“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece para sempre.” (Salmo 111.10)
De todas as aquisições que são feitas pelo homem, a sabedoria é reconhecidamente a mais elevada; e bem merece o lugar mais alto em nossa estima, porque eleva e enobrece aquele em quem se encontra. Isto é verdade mesmo em relação à sabedoria humana; e quanto mais, então, quanto ao que é divino! Mas onde deveria a sabedoria divina ser encontrada? Ou quem pode estimá-la corretamente, quando é encontrada? Estas são questões propostas pelo santo Jó, e elas merecem a nossa mais atenta consideração. “De onde”, diz ele, “vem a sabedoria, e onde está o lugar do entendimento? Está encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu. O abismo e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama. Deus lhe entende o caminho, e ele é quem sabe o seu lugar. Porque ele perscruta até as extremidades da terra, vê tudo o que há debaixo dos céus. Quando regulou o peso do vento e fixou a medida das águas; quando determinou leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões, então, viu ele a sabedoria e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou. E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento.” (Jó 28.21-28)
Dito tudo isso, ele novamente faz a pergunta: “De onde vem a sabedoria, então? e onde está o lugar do entendimento?” Ele, então, responde, que está oculto aos olhos de todos os viventes; que somente Deus a entende, e que ele tem declarado onde está e como ela é: “Porque ao homem disse: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e se desviar do mal é o entendimento.” Agora, o significado desta passagem é igual à declaração de Davi, que diz: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e bom entendimento têm todos os que cumprem os seus mandamentos; seu louvor permanece para sempre.” Aqui ele não somente identifica ainda o temor do Senhor com sabedoria, mas continua com a comparação do início ao fim, desde a sua primeira formação na alma até a sua conclusão final na glória.
Para entrar plenamente em seu significado, devemos considerar o temor do Senhor,
I. Como existe na alma
O homem é destituído da verdadeira sabedoria. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”, e, então a sabedoria somente existe na alma, quando o temor do Senhor está implantado nela. Mas, O que entendemos pelo temor do Senhor?
Podemos explicá-lo com muito poucas palavras. O temor do Senhor é posto aqui na religião verdadeira, mesmo porque tal religião se manifesta por uma profunda humilhação diante de Deus, por uma obediência sem reservas à sua vontade.
Todos vocês sabem que isto não consiste em um mero assentimento ao cristianismo como verdadeiro, mas numa entrega verdadeira de nós mesmos a Deus como seu povo redimido.
Quando Isto existe na alma, é a verdadeira sabedoria.
Não há verdadeira sabedoria onde não há esse temor, porque sem ele, um homem nada vê corretamente, e não faz nada corretamente. As coisas terrenas têm em seus olhos uma importância que não pertence propriamente a elas e as coisas celestiais são em nenhum aspecto apreciadas de acordo com seu valor real.
Mas quando “Deus pôs o seu temor em nossos corações”, nossos equívocos são removidos, e os erros corrigidos.
O pecado não é mais o mal pequeno e leve que nós supúnhamos antes, que ele fosse, nem a salvação é considerada de tão pequena consequência, que podemos negligenciá-la por mais tempo. A salvação da alma torna-se a partir desse momento a única coisa necessária, e todas as preocupações deste tempo são engolidas na eternidade. Isto pode ser considerado loucura; sim, mas somente por um mundo ignorante e descrente, mas Deus declara ser isto a sabedoria.
II. Como o temor do Senhor opera na vida.
Em todos os seus aspectos, e todas as suas operações, o temor do Senhor comprova ser a verdadeira sabedoria.
Ele opera,
1. Em diferentes épocas e relacionamentos da vida.
Independentemente da idade de uma pessoa, seja jovem ou velha, o temor do Senhor vai lhe ditar qual é o comportamento que lhe convém. E em todas as relações da vida irá exaltar o seu caráter. Marido ou esposa, pai ou filho, mestre ou servo, magistrado ou cidadão, todos saberão o seu lugar, todos cumprirão os seus deveres; todos irão executar seus respectivos cargos com cuidado. Em nada aparecerá mais claramente a operação deste princípio, do que no incentivo a cada um para cumprir com diligência e decoro os deveres de sua própria vocação peculiar.
2. Nas diferentes circunstâncias em que o temor do Senhor pode ser colocado
Estamos em prosperidade? O temor do Senhor irá nos manter humildes e vigilantes contra as tentações que a prosperidade representa para nós. Estamos em adversidade de qualquer tipo? O temor do Senhor vai nos apoiar e livrar de depressão e murmuração, por um lado, e de uma apatia desprezível por outro. Ele vai nos levar a reconhecer uma ação divina em cada coisa que ocorre conosco, e para fazer uma melhoria em nós através da mesma, para que Deus seja glorificado em tudo.
Vamos ver este princípio ainda mais longe,
III. Como concluído em um mundo melhor
Os aplausos que homens ímpios ganham dos seus companheiros cegos é de muito curta duração. Mas o que provém da piedade perdurará para sempre.
O homem que teme o Senhor não está sem aplauso neste mundo.
E se ele for ridicularizado por alguns? Será apenas por aqueles que não sabem o que é a verdadeira sabedoria, e que se agissem em relação às coisas terrenas como o fazem em relação à suas preocupações celestiais, seriam considerados por toda a humanidade como tolos e idiotas. Por cada homem, cuja opinião é boa e de valor, o homem de Deus é amado e honrado, sim, e o próprio Deus também o honra com as mais ricas manifestações da sua presença e do seu amor.
E quão ele é honrado no mundo eterno!
Porque lá os anjos de Deus o sustentam em suas asas, exultando no trabalho que lhes foi atribuído de lhe ministrar.
E tão logo ele tenha chegado aos portais do céu, será recebido pelo próprio Deus, que, na presença de toda as hostes celestiais, se dirigirá a ele dizendo: “Bem fizeste, bom e fiel servo, entra no gozo do teu Senhor.” Eis a coroa preparada para ele! O trono também preparado para sua recepção! Eis o reino concedido a ele como sua herança, da qual ele toma posse como um “herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo!” Sim, é verdade, este é o seu louvor, e será assim quando aqueles que aqui o desprezaram por sua fé, devem “acordar para vergonha e desprezo eternos.” Este louvor, também, dura para sempre. E enquanto seus inimigos que uma vez o desprezaram têm “choro e ranger de dentes” no inferno, ele vai estar no pleno gozo da glória, honra e imortalidade, no seio do seu Deus.
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece para sempre.”
Tradução e adaptação realizadas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon, em domínio público.