O 16º e 17º capítulos do livro de Josué se referem à repartição das terras que couberam às tribos de Efraim e Manassés, filhos de José.
Assim como coube a Judá, ser o cabeça das tribos ao Sul, a Efraim caberia ser o cabeça das tribos ao Norte, dando cumprimento à profecia proferida por Jacó pouco antes de morrer.
É destacado no capítulo 16º que os efraimitas não expulsaram os cananeus que habitavam em Gezer, e que os tornaram seus tributários (v. 10).
Nós vemos aqui o mandado de Deus não tendo sido cumprido, e certamente, isto lhes serviria de laço no futuro, comprometendo a total fidelidade dos israelitas ao Senhor, por não se contaminarem com as práticas idolátricas dos povos de Canaã, e daí ter Deus ordenado o completo extermínio de sete nações daquela Terra que haviam se contaminado a um tal nível que não havia qualquer possibilidade de cura para elas. Como se situavam numa região estratégica que ligava o Norte da África às nações da Ásia e Europa, Satanás desenvolveu ali toda forma de culto idolátrico e abominável para por meio deles contaminar todas as demais nações da Terra.
Daí ter o Senhor designado, em Sua presciência e onisciência, ocupar todo aquele território com o povo que formaria através da descendência de Abraão, para que fosse uma influência de bênção e de vida para todos os povos, e não de maldição e de morte como ocorria com a ocupação da Terra pelos cananeus.
A Igreja tem sido estabelecida no mundo como sal e luz para dar testemunho do amor, da justiça e da verdade, para que os que amam a Deus sejam resgatados das trevas e do pecado, e da morte espiritual em que se encontram, para a vida eterna que está em Jesus.
Desde o princípio Deus criou a Terra para ser herdada pelos que são Seus amigos e que Lhe amam.
Assim como Ele havia expulsado do céu todos os anjos que juntamente com Satanás revelaram ser Seus inimigos, destinando-os a uma condenação eterna, de igual modo Ele tem feito com todas as pessoas que vivem para se opor à Sua bondade e vontade.
Toda a humanidade é pecadora. Todos têm pecado e estão sujeitos à condenação divina. Entretanto, há inimigos ocasionais do Senhor que se tornam Seus amigos por meio da conversão a Cristo, e há inimigos permanentes (como Satanás e os demônios) que vivem para se opor a Deus e à Sua santa vontade. São inimigos declarados do Senhor, e jamais se sujeitarão a Ele.
Mas, mesmo entre os que são reconciliados com Deus por meio da fé em Cristo, ver-se-á procedimentos, em menor ou maior grau, que são próprios daqueles que são Seus inimigos.
Eles não querem desapontar ao Senhor porque o amam, mas acabam agindo de modo contrário à sua própria vontade em razão da natureza decaída no pecado que ainda carregam neste mundo ao lado da nova natureza santa e divina que receberam na conversão.
Muitas destas nossas dificuldades não são devidas de modo algum à falta de graça e bondade de Deus para conosco, mas em razão da nossa própria infidelidade em cumprir plenamente a Sua vontade. E isto está ilustrado fartamente na história de Israel.
Aquela era de fato uma Aliança muito diferente da Nova Aliança que temos na dispensação da graça com Cristo, mas podemos aprender em figura muitas realidades espirituais, a partir do modo como Deus se aliançou com Israel no antigo pacto, celebrado com eles pela mediação de Moisés.
Para propósitos preventivos de uma apostasia completa dos israelitas, lhes foi ordenado que não se contaminassem com as práticas idolátricas dos cananeus.
Isto seria completamente impossível, caso os israelitas se aliançassem com eles como nação. Daí Deus ter ordenado que a terra fosse desocupada completamente da presença dos cananeus para que não houvesse o risco de Israel abandonar os mandamentos do Senhor, para se entregar às práticas abomináveis das nações que ocupavam o território de Canaã, permitindo-se conviver juntamente com os seus antigos moradores que eram inimigos declarados de Deus.
Desta forma, a Antiga Aliança, antes que fosse inaugurada a Nova, pelo sangue de Jesus, tinha que ter este caráter de ministério da morte e da condenação, de modo a se garantir, pelo menos em certa medida, a sujeição dos israelitas à disciplina de Deus.
