e, ainda, através da espessa escuridão, vieram para a mais brilhante luz de Deus!
O homem forte de repente torna-se fraco como uma criança. O homem muito sábio, o crítico agudo, o juiz severo dos outros, de repente torna-se gentil, bondoso, manso no espírito. Ele não é agora uma provação sobre qualquer outro homem, pois ele tem o suficiente para estar de pé diante do tribunal da sua própria consciência – e ele teme que seja julgado e condenado por seu Deus! Ele costumava falar, em tempos idos, muito sobre a dignidade e a força do homem, mas agora ele sabe mais sobre a depravação e fraqueza humana. Ao mesmo tempo, ele costumava dizer: “Eu posso crer em Cristo, sempre que eu quiser. Posso ser salvo quando eu quiser!” A salvação parecia-lhe um assunto muito fácil naqueles dias, mas agora parece que a coisa mais difícil do mundo é crer em Cristo da maneira correta!
Caros amigos, todo o sofrimento que é sentido pela mente quando sob a convicção do pecado não é a obra do Espírito de Deus, embora algumas delas sejam. Sem dúvida, parte do horror que tenho descrito vem de Satanás. Ele não quer perder aqueles que foram seus súditos. Ele vê que aquele que já foi um escravo muito contente começa a sentir a sua cadeia cansativa e sonha em escapar da servidão cruel e, portanto, Satanás traz para fora o seu grande chicote para assustá-lo, diz que ele não deve tentar fugir, ou ele vai açoitá-lo por seus pecados passados. Assim, os pobres se agacham a seus pés e Satanás diz: “Agora é a minha única chance de impedi-lo de escapar. Servos dos poderes infernais o atacam e o atormentam e insinuam toda dúvida e todo o medo e toda blasfêmia que você possa imaginar! Não vamos deixar pedra sobre pedra para quebrar seu coração e arruiná-lo antes que ele chegue à paz através de Cristo.”
Outra parte dessa agonia, sem dúvida, surge da ignorância da verdade da liberdade que há em Cristo. Se algumas dessas almas pobres soubessem mais, elas iriam sofrer menos.
No entanto é necessário lembrá-lo de que esses horrores e terrores, não são essenciais para a salvação, ou então eles teriam sido ordenados. Fé e arrependimento, é o que é essencial para a salvação, pois está escrito: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo.” “Aquele que crer e for batizado será salvo.” As coisas que são essenciais para a salvação são colocadas muito claramente nas Escrituras. Eu não leio em qualquer lugar da Palavra de Deus: “seja tentado pelo diabo, e você será salvo.” Eu não leio, “Sinta um horror de grandes trevas e você será salvo.” Eu não acho que o Senhor te designou ao desespero, a fim de que sejas salvo.
Duvidar, por exemplo, se Cristo pode me salvar é um pecado hediondo! E pensar que meu caso é tão ruim que Deus não pode apagar o meu pecado é a duvidar de Sua Onipotência e fazer-lhe uma desonra grave.
Você vê que aquela cruz? E você vê Jesus, o Filho de Deus feito carne, sangrando e morrendo lá? Olhe para Ele e você será salvo! Confie nEle e todos os seus pecados serão perdoados de uma só vez. Esse é o verdadeiro Evangelho que dá paz aos corações perturbados. “Então, eu digo a você, pobre amigo com problemas, e você que não está incomodado, fuja para Cristo! Confie no Filho de Deus para salvá-lo e ele vai te salvar!
Confie nEle com a enorme carga de seu pecado e Ele vai levá-la em cima de seus ombros e lança-las no Mar Vermelho de Seu sangue expiatório!