Parte de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários, e outro cinquenta.
E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais?
E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: Julgaste bem.” – (Lucas 7.41-43)
Quando começamos a vida cristã é muito natural que digamos para nós mesmos: “Não quero ser um cristão de segunda categoria, ou um cristão comum – muito menos viver como os crentes de Laodicéia, nem frio nem quente, ou, como aqueles de quem o apóstolo João escreveu: “Saíram de nós, mas não eram dos nossos.” Eu gosto de ver a santa ambição do jovem convertido que deseja dar muito fruto para a glória de Deus – amar a Cristo muito e manifestar o amor em cada possível ato de devoção a Ele.
Todos nós devemos ser salvos da mesma maneira. Por maiores que sejam os nossos desejos de nos destacarmos mais do que outros na corrida cristã, devemos começar a carreira sendo salvos exatamente da mesma maneira como os outros são.
Então, em segundo lugar, vou tentar mostrar que Cristo vai nos ajudar a aumentar o nosso amor se tivermos um profundo sentimento de nossa própria pecaminosidade.
Há a mesma porta de entrada para nós como aquela que foi aberta para o principal dos pecadores, pois não há diferença entre um pecador e outro aos olhos de Deus, quanto ao plano de salvação. Pode haver muitas diferenças em outras questões, mas, na questão da salvação, não há nada que coloque um homem em uma posição diferente de outro, ou o que lhe permita ser salvo em qualquer outra forma que não a de uma mesma maneira que Deus estabeleceu para salvar os pecadores.
Você percebe, na parábola diante de nós, que ambas as partes estavam em dívida – “um devia-lhe quinhentos denários e o outro, cinquenta” – mas estavam ambos em dívida. Então, se alguns homens mergulharam na imundícia e se contaminaram, e poluíram suas vidas, eles estão certamente em dívida de quinhentos denários. Mas se os outros foram mantidos livres de atos explícitos de transgressão, ainda assim, seus corações se desviaram de Deus e uma vez que, com os seus desejos, e com os seus lábios, e em muitos aspectos mesmo em suas ações, quebraram sua santa Lei, eles também estão em dívida. Ainda que sejam cinquenta e não quinhentos, eles estão em dívida.
Não há ninguém entre nós que possa estar diante do Altíssimo, e dizer-lhe: “Nada devo à sua justiça porque nunca violei suas justas Leis.” Qualquer homem que o dissesse seria um mentiroso, e a verdade não estaria nele.
Nós também aprendemos com a parábola que, embora ambas as partes estivessem em dívida, nenhum deles tinha alguma coisa com a qual pudesse responder à sua responsabilidade – “eles não tinham nada para pagar.” Se tivesse apenas que pagar cinquenta, todavia não tinha sequer um centavo dos cinquenta necessários para saldar a quanta devida.
Este é o nosso caso meus amados irmãos – nada temos para pagar. Tudo o que tivéssemos já seria devido a Deus. Se houvesse quaisquer ativos, eles não iriam pertencer a nós e não há nada em reserva – nada que possamos esperar, que venha a surgir, no fim da vida, com a qual todas as nossas antigas dívidas possam ser eliminadas.
Nos termos da Lei de Deus, não há nada para nós, senão uma dívida! E mesmo se tivéssemos o poder de pagar as nossas dívidas antigas, outras novas em breve iriam engolir todo o nosso capital. Mas nada temos com que saldar as nossas dívidas antigas, pois: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, e de toda a tua alma e com toda tua força, e com toda tua mente; e ao próximo como a ti mesmo,” continua sendo a demanda diária de Deus sobre nós.
E aqui está a glória da misericórdia de Deus em lidar com os pecadores que creem em Jesus. Na parábola dos dois devedores, somos informados de que o credor perdoou livremente a ambos, tanto que Ele não disse a nenhum deles, “Eu vou definir um certo tempo e você me pagará.” Oh, não, ele perdoou a ambos – limpou a conta por completo! Ele nada lhes pediu, porque sabia que não tinham como lhe pagar. Ele lhes perdoou, diz o texto, francamente, isto é, livremente.
Ele não olhou para qualquer dignidade em qualquer um deles, ou esperou qualquer coisa da sua parte, senão que agiu com um ato de puro favor gratuito, porque tinha prazer na benevolência para com seus devedores pobres.
É como se lhes dissesse: “Vão para casa. Eu nunca vou apresentar o montante de suas dívidas novamente. Eu as tenho riscado do meu livro contábil para sempre.”
Agora, isso é o que o Senhor, em Sua infinita misericórdia, faz em relação a todos os pobres pecadores que vêm e confiar em seu Filho Jesus Cristo. Ele lhes dá um recibo completo, pois há Aquele que pagou a dívida para eles! Glória a Seu nome – foi paga na íntegra!
Mas, na medida em que estamos preocupados, o Senhor não nos dá o perdão por causa de nossas lágrimas, ou orações, ou arrependimentos, ou até mesmo por causa de qualquer mérito da nossa crença – mas Ele nos perdoa livremente. E Ele não nos perdoa, porque Ele acha que, no futuro, deveremos melhorar em relação ao passado, durante nossa jornada aqui embaixo. Mas Ele nos perdoa livremente, “segundo as riquezas da sua graça”, passando pela iniquidade, pela transgressão e pelo pecado, e não se lembrando da maldade do Seu povo, “porque tem prazer na misericórdia.”
Agora, em segundo lugar, quero mostrar-lhe como nossas vidas podem se tornar mais intensas do que a vida de muitos outros cristãos professos através de um amor mais fervoroso do que o deles. Para atingir esse fim, devemos ter um sentido profundo do nosso próprio pecado. “Qual deles o amará mais?” “Suponho que aquele a quem mais perdoou.”
Suponha que o homem que devia quinhentos denários pensava que devia somente cinquenta. Ele não amaria o credor que o perdoou mais do que aquele que realmente devia cinquenta. Não foi o montante perdoado, como você vai facilmente observar, que foi a causa do maior ou menor amor – foi a consciência do montante – a realização de sua grandeza, que seria a causa do maior amor! Eu não tenho dúvida de que existem alguns muito grandes pecadores que foram perdoados, que ainda não amam a Cristo muito e, por outro lado, há alguns que, no julgamento dos homens e, talvez, no julgamento de Deus, que não sejam grandes pecadores, que, no entanto, amam mais a Cristo – a razão de ser disso é que esses maiores pecadores nunca tiveram um profundo senso da enormidade do pecado como estes, comparativamente falando, menores pecadores tiveram.
É, queridos amigos, um profundo senso de nossa pecaminosidade, juntamente com a consciência perfeita de nosso perdão, irá trabalhar em nós um intenso amor a Cristo.
Permitam-me ainda dizer que qualquer pessoa que tenha sido perdoada muito deveria, certamente, ter o maior e mais forte motivo para amar a Cristo. Você não pode sempre dizer como o amor vem para o coração. Eu não nego o dever do amor, mas o amor não vem apenas como um dever. Você ama sua mãe, ou você ama sua esposa e é seu dever fazê-lo, mas você não poderia amá-las simplesmente por ser isso um dever! Você faz isso por causa do impulso natural dentro do seu coração que o move a amar. De modo semelhante, o amor ao nosso Pai Celestial e a Cristo é, sem dúvida, um dever, mas é muito mais do que uma mera questão de dever. Isso é uma esfera fria para o amor viver e ela logo fica longe das regiões de clima tropical do Jardim do Getsêmani e do lugar chamado Calvário.