Eclesiastes 7.10
Introdução
Quando se lê e se interpreta o livro de Eclesiastes é preciso que se tenha muita cautela.
Interpretar isoladamente muitas das declarações do autor sem levar em consideração o contexto inteiro do livro pode conduzir o leitor – intérprete a conclusões equivocadas.
Boa parte do conteúdo deste livro é composta por declarações que do “ponto de vista da fé”, são heréticas, falsas, ou no mínimo absurdas.
Por causa de tais declarações, este livro sofreu oposições para ser aceito no cânon sagrado. Alguns chegaram a dizer e outros ainda dizem que o autor deste livro foi um cético, um cínico e pessimista.
No entanto, no corpo deste livro, existe uma secção que vai do Cap 4.1-10.20, a qual parece o livro de provérbios. Nesta secção existe uma série de citações curtas que tratam de vários aspectos da vida.
O versículo lido está situado deste bloco de citações proverbiais no livro de Eclesiastes.
A verdade central deste versículo é que cada época tem suas dificuldades próprias, como também suas oportunidades peculiares e, por essa razão, lamentar as dificuldades de hoje desejando ardentemente épocas passadas é uma ação destituída de sabedoria; é agir imprudentemente.
Uma declaração como esta levanta imediatamente um questionamento. Por quê? Porque…
1. Desejar ardentemente uma época passada não ajuda a resolver as dificuldades de hoje.
O escritor não está dizendo que o passado não tem o seu valor, ele não está substituindo a importância de épocas passadas.
É claro que o passado tem o seu valor! Devemos sim olhar para o passado, avaliar os erros do passado para não repetirmos os mesmos hoje…
Devemos sim avaliar as coisas boas de uma época passada a fim de melhorá-las e aperfeiçoá-las no presente. Então, o escritor não está dizendo que devemos simplesmente esquecer o passado “porque o que passou, passou.”
O que ele está dizendo é que: vivermos lamentando as dificuldades atuais anelando viver tempos passados que foram bons, não resolve a questão.
E aqui eu acrescento: lamentarmos problemas passados que trouxeram conseqüências ruins para hoje, também não é uma atitude sábia. Quem assim o faz sofre com os problemas do passado, sofre com os problemas do presente, e o pior, sem lograr nenhum êxito na solução dos problemas atuais.
Isso eu falo no âmbito da igreja, família, matrimonio, da vida financeira, da vida espiritual de cada um.
É muito comum ouvirmos da boca de irmãos suspiros acompanhados das seguintes declarações:
· Já vivi momentos abençoados; já estive no auge espiritual…
· Já fui muito feliz no meu casamento…
· Minha família, já foi uma benção…
· Nossa igreja já viveu momentos abençoados…
Lamentar estas coisas não resolve. Quando focamos a nossa visão em épocas passadas e ficamos apenas lamentando a situação atual, perdemos toda e qualquer perspectiva de esperança futura. Não conseguimos enxergar uma luz no fim do túnel.
Portanto, Desejar ardentemente uma época passada não ajuda a resolver as dificuldades de hoje. O que fazer então?
É preciso que tomemos a iniciativa de recomeçarmos a partir do que temos hoje; a partir do que disponibilizamos hoje!
Você pode pensar: acho que não dá mais. Pois não restou muita coisa do que eu vivi.
Saiba que pra Deus isso não é problema. Para recomeçarmos com Ele não é preciso muita coisa, não.
Para alimentar uma multidão ele tomou como ponto de partida aquilo que se tinha disponível no momento. 5 pães e 2 peixinhos.
Para criar o homem a sua imagem e semelhança, com toda sua beleza e complexidade, Ele não precisou de muita coisa, não: apenas um pouco de barro, de pó da terra.
Para criar todo universo em toda a sua vastidão, beleza harmônica, e complexidade, Ele tomou como ponto de partida o “nada.”
Por isso, queres viver momentos gloriosos no âmbito de igreja, família e vida espiritual? Queres recomeçar?
Não fiquemos a lamentar a sua escassez, a sua sequidão, o seu estado de desolação!!!
Recomece a partir do que tens disponível no momento. Se você acha que não tem nada disponível no momento, quero que saiba que, com Deus é possível recomeçar a partir do nosso “nada”.
Mas em segundo lugar, por que não sábio viver o momento presente anelando uma época passada? Porque…
2. Pequenos recomeços com Deus podem ser o prenúncio de momentos gloriosos. ( Ed 3.11-13)
O livro de Esdras trata especialmente da reconstrução do templo de Jerusalém. O magnífico templo que havia sido construído por Salomão fora completamente destruído por Nabucodonosor, a nação de Israel fora reduzida a um bando de cativos na Babilônia. Setenta anos depois por uma intervenção divina, uma grande leva de Judeus retorna a Jerusalém com uma missão: “Reconstruir o templo, restabelecer a vida religiosa de Israel, restaurar o culto e a adoração ao Deus de Israel.
