Quando Jesus se revelou a mim, Ele carimbou em meu coração a maior verdade sobre a salvação do homem: ela não vem de nós, é dom de Deus para que o homem não se glorie. Isso entrou em meu coração com o ímpeto de um rio rompendo uma represa. A partir disso, esse pilar foi se desenvolvendo em minha vida e mente através de um estudo mais aprofundado das Escrituras, gerando em mim, como em qualquer outro pecador alcançado, uma irresistível gratidão a Deus por Seu plano e propósito de nos resgatar.
Essa analogia com o rio se dá pelo tipo de vida que eu vivia até então, tentando obter a salvação por meus esforços. Quando descobri que não era assim, um enorme peso e preocupação me deixaram definitivamente. A paz que só Cristo tem ele me deu. Sei que essa experiência se assemelha com a de muitos outros irmãos, conhecidos ou não. Mesmo com a clareza da Bíblia sobre isso, ainda há pessoas vivendo nessa escuridão e que se perguntam diariamente como o carcereiro que viu, atônito, Paulo e Silas livre: “Como faço para me salvar?”
A Igreja, ao longo de sua história, lançou algumas respostas sobre essa pergunta. Na sua infância, como registrado na resposta de Paulo ao carcereiro e em tantas outras passagens bíblicas, a igreja pregou Jesus como o único meio para o homem ser salvo. No entanto, em seu período mais obscuro, o mérito de Cristo foi completamente substituído pelos fúteis sacramentos da igreja romana, isto é, somente por obras e não pela graça e por meio da fé, como nos garante as Escrituras. Nesse período, estão registrados os capítulos mais negros da história da Igreja, como a inquisição e a quase nulidade dos textos bíblicos. Um dos desdobramentos da Reforma foi justamente a mudança dessa compreensão de salvação.
Não é possível um professor cristão desfrutar de um relacionamento verdadeiro e profundo com Deus sem o conhecimento dessa grande verdade. Ela é tão simples e por isso causa tanta estranheza à humanidade caída. Perguntas como “e o meu passado negro?”, “não é injustiça uma pessoa tão pecadora ser salva sem essa salvação estar condicionada ao que ela faz?”. Nessas perguntas há um forte indício de que o poder de Deus ainda não foi derramado sobre o pecador, que não pode crer por si só, e, portanto, não conhece nada sobre o amor de Deus. Todas as outras religiões condicionam a salvação – ou algo parecido – às boas obras. Para Deus, elas não valem nada.
Somos incapazes de nos salvar e de atender às exigências da Santidade e Justiça de Deus para um relacionamento com Ele e por isso a salvação é um dom de Deus aos homens. E as exigências que o homem não podia satisfazer? Jesus satisfez todas! Que tipo de obra redentora é a de Cristo? Completa e eterna e por isso Deus O exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome em cujos pés se sujeitarão todos. Por isso também ele é o único intermediário entre Ele e o homem.
E o que justifica a gratidão de um salvo? Ela reside na compreensão de que se não fosse pelo propósito eterno da vontade de Deus em providenciar a redenção do homem, nós estaríamos fritos, ou melhor, condenados à morte eterna. Confesso, no entanto, que é impossível essa compreensão sem a obra do Espírito Santo em nós. Nosso intelecto não perceberia isso jamais, muito menos nossas experiências. Sem uma intervenção miraculosa de Deus, com seu muito amor com que nos amou, não seríamos transportados do nosso estado de ruína à bendita posição de filhos, co-herdeiros de Cristo e herdeiros de todas as bênçãos espirituais nele. Isso é loucura para o não salvo e o poder de Deus para o redimido.
Se a igreja compreendesse isso com mais simplicidade e dependência do Espírito ela não se veria envolvida em promoções de falsos messias que ofertam caminhos de morte para o pecador ser salvo. Ela seria mais parecida com a igreja de Atos que só cria e pregava o Cristo de Deus. Isso é o básico da fé cristã, do crescimento da igreja e do genuíno avivamento. Às vezes eu acho que não é uma teologia distorcida que tem gerado tamanha apostasia em nosso tempo, mas uma fé em Jesus e na eficácia de seu sacrifício morta e, portanto, desprovida de qualquer efeito. Uma fé doente, abominável a Deus.
Eu termino com o episódio em que o povo de Cafarnaum pergunta a Jesus qual é a obra de Deus. Essa sempre foi a preocupação do homem para se aproximar de Deus. Ele sempre soube da sua ruína e, pensa, deve haver obras que agradam a Deus e o torna salvo… Pensando bem, há, sim, uma obra que nos salva. Essa obra é fazer a vontade de Deus. E que vontade é essa? Crer naquele que ele enviou para nos salvar. (João 6:28-29). Está justificado o título, risos. Na verdade, eu amo a resposta de Jesus nesse episódio e por isso escolhi a frase. Jesus só estava lembrando que toda a glória e todo mérito da minha e da sua salvação reside nEle. Aceitar isso é aceitar a graça.