I Co 1.10-13,17
“Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês; antes, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer. Meus irmãos, fui informado por alguns da casa de Cloe de que há divisões entre vocês. Com isso quero dizer que algum de vocês afirma: ‘Eu sou de Paulo’; ou ‘Eu sou de Apolo’; ou ‘Eu sou de Pedro’; ou ainda ‘Eu sou de Cristo’. Acaso Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vocês? Foram vocês batizados em nome de Paulo? (…) Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho, não porém com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não seja esvaziada” (I Co 1.10-13,17, NVI).
Paulo estava na cidade de Éfeso, em meio a um poderoso avivamento (Atos 19), quando recebeu algumas visitas que vinham da cidade de Corinto e traziam notícias sobre a situação da igreja.
A igreja de Corinto era relativamente nova; ela havia sido fundada pelo apóstolo durante a sua segunda viagem missionária. Contudo, apesar de sua pouca idade, a igreja era rica em conhecimento, em palavra, em experiências e em dons espirituais. O próprio Paulo reconhecia que não faltava nenhum dom à igreja (I Co 1.7). Mas, apesar disso, a igreja estava doente. Do lado de fora tudo parecia bem, mas do lado de dentro havia uma grande podridão.
Infelizmente, essa é a situação de muitas pessoas que estão nas igrejas nos dias de hoje. Há muitos cristãos que por fora aparentam ser extremamente espirituais, levantam as mãos, choram e oram em voz alta; mas por dentro estão cheios de pecados, permanecem invejosos, amargurados, magoados e ressentidos com outros irmãos. São pessoas que, apesar de conhecerem o evangelho e estarem na igreja, estão completamente doentes.
A doença que estava destruindo a igreja de Corinto chamava-se divisão. Dentro daquela comunidade, havia pelo menos quatro grupos distintos e divididos: os defensores de Paulo, de Apolo, de Cefas (Pedro) e de Cristo. Era uma situação parecida com algo que ocorre freqüentemente hoje: as pessoas discutem ferozmente entre si para elegerem o “melhor” pastor, dividindo-se. Por isso Paulo, diante do relatório dos irmãos, decide escrever essa carta tão pastoral. Logo no início Paulo faz alguns alertas aos irmãos contra as divisões e depois, até o capítulo 6, ele busca tratar de alguns problemas que entraram na igreja por causa dessa doença.
O primeiro alerta acontece no início do versículo 10. Ele pode ser discernido a partir do uso da expressão que em nossa Bíblia está traduzida por “rogo-vos”. Essa palavra é a tradução do grego “parakaleo”, que significa “encorajar o soldado, alertando-o para a realidade da guerra”. Quando um comandante percebia a aproximação do inimigo, ele gritava a expressão “parakaleo” para os seus soldados, a fim de que ficassem alertas contra os ataques que poderiam destruir todo o exército. Os cristãos precisam saber que estão em meio a uma guerra contra os espíritos das trevas, que querem destruir a igreja semeando divisões no meio dela. “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não poderá subsistir; se uma casa estiver dividida contra si mesma, também não poderá subsistir” (Mc 3.24,25). Os espíritos das trevas conhecem esses princípios e por isso eles têm investido tão pesadamente contra a igreja, sugerido comparações e críticas, jogando cristãos contra cristãos e líderes contra líderes. Nunca antes houve tanta difamação contra a igreja, competições camufladas entre crentes para a identificação do mais cheio de unção ou do mais espiritual, além de disputas mundiais entre igrejas para se descobrir qual é a maior. O apóstolo Paulo conhecia essa tática das trevas; por isso ele chamou os cristãos para acordarem e perceberem tal tática.
Ainda no versículo 10 vemos o segundo alerta de Paulo. Ele diz que todos devem falar a mesma coisa, e sua ênfase está na linguagem usada para a proclamação da mensagem do evangelho. Sem dúvida, a existência de muitas linguagens diferentes favorece a desagregação e, conseqüentemente, a divisão. Talvez, o maior exemplo bíblico disso seja a torre de Babel (Gn 11.1-9). Nesse texto, lemos que o próprio Deus reconheceu que a existência de uma única linguagem é fator determinante para o sucesso de qualquer empreendimento coletivo. Não importa se esse empreendimento é proposto por crentes ou incrédulos. Se existe uma única linguagem, o crescimento é certo, mas o oposto também é verdadeiro. Sabedor disso, Paulo conclamou os cristãos a não se deixarem confundir pelos muitos ventos de doutrinas que estavam assolando a igreja. Eles precisavam se manter firmes, alicerçados na Palavra da cruz.
O terceiro alerta está registrado no versículo 17, que diz: “Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo”. Provavelmente, a maior causa de divisão da igreja de Corinto era relacionada com o batismo, que para muitas pessoas estava se tornando uma forma de “agremiação partidária”. Quando alguém era batizado, as pessoas perguntavam: “Quem batizou você?”, e qualificavam o batizado de acordo com a linha de pensamento do batizador. Nos dias de hoje, é como se o fato de alguém ser batizado por um pastor em evidência em uma igreja grande e conhecida fosse a realidade mais importante da face da terra.
A divisão é como um câncer: mesmo não notada no início, vai corroendo o corpo de Cristo até a morte da congregação. Sejamos prudentes, nos lembrando sempre do que nos diz a Palavra de Deus: “Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um só corpo, e cada membro está ligado a todos os outros” (Rm 12.4,5; ler também I Co 10.17 e 12.20; Ef 4.4).