O cap. 3 de Esdras v.10 fala do momento em que os edificadores lançaram os alicerces da casa do Senhor. O v.12 mostra que esse momento foi acompanhado de choros e gritos de alegria. A geração que havia crescido e nascido no cativeiro fora tomada de uma grande alegria, porque estava presenciando o início do restabelecimento da vida espiritual da nação.
No entanto, alguns líderes idosos que faziam parte da geração que fora levada para o cativeiro, choraram em altas vozes. E qual era o motivo do choro?
Eles faziam parte da geração da geração que conhecera o magnífico templo de Salomão; ao verem a planta do templo que estava sendo reconstruindo eles choraram porque ela era incomparavelmente menor, inferior ao templo que eles haviam conhecido.
Aquele pequeno recomeço era como nada aos olhos daqueles que haviam sido testemunhas oculares da glória do primeiro templo.
Eles choraram lamentando aquele recomeço opaco, sem brilho, e sentindo saudades de épocas passadas.
Porém, esses gritos e choros de decepção foram capturados por Deus, eles não passaram despercebidos diante do Senhor dos recomeços. Ele levantou os profetas Ageu, Zacarias para darem uma resposta a essa nota negativa desses desanimados e desanimadores (Ag 2.3,4,7,9; Zc 4.10).
Os recomeços com Deus podem ser complicados e penosos. Por quê?
Tendemos desanimar quando avaliamos a distância que ainda existe entre o que éramos o que somos e o que gostaríamos de ser, quando avaliamos o quanto já fomos abençoados na família, no casamento, na vida profissional; quando avaliamos os momentos gloriosos que vivemos no passado, o momento que vivemos hoje, e o que gostaríamos de estarmos vivendo.
Tendemos a desanimar quando ouvimos a nota negativa dos desanimadores. (será que um dia você chegará lá?
Chegaremos lá?), em relação ao que vi e vivi, vimos e vivemos esse recomeço está muito fraco, está muito devagar.
A Palavra do Senhor pra nós hoje é a mesma que foi dada para aquela geração antiga que chorou ao verem o pequeno começo da restauração espiritual de Israel. Não menosprezem, não desprezem, não subestimem os pequenos começos e recomeços, pois com a benção do Senhor eles podem ser apenas o prenúncio de momentos de maiores glórias.
Em terceiro lugar, por que não é sábio viver o momento presente anelando uma época passada? Porque…
3. O anelo por épocas passadas e o lamento pelas dificuldades de hoje, podem nos impedir de usufruirmos do melhor de Deus. (Nm 11.5-6 / Êx 16.3)
Esses dois textos lidos são no mínimo, cômicos, ou seja, eles tem a capacidade de extrair de nós risadas.
Aqui, os Israelitas, simplesmente fizeram “vistas grossas” aos duros sofrimentos do cativeiro, lamentaram as dificuldades do deserto, lembraram das coisas boas que usufruíram no passado (peixes, panelas de carne, pão, pepinos, cebolas) e desejaram ardentemente voltarem uma época passada.
Esse texto é cômico porque a impressão que dá é que o cativeiro era uma benção; as duras cargas impostas pelos faraós eram uma maravilha; o chiado dos chicotes nos lombos era música agradável aos ouvidos; servir à tirania egípcia era melhor que servir ao Senhor.
Porém, essa atitude de lamentar as dificuldades do deserto e anelar por épocas passadas os impediu de entrar na terra de Canaã, terra que manava leite e mel, terra de abundâncias. Ou seja, essa atitude os impediu de usufruir do melhor de Deus.
Assim como os israelitas, muitos de nós, por causa de decepções sofridas com o que viu e ouviu no meio do povo de Deus, por causa das frustrações na caminhada cristã, chegaram à conclusão que ser escravo do pecado e do mundo é melhor que ser servo de Deus; que fazer o que quer é melhor que fazer o que Deus quer; que a libertinagem do mundo é melhor que a liberdade de Deus.
Convictos dessas coisas sentem saudades da vida de antes, outros passam a enxergar com bons olhos a vida lá fora, e encontram nos problemas da igreja local, nos erros de servos de Deus uma desculpa para abandonar a fé. E com isso são impedidos de usufruírem do melhor de Deus.
Mas a Palavra de Deus pra nós é: não anelem as épocas passadas, não almejem retornar às delícias do mundo; não use as dificuldades do deserto que você está passando para justificar o seu lamento nem para dar base ao seu desejo de voltar atrás.
Siga em frente, dê mais um passo, “Canaã é logo ali”, lá você usufruirá do melhor de Deus.
A nossa atitude deve ser a de Paulo que disse:
“…esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para o que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” Fl 3.13b-14.
Pr. Paulo César Nascimento