Rute
Nós vamos iniciar, hoje, uma série de cinco mensagens expositivas sobre o livro de Rute, na intenção de mostrar, através deste livro, o que a Bíblia nos ensina sobre relacionamentos. Todavia, antes de começarmos a estudar cada uma das partes do livro, devemos observar o livro como um todo. No livro de Rute, destacamos pelo menos duas mensagens centrais.
A primeira se refere à “plena causalidade” de Deus, ou melhor dizendo, é a mensagem que fala sobre a direção contínua, soberana e providencial de Deus. Através da leitura percebemos que Deus está em toda parte, mas totalmente escondido em coincidências e planos puramente humanos. Em 2.3, por exemplo, lemos que Rute, por casualidade, entrou na parte do campo que pertencia a Boaz, vindo a encontrar-se com ele. Em 3.1 lemos o plano arriscado de Noemi para o casamento de Rute com Boaz e vemos que o plano funcionou perfeitamente. Isso não é coincidência, mas a ação providencial de Deus.
A segunda refere-se à graça de Deus, ou melhor, é a afirmação de que Deus não faz acepção de pessoas. Antes, todo aquele que tem no seu coração a disposição de buscar o Senhor, esse é recebido por Ele. Para Deus não há filhos ou filhas prediletos. Em 2.10-12 lemos que Rute não é discriminada apesar da sua origem e nem desprezada por Deus apesar de não ser israelita; diz o texto que ela não foi repulsada quando veio buscar refúgio sob as asas de Deus. Em 4.18-21 lemos que Rute, apesar de não ser do povo de Israel, foi incluída por Deus na genealogia de Davi e, conseqüentemente, na genealogia de Jesus.
O texto de Rute 1.1-6 nos conta a história de uma família comum. À primeira vista, parece ser uma história bastante triste e cruel, e podemos perguntar onde Deus estava no meio de todas essas aflições. Mas precisamos voltar para o texto a fim de compreender melhor a sucessão dos acontecimentos. Logo no versículo 1, lemos “nos dias em que julgavam os juízes, houve fome na terra”. A compreensão desse texto é sumamente importante para o entendimento dos fatos posteriores. No tempo dos juízes o povo de Israel recebeu um cuidado bastante específico de Deus. Ao ler o livro de juízes percebemos que em todo o tempo Deus estava buscando ensinar ao seu povo a vida de santidade. Ele não queria apenas que o seu povo carregasse o seu nome, mas queria que o seu povo fosse exclusivamente seu. Por isso, quando percebia que o povo começava a se desviar, Ele intervinha permitindo que inimigos atacassem a Israel ou fechando os céus para que não chovesse na terra. O capítulo 3 do livro de Juízes fornece informações adequadas para a compreensão de todo esse período.
Chegamos à conclusão de que esse período de fome foi resultado da disciplina de Deus sobre Israel. Mas Elimeleque, ao invés de permanecer na cidade e se submeter à disciplina de Deus, resolve sair da terra de Judá para residir na terra de Moabe. A conclusão a que se chega, pela leitura do contexto maior, é que Elimeleque estava tentando fugir da disciplina de Deus que estava vindo sobre todo o povo. É muito provável que sua rebelião contra a disciplina de Deus tenha sido a causa da sua morte na terra de Moabe. O mesmo ocorreu a Malom e Quiliom, que decidiram permanecer naquela terra – e nesse caso, mais uma das evidências que revelam o desgosto de Deus para com eles está no fato de eles não terem conseguido deixar descendência (vide Gênesis 20; 29.31-35).
Algo mais que chama a atenção no livro de Rute são os nomes das pessoas. No Antigo Testamento, os nomes não eram dados por acaso; geralmente eles representavam uma situação que estava sendo vivenciada no momento pelo filho, pela família ou pela nação. Quando lemos o livro de Rute os nomes, particularmente, chamam a nossa atenção. Elimeleque significa ‘Deus é rei’; Noemi significa ‘deleite’; Malom significa ‘doentio’; Quiliom significa ‘tuberculose’; Orfa significa ‘rebelde’; e Rute significa ‘companheira’. Sem dúvida, esses nomes apresentam algo sobre realidade das pessoas ou das situações que existiam ao redor delas. Elimeleque provavelmente recebeu o seu nome como referência à boa situação em que se encontrava Judá no tempo do seu nascimento: o governo de Deus e a prosperidade do povo. E o mesmo se pode dizer quanto ao nome de Noemi. Quanto aos filhos, parece que provavelmente esses nomes não se referem a uma situação do povo de Judá, mas sim à sua própria saúde. É provável que, ao nascerem, eles tinham a saúde bastante debilitada, e sem dúvida a sua morte prematura parece revelar essa realidade de enfermidade em seus corpos. Por causa disso, eles certamente não poderiam conferir às pessoas a segurança de que estariam para sempre juntos.
Diante desse quadro é possível a aplicação de uma alegoria: pensemos em relacionamentos entre as pessoas. Com que tipos de pessoas nós devemos estabelecer relacionamentos profundos: com aquelas que não nos oferecem qualquer segurança de estarem continuamente do nosso lado ou com as que buscam viver uma vida íntegra? Quando buscamos estabelecer relacionamentos, é muito importante nós conhecermos a “saúde interior” das pessoas. Há muitos que são instáveis, cheios de problemas dentro delas mesmas, e por isso ora estão ‘numa boa’, ora estão ‘numa péssima’. Sem dúvida, esse não é o tipo de pessoa com a qual nós devemos estabelecer relacionamentos profundos, especialmente visando o namoro e o casamento. Esse tipo de pessoa não pode trazer segurança; ela vive em função dela mesma, da própria enfermidade. E, no fim, ela vai trazer aflições para a sua vida. Precisamos buscar pessoas verdadeiras, transparentes, saudáveis, equilibradas, não possessivas e que, sobretudo, tenham o temor do Senhor no coração. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e é ele que direciona a pessoa para o equilíbrio. Busque se relacionar com pessoas que sejam bênção para a sua vida.