Quando examinamos a história da igreja percebemos que no passado existiam algumas características importantes que formaram o pensamento teológico da igreja. Vejamos, por exemplo, alguns aspectos que marcaram o pensamento teológico no tempo da Patrística:
Naquela época a tarefa fundamental era delimitar a relação existente entre cristianismo e judaísmo.
As cartas de Paulo, no Novo Testamento, são uma prova da importância desse ponto no primeiro século da história cristã, à medida que várias questões práticas e doutrinárias passaram a ser consideradas. Os cristãos gentios (isto é, os não judeus) eram obrigados a circuncidar-se? Como o Antigo Testamento deveria ser corretamente interpretado?
Uma das que tiveram importância especial no século II foi a da apologética – a defesa argumentativa e a justificação da fé cristã perante seus críticos.
Ao longo do primeiro período de história cristã, a igreja foi freqüentemente perseguida pelo Estado. Sua agenda era sobreviver; havia espaço limitado para debates teológicos, quando a própria existência da igreja cristã não poderia ser considerado um fato consumado.
Essa observação nos ajuda a entender, por meio de escritores como Justino Mártir (c. 100 – c.165), preocupados em explicar e em defender as crenças e práticas do cristianismo a um público pagão hostil, por que a apologética tornou-se uma questão de tamanha importância para a igreja primitiva.
Embora esse primeiro período tenha produzido alguns teólogos extraordinários – como Irineu de Lion (c. 130 – c. 200), no ocidente, e Orígenes (c. 185 – c. 254), no oriente, o debate teológico só pôde, de fato, iniciar-se uma vez cessada a perseguição à igreja. Assim, a teologia saiu da obscuridade dos encontros secretos para tornarem-se, ao longo de todo o Império Romano, uma questão de interesse e preocupação públicos.
O período assistiu ao surgimento de um grande cisma, por razões tanto políticas quanto lingüísticas, entre as igrejas do oriente, de língua grega, e a do ocidente, de língua latina.
Sua teologia era ainda uma “mensagem,” um kerygma.
A teologia deles ainda era uma “teologia kerigmática,” ainda que ela, freqüentemente, fosse arranjada logicamente e suprida com argumentos intelectuais. As referências definitivas eram ainda, segundo a visão da fé, ao conhecimento e experiência espiritual. Separada da vida, a teologia Cristã não leva convicção, e se separada da vida da fé, a teologia pode degenerar em dialética vazia, numa vã polylogia, sem nenhuma conseqüência espiritual. A teologia Patristica era enraizada existencialmente no decisivo comprometimento da fé. Não era uma disciplina “auto-explanatória” que poderia ser apresentada argumentativamente, isto é aristotelicamente, sem nenhum compromisso espiritual prévio.
Na época da disputa teológica e de debates incessantes, os grandes Padres Capadócios protestaram formalmente contra o uso da dialética, dos “silogismos Aristotélicos,” e lutaram para referir a teologia de volta para a visão da fé. A teologia Patristica só poderia ser “pregada” ou “proclamada” — pregada do púlpito, proclamada também nas palavras das orações e dos ritos sagrados, e assim manifestada na estrutura total da vida Cristã. Teologia deste tipo não pode nunca ser separada da vida de oração e do exercício das virtudes. “O clímax da pureza é o inicio da teologia,” como coloca São João Clímaco: τελος δε αγνειας υποθεσις θεολογιας (Scala Paradisi, grau 30).
Ev. Valter Borges
Pr. AD Thelma