Quando Deus me coloca em meu lugar (II Reis 5)
Naamã tinha um problema sério. Pior que a lepra que o perturbava. Naamã se achava importante. Observe em volta e verá o quão é difícil para pessoas que se vêem como importantes se renderem a Deus. E por que isso acontece? Porque pessoas assim acham que Deus não é assim tão necessário. No fundo pensam mesmo que tudo o que conseguiram, bens, móveis e imóveis, recursos financeiros, bom emprego, foram fruto única e exclusivamente de seu suor e que, por isso, no fundo não se sentem constrangidas em não levar Deus tão a sério. Daí a famosa frase de Jesus, repetida nos três primeiros evangelhos: “É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.
Não, não é pecado ser rico. O problema é que a grande maioria das pessoas quanto mais tem mais quer. E, quando mal percebem, já estão fazendo do lucro, da cobiça, da ambição desenfreada, as prioridades de suas vidas. No Evangelho de Marcos, 10:24, Jesus esclarece a situação da famosa frase afirmando: “Quão difícil é para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus”. Existe uma tendência natural do ser humano em se iludir com bens e riquezas, a ponto de deixar de confiar em Deus e passar a confiar nelas. Quanto a isso Paulo esclarece a situação em I Timóteo 6:7-10…
“Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos levar dele; tendo, porém, sustento e com o que nos vestir, estejamos contentes. Mas os que querem ficar ricos caem em tentação e laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e perdição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se trespassaram a si mesmos com muitas dores”.
Riquezas soam aos ouvidos mortais como poder, posição, influência. Essas coisas andam juntas, não necessariamente nessa ordem. E são extremamente perigosas para a personalidade humana. E há momentos em que é preciso Deus intervir, nos colocar em nosso devido lugar, mostrar que as riquezas desse mundo, ao mesmo tempo em que podem ser boas, se usadas corretamente, também oferecem um risco muito grande de nos desviar daquilo que realmente tem valor: nossa relação com Deus.
Daí a dificuldade de alguém que dá excessivo valor às coisas materiais em entender as coisas espirituais de Deus. Estão sempre contestando, duvidando, fazendo pouco caso do Senhor e de sua Palavra, porque no fundo no fundo, não estão servindo a Deus, mas às riquezas, como diz o Senhor em Mateus 6:24…
“Ninguém pode servir a dois senhores. Ou há de aborrecer a um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”.
E a conseqüência disso é observada em I Coríntios 1:26 e 29…
“Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. (…) Para que ninguém se glorie diante dele”.
O problema de Naamã não era ser poderoso aos olhos dos homens. Mas ser poderoso diante de seus próprios olhos. Achar que a posição que ocupava lhe dava o direito de decidir as coisas do seu jeito, à sua maneira, pelo fato de ocupar um posto de destaque diante de todo um império. Todos os dias, à nossa volta vemos pessoas que, pelo fato de subirem alguns degraus em sua vida financeira ou profissional, passam, inexplicavelmente, a se achar melhores que os demais. O ex-professor que agora se tornou diretor passa a tratar com indiferença seus ex-colegas simplesmente pelo fato de estar em outra ocupação, por exemplo.
Imagine Naamã, chefe do exército do Rei da Síria. Comandante do setor mais importante de todo um império, como vemos no texto, alguém admirado pelo próprio monarca. A Bíblia diz no primeiro capítulo da leitura que Deus havia dado o livramento ao seu povo através dele. Ou seja, Deus o tinha feito prosperar, tornar-se vitorioso, mas ele, assim como normalmente acontece, preferia achar que tudo havia se dado por causa de sua própria competência. Salomão, um dos maiores reis da história, diz algo interessante…
“A soberba precede a ruína, e a altivez de espírito, a queda”.
(Provérbios 16:18)
Ou seja, há um momento em que Deus mostra aos homens que ele, e somente ele, é poder, honra, majestade, vitória e prosperidade. E ele faz isso exatamente mostrando aos homens o quanto são frágeis por trás de seus carros blindados, de suas contas bancárias intermináveis e suas propriedades luxuosas. Naamã, com todo o seu poderio se viu indefeso e vulnerável diante de uma doença. O grande chefe do exército do rei da Síria não pôde, com seu prestígio junto ao rei, com as centenas de soldados às suas ordens, com todos o bens que ele havia adquirido, se livrar da lepra. Era hora de descer do pedestal.
