Nas origens do cristianismo, os apóstolos proclamaram a primazia do Espírito sobre qualquer outro tipo de orientação. Paulo identificou alguns excessos e orientou o uso dos dons para a edificação da igreja, colocando em primeiro lugar a profecia, entretanto esse dom deveria ser disciplinado mediante o discernimento, por conta de falsos profetas.
No século II a primazia continua do Espírito, sem conflito com a institucionalização da Igreja, entretanto ao final desse século surge a crise do Montanismo. Há oposição entre a igreja espiritual e a igreja instituição, pois entenderam o Montanismo como uma ameaça à unidade e à ordem na Igreja. A experiência do Espírito no século III torna-se tão excepcional que força os bispos a organizar liturgias e ministérios, recorrendo ao simbolismo sacerdotal do Antigo Testamento.
João Crisóstomo afirma que os dons eram somente para a igreja primitiva e não mais para os dias hodiernos. A partir de Irineu, o Espírito Santo foi reduzido à igreja. Embora a tradição oriental tenha um conceito amplo de igreja, onde ela e o Espírito estão em tudo, assim o mundo não fica fora da ação do Espírito; no ocidente, a igreja identificou-se com a hierarquia. Então vemos o Espírito Santo ligado à igreja-Instituição e ao conceito de poder; o Espírito está com a Igreja instituição contra o império. O Espírito age no mundo por meio da igreja institucional. Assim a eclesiologia do século XIV procura definir os poderes da igreja, situando nela o poder do Espírito.
Segundo Abade Joaquim, apoiado pela teologia popular, eles estavam na véspera do advento da idade (era) do Espírito Santo, as outras foram a do Pai e a era do Filho (Jesus), sendo, esta era, a renovação da sociedade inteira, uma mudança da história. A igreja reagiu com força, Tomás de Aquino atacou Joaquim duramente, dizendo que tudo o que se podia esperar do Espírito Santo já foi dado e está presente na Igreja, com isso o tomismo favorecia a igreja-Instituição.
Essa estrutura básica não foi mudada por Lutero e Calvino, que a mantiveram ligados ao poder da Igreja. Eles lutavam contra a igreja romana e contra as igrejas populares, onde os desprezavam taxativamente. Assim surgiu o dualismo: igreja-mundo.
A masculinização do Espírito Santo que passou do original “feminino”, na cultura hebraica; tornando-se “neutro”, na cultua grega, finou raízes, no latim, como gênero “masculino”, embora sua atuação refere-se à maternidade (feminina).
Deus não tem sexo, é claro! Mas as palavras que falamos de Deus, diz respeito ao gênero humano (homem e mulher). No ocidente, Agostinho, eliminou toda referência ao feminino, pois não considerava a mulher como imagem de Deus. O tomismo acolheu esse pensamento, pois, afinal, se o Espírito é poder, a masculinidade lhe convém melhor.
A ausência de uma teologia e de uma prática do Espírito Santo provocou o triunfo do ateísmo, ao racionalizar e intelectualizar o cristianismo, concentrado num clero extremamente intelectual, e alheios a qualquer experiência do Espírito, desde sua formação. Com isso, o catolicismo popular, foi se identificando com os evangélicos (pentecostais) e/ou caindo no ateísmo.
O intelectualismo, portanto, destruiu a religião do povo, sendo agente do ateísmo. Além disso, o Deísmo, substituindo o Deus Trino, aparece como Senhor, todo-poderoso, conhecido pela razão e não pela fé, dono de tudo, que exige obediência total, cuja figura está ligado ao poder, gerando a rejeição do homem, pois, diante de tal deus, nada pode fazer, não existe espontaneidade, enclausurando o ser humano na obediência em toda sua existência.
Se, atualmente, assistimos a uma renovação da experiência do Espírito Santo, trata-se de um fenômeno único na história da Igreja desde o 3º século. As expressões de tal experiência vêem-se nas comunidades de fé, nas periferias, nas pequeninas igrejas, longe de ficar reduzida aos carismas da igreja primitiva, mas, que na verdade, se realiza na história, não individual, mas ligada à constituição da comunidade de fé.
Essa renovação chama a atenção dos teólogos, onde nem todos se convencem, embora os maiores deles sintam que se trata de algo fundamental, não é uma revisão histórica, mas, se for, devemos remontar à crise no fim do século II.
Com o desafio do ateísmo, exige-se reformas mais radicais. O ateísmo não poupará nada da antiga cristandade. A reforma do século XVI foi brincadeira diante da atual conjuntura, pois mudaram a superfície, e não tocaram no fundo da questão.
A nova experiência do Espírito é um passo, se interpretarmos corretamente os sinais dos tempos.
Esse passo já entrou no caminho do cristianismo do futuro.
Reflitamos sobre isso!
Ev. Valter Borges
Pr. AD Thelma