O evangelho é a boa nova de alegria para a nossa salvação, mas ele não deixa de apontar para o juízo eterno de Deus sobre o pecado, caso não sejamos justificados pela fé em Cristo.
Assim, o evangelho é apenas boa nova para os que se convertem por meio da graça e mediante a fé, quando se arrependem do pecado.
A graça evangélica que seria manifestada por Jesus sempre está associada à fé e ao arrependimento, e a um caminhar condigno com a santidade de Deus.
Então é por isso que não vemos nenhuma das epístolas escritas pelos apóstolos desobrigando os crentes de um viver santo e piedoso, sob a alegação de não estarem mais debaixo da Lei e sim da graça do evangelho; porque sabiam que a graça é daqueles que amam a vontade de Deus, que detestam o pecado e que amam a santidade.
Foi para salvar estes que se arrependem que Cristo se manifestou. Ele morreu por todos os pecadores, mas apenas aqueles que creem nEle e se arrependem podem ser beneficiados pela Sua morte e desfrutar das bênçãos prometidas por Deus para o Seu povo.
Nós podemos ver estas verdades no capítulo 29 de Isaías, no qual Jerusalém é chamada pelo codinome de Ariel. E o capitulo é introduzido pela expressão interjetiva “Ah!” como um suspiro, porque é relativa à cidade onde Davi acampou, isto é, onde ele estabeleceu a sua casa, porque Jerusalém era chamada de a cidade de Davi.
Mas eles não andaram nos caminhos de Davi. Não imitaram a sua devoção e piedade.
Então é proferido o que o Senhor lhe faria:
“Então porei Ariel em aperto, e haverá pranto e lamentação; e ela será para mim como Ariel.” (Is 29.2).
São proferidas as assolações que lhes sobreviriam da parte de Babilônia, que a sitiaria e a abateria (v.3,4), e eles se sentiriam como mortos que descem ao pó.
Muitos inimigos prevaleceriam contra Judá, porque os babilônios viriam coligados a outros povos contra Judá, como por exemplo os moabitas e amonitas (v. 5).
E como todos os juízos do Senhor, isto viria repentinamente, como o ladrão, tal como nos dias de Noé, em Sodoma e Gomorra, e como também será no tempo do fim, conforme Jesus afirmou.
Não é afirmado, portanto, na profecia, como também não é no evangelho, que Deus está esperando bons frutos de árvores más.
Antes é dito que estas árvores más serão cortadas. Que as pérolas do evangelho não devem ser lançadas a porcos. Que não se deve pregar a paz a uma sociedade corrompida, senão que há um juízo aguardando por aqueles que não temem a Deus.
Deus deixa entregues a si mesmos aqueles que amam as trevas e não a luz. Aqueles que amam a mentira e não dão ouvidos à verdade. Ele deixa os que resistem continuamente à Sua vontade, entregues ao próprio endurecimento deles. Ele não lhes concede graça para que achem arrependimento. E nem toca a trombeta de alerta para eles para que despertem do sono de morte em que se encontram, como vemos afirmado nos versos 10 a 12:
“10 Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, os profetas; e vendou as vossas cabeças, os videntes.
11 Pelo que toda visão vos é como as palavras dum livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não posso, porque está selado.
12 Ou dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não sei ler.”
Eles eram religiosos só de aparência. Eram falsos piedosos em suas obras externas, mas não tinham o poder da piedade operando pela graça em seus corações. Então a devoção deles não era em espírito e em verdade, mas uma adoração falsa. Como se costuma dizer: da boca para fora, mas não de fato e de verdade. Então se afirma o que lemos no verso 13:
“13 Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu coração, e o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens, aprendidos de cor;”.
Com isso o Senhor prometeu que faria, portanto, uma obra maravilhosa com aquele povo hipócrita, com aqueles judeus que eram apenas no nome, mas não no coração, não que consistisse em sinais e maravilhas externos, mas em fazer com que a sabedoria dos seus sábios perecesse diante da glória sobre-excelente do evangelho.
O entendimento dos entendidos a seus próprios olhos nos assuntos da religião ficaria obscurecido pela grande luz do evangelho, porque pelo Espírito Santo derramado no coração dos crentes, eles discerniriam que a doutrina dos líderes de Israel não passava de fumaça e de mandamentos de homens (v. 14).
Deus é onisciente e tudo sabe e conhece, inclusive as intenções dos corações. Mas os que não têm o Seu temor não conseguem ver esta verdade, e vivem enganando e sendo enganados, pensando que o Senhor não leva tal procedimento em consideração (v. 15). Não sabem que há um “Ai!” proferido contra eles, porque serão afligidos no dia do juízo.
Eles não conseguem enxergar que Deus é o oleiro e não o barro. Ao contrário, agem como se fossem oleiros, pensando que podem manipular o Senhor em suas obras e ações, e por isso rejeitam o Seu governo e disciplina em suas vidas (v. 16).
Assim, enquanto os sábios e entendidos, que julgavam enxergar e conhecer completamente a Deus e a Sua vontade, permaneceriam cegos e endurecidos pelo Senhor, Ele daria vista espiritual aos que se reconheciam cegos, isto é, ignorantes da Sua pessoa e vontade, e daria que aqueles que nunca ouviram ou não podiam entender a Sua Palavra, pudessem ouvi-la e compreendê-la (v. 17, 18).
Deus não se revelaria portanto aos sábios e entendidos a seus próprios olhos, mas aos pequeninos, a saber, aos mansos (submissos à Sua vontade), aos pobres de espírito, e por isso se afirma que são estes os que são bem-aventurados porque são aqueles a quem Deus se dará a conhecer, como também a Sua vontade. Assim estes pequeninos que se converteriam ao evangelho não se alegrariam e não gloriariam em si mesmos e no seu conhecimento, mas unicamente no Senhor (v. 19).
Enquanto isto, os opressores, os arrogantes, seriam reduzidos a nada, e todos os escarnecedores da verdade e todos os que se dão à iniquidade, serão desarraigados, porque não serão eles que herdarão a terra, senão somente aqueles que se deixam instruir por Deus, porque são mansos e pobres de espírito (v. 20).
Os versos 22 a 24 descrevem de modo muito claro a grande verdade evangélica que somente quem é espiritual pode discernir as coisas espirituais, e tudo discernir sem ser por ninguém discernido.
Então Deus fala pelo profeta nestes versículos que esta mensagem ficaria selada para o entendimento dos israelitas, e assim eles não poderiam deixar de ficar envergonhados da glória vazia da devoção deles, pensando que fosse algo muito elevado, quando na verdade era uma adoração de lábios de corações afastados do Senhor. Mas isto, como se diz no verso 23 só poderia ser discernido quando o Senhor fizesse a obra das Suas mãos no meio de Israel através de Jesus Cristo, então santificariam o Santo de Jacó e temeriam ao Deus de Israel, porque veriam que o Seu reino não consiste em palavras, mas em demonstração do Espírito Santo e de poder, o que seria manifestado pelo evangelho.
E tão abundante seria o derramar da graça, que os errados de espírito viriam a ter entendimento, e os murmuradores deixariam a murmuração para aprenderem a instrução do Senhor (v. 24).
Eis pois declarado o poder do evangelho para nos salvar e purificar do pecado.
Tão importante e maravilhoso é isto que Deus prometeu, muitos séculos antes, de várias formas e em vários lugares, por meio dos Seus profetas, o evangelho que haveria de ser manifestado por meio de Jesus – o Salvador e Senhor.
Pr Silvio Dutra