Eles haviam sido separados pelo Senhor das demais nações da Terra para servirem de exemplo ao mundo que o Deus verdadeiro se provê de filhos entre os pecadores.
Que Ele se faz amigo daqueles que escolhe para Si, e que estes se tornam amigos de Deus, por guardarem os Seus mandamentos.
Israel era um sinal visível para todo o mundo de que há uma descendência da mulher que é inimiga da descendência da serpente.
Os filhos de Deus estão em oposição aos filhos do diabo, e os filhos do diabo em oposição aos filhos de Deus. E isto será marcado de modo claro e definitivo, na eternidade.
Entretanto, há uma grande sutileza em se conciliar todo o desígnio de Deus na Sua relação com o Seu povo e deste com as demais pessoas que ainda não conhecem ou que não chegarão a conhecer a Deus.
Porque Deus é amor, e estabeleceu um plano desde a eternidade para escolher um povo exclusivamente Seu, dentre os pecadores.
E Ele fez isto estabelecendo primeiro a Antiga Aliança com toda uma nação (Israel), para que, deste ponto de partida, alcançasse com a bênção do evangelho, com a Nova Aliança, todas as nações da Terra.
Sem que isto significasse que a bênção de Deus estivesse vedada a qualquer que viesse a se aproximar dEle, desde a criação do primeiro homem.
Mas, para propósitos previamente definidos, dois pactos foram determinados em Sua presciência, um de vigência temporária (Antiga Aliança) e outro de vigência eterna (Nova Aliança), de modo que, quando estendesse a Sua completa graça, perdão e longanimidade a todos os pecadores, para que aqueles que viessem a se arrepender de seus pecados pudessem ser salvos, sendo reconciliados com Ele, por meio da fé em Jesus, não corresse o risco de que isto fosse entendido como um favor incondicional para com os pecadores, como que se Ele, o Deus santo e justo não se importasse com o pecado.
Por isso marcou com destruição e com fogo o pecado nos exemplos deixados na Antiga Aliança, para que todos os homens, em todos os lugares, saibam, pelas Escrituras – que são o testemunho da verdade – que o único e verdadeiro Deus julgará os pecadores conforme as suas obras, e que portanto, estes bem farão em andar com santo temor e reverência em Sua presença, pois tem determinado um dia de Juízo, conforme demonstrou nos juízos localizados que estabeleceu na Antiga Aliança, e que determinou que fossem registrados na Bíblia para nossa advertência.
Além disso, o juízo sobre o destino eterno do nosso espírito é marcado na hora mesma da nossa morte física – céu ou inferno são as duas alternativas colocadas diante de todos nós.
Entretanto, os juízos corretivos do Senhor continuam sendo trazidos sobre o mundo, mesmo na dispensação da graça, como forma de demonstração da Sua justiça, mas também da Sua misericórdia, de modo a servir de sinal que conduza a humanidade ao arrependimento e à fé.
As catástrofes, os desastres, as guerras, e todas as circunstâncias, que trazem aflições aos homens, são na verdade, chamadas de Deus ao arrependimento. São demonstrações da Sua misericórdia para com os pecadores alertando-lhes para o fato de que não vivemos num mundo de perfeição, mas de pecado, e que haverá um juízo de condenação eterna caso não se arrependam dos seus pecados.
Todavia, não há maior alerta do que a Palavra do próprio Jesus Cristo, em Seu ministério terreno, ordenando que os homens se arrependam e creiam no evangelho, e que aquele não crê já está condenado. Mas quantos levam esta palavra a sério? Quantos pensam nos horrores de uma condenação eterna, da qual somente a união com Cristo pode nos livrar?
Pela Antiga Aliança, Israel não era apenas chamado por Deus a se distinguir das demais nações, em seus hábitos, especialmente na sua forma de alimentação, que levaria os israelitas a não poderem manter relações sociais com as pessoas que não estivessem aliançadas com Deus, em razão das imposições relativas à forma de alimentação prescrita pela lei, que considerava, cerimonialmente, vários tipos de animais imundos, e cujo consumo era vedado aos israelitas sob a pena de cometerem grave pecado diante de Deus caso viessem a se alimentar deles.
