Este mundo é às vezes chamado de “vale de lágrimas”. Jesus disse: “No mundo tereis aflições”, mas ele também disse: “Em mim, tereis paz.” O caminho para o céu é através de tribulações. Aqueles a quem João viu em pé diante do trono e do Cordeiro vestidos de vestes brancas e com palmas nas suas mãos, estiveram um dia, onde estamos agora, e graças a Deus, nós, subindo através de grande tribulação, estaremos um dia onde eles estão. Enquanto o homem neste mundo, encontrará tristezas, ele pode, pela graça de Deus se alegrar sempre. O carvão alúmen quando jogado em águas turvas, as clareiam.
A graça de Deus, derramada em um cálice de tristeza vai transformá-lo em alegria. Dores são necessárias. Onde não há chuva, há apenas um deserto estéril.
Temos cantado: “Não há dias escuros para mim.” Isso pode de fato ser verdade, mas não é para ser entendido no sentido de que não haverá nuvens nem chuva. Mostre-me um homem que nunca tem uma nuvem flutuando no seu céu, e eu lhe mostrarei um homem que não tem fé suficiente para ver com clareza à luz do sol. Aqueles cuja fé penetra através da nuvem e mantém à vista o rosto sorridente e iluminado de Cristo, são os que têm a mais doce e verdadeira alegria. Sua alegria está no Senhor. Alguns podem enfrentar a dor com bravura e força de vontade e logo se tornam insensíveis a ela. Mas o coração que se endureceu contra a tristeza é com toda a probabilidade tão insensível que não pode experimentar a alegria.
Aqueles que conhecem a mais profunda tristeza podem muitas vezes conhecer a mais plena alegria, e isto no meio da sua dor. Não endureça o seu coração contra a tristeza, mas olhe para Jesus, para aquele bálsamo que cura, para aquela graça que sustenta, para aquele conforto que alegra. Alguns pensam que a verdadeira alegria consiste em nunca sentir dor; que aqueles que sentem tristeza não encontraram o caminho da paz. Nisto se enganam. Aqueles que nunca têm tristezas alegram-se porque não têm tristezas, mas alguns dos que sentem tristezas aprenderam a alegrar-se no Senhor. Isso é a verdadeira alegria.
“Triste”, disse aquele que foi crucificado com Cristo, “mas sempre alegre”. Ele nunca negou ter tristeza; não, ele disse: “tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração.” Mas ele também disse: “Glorio-me.” Era a tristeza profunda que o fez mais semelhante a Jesus. Ele sentia “Nos entristecemos”, disse ele, “mas não como aqueles que não têm esperança.” O mundo conhece uma tristeza que o cristão não conhece. O cristão deve ter cuidado de não endurecer o coração contra os sentimentos, para não se tornar incapaz de simpatizar com as dores de outrem, de sentir compaixão e piedade.
Deixe as lágrimas rolarem. Se você segurá-las, a fonte secará. Que o Senhor tenha piedade daqueles que não têm lágrimas! Jesus chorou. O apóstolo Paulo disse: “em muita tribulação e angústia de coração vos escrevi, com muitas lágrimas.” Oh, que coração insensível que não pode sofrer, que coração seco que não tem fonte de lágrimas! Não chora pelas dores dos outros e por isso, não pode se alegrar quando os outros estão alegres. Somente aqueles que choram podem realmente se alegrar.
Você se alegra porque você e sua família estão com boa saúde, porque seus amigos estão sorrindo para você, porque as circunstâncias que o rodeiam são favoráveis, porque você tem uma abundância de coisas boas para comer e roupas para vestir. Mas sua alegria é só nas coisas terrenas. Devemos ser gratos por essas coisas, mas eles são apenas a espuma do mar de alegria, a água se encontra embaixo. A verdadeira alegria é alegrar-se não somente no Senhor, mas com o Senhor. Alegrai-vos nas coisas nas quais Jesus e os anjos se alegram. Quando seus bens se deterioram, você encontra a sua alegria mais profunda, porque Deus está sendo glorificado.
Se você não pode chorar com os anjos, você não pode se alegrar com eles. Veja aquele peregrino idoso: a sua caminhada tem sido difícil e pedregosa; entes queridos desapareceram um por um do seu abraço; riquezas tomaram asas e voaram para longe; tristezas multiplicaram-se; são muitas as tribulações e pesados os fardos, ele tem os pés doloridos, está triste e cansado. Os anjos inclinam-se sobre seu pranto. Você pode chorar com ele e os anjos? Eles o confortam. A tristeza do seu coração começa a dissipar-se, a esperança começa a nascer. O brotar da esperança faz com que os anjos se alegrem.
Essa é a mais verdadeira alegria. Regozijai-vos quando almas são salvas; quando corações estão alegres; regozijai-vos quando Deus é louvado. Esta é a verdadeira fonte da mais pura alegria. Mas somente aqueles que são capazes de sofrer profundamente com o sofrimento dos outros, podem verdadeiramente alegrar-se quando seus sofrimentos são findos. Quanto mais parecidos com Jesus somos, mais temos do seu Espírito, mais terno é o nosso coração e mais profundamente nossa alma será movida pelos sofrimentos dos outros.
Quando algum amigo querido provou ser falso, quando algum ente querido se desviou, quando o anjo da morte deixou uma cadeira vazia junto à sua lareira – e tristeza profunda pesa em sua alma, é então que você se sente mais perto de Jesus. Você se sente maduro para o céu. O mundo, de repente, desaparece, e você levanta os olhos para o céu. Não tente reter as lágrimas, deixe-as fluir. Elas são pérolas aos olhos dos anjos. São as lágrimas da criança que tocam o coração do pai, e o levam a confortar o pequeno.
