“E compadecei-vos de alguns que estão na dúvida; salvai-os, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sede também compassivos em temor, detestando até a roupa contaminada pela carne.” (Jd 1.22,23)
O apóstolo recomenda o uso de misericórdia para com aqueles que se mostram resistentes ao evangelho, e que são governados pela carnalidade.
Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou que os que forem misericordiosos também alcançarão misericórdia, e que é um dever ser misericordioso assim como Deus é em sua natureza, o qual não tem prazer em afligir os filhos dos homens, Lam 3.33.
Todavia, deve ser considerado que a misericórdia, como ela se encontra em Deus, que é segundo o que temos revelado na Bíblia, não é um mero sentimento de compaixão para com as nossas misérias, porque ela compreende todo um conjunto de ações voltadas especialmente para o nosso resgate das garras do mal, tanto externo quanto interno, de modo que possamos ser achados efetivamente naquela condição bem-aventurada que Jesus veio nos trazer.
Daí dizer o apóstolo que devemos nos empenhar em salvar os que estão na dúvida, como alguém que tira uma pessoa de um incêndio. Na verdade, os que não têm fé em Cristo já se encontram julgados e debaixo de uma condenação de fogo eterno, conforme Ele mesmo afirmou, João 3.18, e se nada for feito por eles, em lhes levar o evangelho com misericórdia, é bem provável que perecerão em tal estado.
Duvidar da bondade, do amor e da salvação que está em Jesus Cristo, não lhe traz qualquer honra, ao contrário, é uma grande desonra e um impedimento para que a salvação seja concretizada. É por confiarmos inteiramente nele que somos salvos, e assim, o apóstolo nos instrui a conduzir estes que duvidam a uma condição de plena fé, porque é somente por esta que poderão ser salvos.
Deus deve ser temido porque apesar de ser profundamente misericordioso, não pode agir contra o atributo da sua justiça e também contra a sua santidade, que determinam a condenação eterna de todo aquele que não for justificado por meio da fé em Cristo.
A sua justiça teve que ser satisfeita primeiro com o ato misericordioso da morte de Jesus em nosso lugar, para que pudéssemos ter um fundamento firme para a nossa justificação.
É de crucial importância sabermos isto, porque a misericórdia nada poderá fazer em nosso favor se a exigência da justiça não for atendida. Devemos estar vestidos com a justiça de Cristo, que nos está sendo oferecida gratuitamente, mediante o nosso arrependimento e fé nele, e então a misericórdia achará um caminho para completar o seu trabalho em nos ajudar, fazendo com que todas as coisas contribuam para o nosso bem.
Não há outro modo para se arrebatar alguém do fogo do inferno. Isto é feito somente por se dar pleno crédito à mensagem do evangelho. Não somos nós propriamente que arrebatamos alguém do fogo, mas o próprio Cristo, pelo seu poder, quando se tem fé na sua Palavra.