Assim. A lei cerimonial, quanto às prescrições relativas aos alimentos tinha mais a ver com o propósito de separar os israelitas daqueles que não amavam a Deus e que se opunham deliberadamente contra os Seus mandamentos, do que com os alimentos propriamente ditos.
Porém, na Nova Aliança, a visão dada a Pedro em Jope (At 10.9-16), do grande lençol que descia do céu, com toda sorte de animais imundos, e com uma voz que ordenava a Pedro que os matasse e comesse, era revelado que na dispensação da graça, esta barreira havia sido derrubada por Deus.
Desde a inauguração da Nova Aliança no sangue de Jesus, os que conhecem a Deus têm o encargo de não mais evitarem aqueles que são Seus inimigos, e devem lhes anunciar o evangelho.
A prática da impureza espiritual dos gentios, para a qual a lei apontava em figura, esta sim, deve ser evitada, mas não eles propriamente. Não devem ser imitados em suas obras, mas devem ser salgados com o sal do evangelho e serem iluminados com a luz de Cristo, que está nos crentes.
Nós lemos o seguinte em Efésios 2.11-18:
“Portanto, lembrai-vos que outrora vós, gentios na carne, chamados incircuncisão. Por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos contidos em ordenanças, para criar, em si mesmo, dos dois um novo homem, assim fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um só corpo, tendo por ela matado a inimizade; e, vindo, ele evangelizou paz a vós que estáveis longe, e paz aos que estavam perto; porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.”
Se Cristo derrubou a barreira de separação é porque esta barreira existia não imposta pela vontade do homem, mas pela vontade do próprio Deus, ao ter separado Israel das demais nações, até que Cristo viesse e inaugurasse a Nova Aliança, pela qual a barreira imposta pela Antiga foi derrubada, de modo que todos, em todos os lugares, pudessem ter acesso a Deus em um mesmo Espírito.
Deus não seria mais o Deus de uma só nação, segundo a descendência natural e carnal de um homem, a saber Jacó, cujo nome foi mudado para Israel, mas o Deus de uma nação formada por pessoas que se convertessem a Ele pela pregação do evangelho em todas as nações da Terra.
Devemos pois ter o devido cuidado ao estudarmos a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, nas partes relativas ao Antigo Pacto, porque ali encontramos muitas figuras de realidades que se cumpriram em Cristo, e muitos preceitos que foram revogados e alterados por Cristo com a instituição da Nova Aliança, que revogou a Antiga, de modo que não pratiquemos na dispensação da graça aquelas coisas e atitudes que eram determinadas e aceitas por Deus no Antigo Pacto, mas que de modo algum podem ser aceitas nesta nova dispensação, em que novas diretrizes foram dadas para substituírem muitas das diretrizes antigas, como por exemplo a lei do olho por olho, dente por dente; o ofício sacerdotal com a apresentação de animais em sacrifício; as guerras santas ordenadas por Deus para extermínio de povos idólatras etc.
A Nova Aliança não é ministério de morte, mas de vida. Isto é, os ministros de Deus estão encarregados de levar a vida de Cristo aos homens, e não a condenação e a morte.
Isto fica agora exclusivamente nas mãos de Deus, e a Igreja de Cristo não é mais a espada de Deus, como Israel foi no mundo antigo para exercer juízos de Deus sobre o mundo de ímpios.
Deus é o Juiz exclusivo do que se refere a tirar ou não a vida de qualquer pessoa, de modo que não deseja nenhuma cooperação da Igreja neste sentido, ao contrário, foi vedado à Igreja na presente dispensação toda e qualquer forma de juízo, e daí Cristo ter determinado que o crente a ninguém deve julgar neste sentido, porque o juízo sobre vida ou morte está agora exclusivamente nas mãos de Deus.
À Igreja cabe pregar o evangelho, e aqueles nos quais Cristo será cheiro de morte para a morte e não aroma de vida para a vida, é assunto que se encontra fora da alçada da Igreja, e que está totalmente nas mãos do Grande e único Juiz.
O dever do qual a Igreja está incumbida é o de levar a mensagem de salvação e se empenhar muito para a salvação de alguns, porque Jesus, na dispensação da graça, se empenha não em condenar os pecadores, mas salvá-los, para que estes que se convertem dos seus maus caminhos sejam contados entre todos aqueles aos quais Deus dará a Terra como sua herança eterna.
Pr Silvio Dutra