São as lágrimas do cristão que tocam o grande coração amoroso de Deus e o movem a dar o conforto que só o Céu pode dar. Davi, em um momento de grande aflição – seu filho buscava tirar-lhe a vida – disse: “Pode ser que o Senhor olhe para as minhas lágrimas, e que o Senhor me retribua com bem.” Ezequias foi condenado a morrer. O profeta disse-lhe para “colocar a sua casa em ordem, pois ele ia morrer, e não viver.” O moribundo virou o rosto para a parede e orou: “Rogo-te, ó Senhor, lembra-te agora de como tenho andado diante de ti em verdade, e com coração reto, e tenho feito o que é bom aos teus olhos”, e ele “chorou com grande pranto.” Isso tocou o coração de Deus, e ele disse: “Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas: eis que eu te sararei”.
Se o coração dos santos de Deus fossem uma fonte de lágrimas mais profunda, mais pessoas doentes seriam curadas hoje em dia. Ao redor vemos os doentes e sofredores, mas, infelizmente, quão poucas lagrimas! Quando os santos aprofundarem-se assim em Deus, cultivando tamanha ternura de coração, e tornarem-se tão profundamente compassivos a ponto de “molhar sua cama com suas lágrimas pelos doentes durante toda a noite”, eles obterão respostas às suas orações.
Para o tal Deus vai dizer: “Eis que eu vou curá-lo.” Se lágrimas não chegarem a Deus, o caso é sem esperança. Esaú procurou um lugar de arrependimento e buscou com lágrimas, mas não conseguiu encontrar. A menção de lágrimas aqui implica que a adição de lágrimas a um ardente e sincero coração, tem influência com Deus. Jeremias, em suas lamentações pelo caído Israel, disse: “Oh, que a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos numa fonte de lágrimas, para que eu chorasse de dia e de noite os mortos da filha do meu povo!” Ele sabia que, se alguma coisa fosse mover Deus, seria lágrimas, portanto, ele desejava que seus olhos fossem uma fonte de lágrimas, para que Deus fosse movido a salvar Israel.
“Os que semeiam em lágrimas, com cantos de alegria colherão.” Não pode haver uma colheita de semente semeada, a menos que a semente seja regada. Quando você sair para semear no campo do Mestre, regue-as com suas lágrimas e você terá uma feliz colheita. Que Deus livre o seu povo de um coração insensível! Uma alma sem lágrimas é uma alma sem flores. Não há verdura, onde não há água. Aqueles que não são profundos em Deus o suficiente para derramar lágrimas sobre um mundo perdido e arruinado não são profundos o suficiente para derramar lágrimas de alegria pela salvação de uma alma.
Das profundezas do seu coração Jesus exclamou: “Jerusalém, Jerusalém! Quantas vezes quis eu ajuntar-te como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas tu não o quisestes.” Quando você derramou lágrimas por almas perdidas? Você alguma vez tem um momento de Getsêmani? É o seu travesseiro sempre umedecido pelas lágrimas derramadas por um mundo condenado? Você já saiu sob o céu estrelado e com braços estendidos gritou com severas dores de agonia: “Ó almas perdidas, almas perdidas! Quantas vezes quis eu ajuntar-te a Jesus, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vós não o quisestes”? Somente aqueles que têm profunda angústia de alma pelos perdidos podem se alegrar totalmente quando os perdidos são encontrados.
Um dos apóstolos disse que ele serviu o “Senhor com muitas lágrimas.” Um coração do qual não fluem lágrimas não é um coração que está totalmente imbuído pelo Espírito de Deus. Lágrimas de compaixão pelos que sofrem, lágrimas de advertência e súplica pelos perdidos, lágrimas de alegria pelos salvos, fluirá através de um coração perfeitamente santo tão livremente como água através de uma peneira. A luz do sol perfura o bloco de gelo do centro para fora; assim o amor de Deus perfura as profundezas do coração e deixa as lágrimas de afeto, piedade e compaixão fluírem para fora.
Não tente escapar do sofrimento. Não feche o seu coração contra a tristeza. É da flor machucada que emana o aroma mais doce. Abra o teu coração a Deus e deixe que ele o machuque, deixe a dor fluir para dentro dele e quebrá-lo, para que a doçura possa sair.
Quando o poeta cantou:
“Eu nenhum problema e nenhuma tristeza vejo hoje, nem vou tomar emprestadas visões sombrias para o dia de amanhã”, ele não cantou de tristeza pelas almas perdidas no pecado, nem de necessário pesar pelas múltiplas tentações, nem de tristeza despertada pelo sofrimento dos outros, mas daquele pesar que surge do mundo através de desconfiança e separação de Deus.
Há uma tristeza que vem através de Cristo. É como o fogo do ourives, purificando a alma e ligando-a mais perto de Deus. Essa tristeza separa o coração do mundo e de si mesmo, e esconde-o em Deus. É impossível para a alma chegar a qualquer grau de proximidade com Cristo apenas através de tristeza e sofrimento. Na minha própria experiência meu coração ansiou por graça mais profunda. Toda a minha alma suspirou, “Ó Jesus! Dai-me mais humildade”. Por alguns dias, uma nuvem pesada de tristeza pairou sobre mim, quando ela se dissipou, eu tive uma resposta à minha oração.
Eu gostaria que você tivesse cuidado com aquele estado insensível em que não se tem dor, e erroneamente atribuir essa ausência, à graça. A graça nos ajuda a suportar a dor, mas não endurece os nossos corações contra ela. A tristeza nos leva a um trono de graça para receber graça e a graça nos traz alegria, para que possamos ter alegria na tristeza. Nenhuma outra alegria é tão doce como esta. É a real e verdadeira alegria de Cristo.
Texto de James Orr, em domínio público, traduzido por Iza Rainbow, por solicitação do Pr Silvio Dutra.