Deus começa humilhando o comandante fazendo-lhe dar ouvidos a uma menina estrangeira. Imagine só. O grande Naamã ouvindo conselhos de uma criança israelita. O frágil conduzindo o forte. A escrava conduzindo seu senhor. Quem não era nada conduzindo quem se achava o máximo. É assim quando Deus resolve inverter a ordem natural das coisas. Sua cura não estava em sua fama. Sua cura estava nas mãos de um homem de Deus. Um profeta. Alguém que, ao contrário dele, não ligava para posição social, poder ou fama. Sua vida consistia em servir a Deus da melhor maneira possível, o adorando e obedecendo a sua Palavra. Alguém que morava em uma casa humilde, completamente diferente da residência do chefe do exercito do rei da Síria. Além de ter que ouvir conselhos de uma criança estrangeira, Naamã teria agora que procurar alguém que não chamava a atenção pelo poder, mas pela humildade.
Mas ele não se deu por vencido. Afinal de contas, era o poderoso Naamã, tinha que dar alguma demonstração de força. Resolveu levar presentes aos profeta. Presentes caros, só de ouro, quase 70 quilos. Pergunte-se porque alguém dá presentes. Para agradar, como demonstração de afeto ou para agradecer por algo, se as intenções forem boas. Para corromper ou impressionar, se as intenções foram nebulosas.
Certamente Naamã não queria demonstrar afeto ou agradecer Eliseu por nada. Era comum naquela época, sempre que se visitava um profeta, levar presentes como forma de respeito. Mas isto acontecia entres os israelitas, que tinham os profetas como autoridades indiscutíveis. Naamã não era judeu. Nem tinha obrigação de reverenciar profeta nenhum. Ainda mais estrangeiro. Ele queria causar boa impressão, mostrar que, apesar de estar ali pedindo ajuda, também tinha algo para oferecer em troca. Ele queria barganhar. Mas com Deus não barganha seus milagres. Ele os faz quando quer, como quer, a quem quer, do jeito que achar melhor.
Ele não está interessado em nada meu além da minha vida de obediência a sua Palavra e da minha adoração. Minhas coisas passageiras não interessam a Deus. Ele não liga para o tecido da roupa que estou usando, desde que esta cubra meu corpo. Ele não liga para quanto eu tenho guardado no banco, mas de que forma eu utilizo meus recursos. Ele não liga para o tamanho da minha casa, mas da forma como eu meu comporto estando dentro dela. Ele não liga se meu relógio é importado, mas sim de que modo eu dedico a ele o meu tempo. Ele não liga para o fato de eu conhecer pessoas importantes, mas sim se o conheço. Ele não liga para os meus diplomas pendurados na parede, mas quer saber se conheço sua Palavra.
Eliseu nem saiu na porta. Mandou um recado. Nem ligou para o grande chefe dos exércitos do rei da Síria. Imagine a cara do comandante. Esperando ser tratado como era pelos seus subordinados. Talvez pensasse que chegaria à porta do profeta e fosse recebido com um tapete vermelho, fogos de artifício, honrarias, como muitas vezes os servos de Deus fazem em relação aos homens que detém poder nesta terra. Acostumado a ser paparicado, como é todo aquele que exerce poder no mundo, Naamã deve ter ficado indignado. “Como ele não saiu à porta?”, afinal, eu sou Naamã, o grande comandante do exército do rei da Síria. “Nem os presentes lhe impressionaram?”, todos aqueles vestidos, animais, ouro, prata… Nada chamou sua atenção? O que poderia chamar a atenção de alguém que vivia diante da face de Deus? Que bem material poderia impressionar o homem que viu Deus multiplicar o azeite da viúva? Não receber Naamã e ainda mandar um menino de recados foi demais. Mas não parou por aí…
Veio a ordem. A orientação. A determinação. Seca e objetiva. Tudo que alguém que se acha importante mais odeia é ter que seguir ordens. Sua vaidade sempre pergunta: “Quem é fulano para me dizer o que fazer?”. Boa pergunta. Talvez o melhor fosse perguntar para Deus, aquele mesmo que disse em João 10:16, ao final:
“Haverá um rebanho e um pastor”.
A ordem foi: mergulhar sete vezes no Rio Jordão. Nem mais nem menos. Sete mergulhos. Não seis ou oito ou mil. Somente sete. E no Rio Jordão. Somente no Rio Jordão. Nada de Tigre, Eufrates ou, como mesmo questionou Naamã, qualquer um outro rio de Damasco, capital da Síria. Era isso ou viver com lepra. E o profeta não foi lá debater com ele. Mandou dar a ordem e pronto. Nem o recebeu. Era o que havia recebido de Deus. Se não saiu, foi porque Deus não mandou que saísse. Se deu essa orientação, foi porque Deus mandou que fosse assim. Chegou o dia em que o poderoso Naamã ia ser colocado em seu lugar. Esse dia chega para todos. Não há como escapar dele. Mas tempo menos tempo, e Deus vem ensinar aos homens que somente ele é dono de todo poder e é o único digno de receber honra, glória, louvor e adoração.
Alguém quer cura? Está em adorar a Deus. Alguém quer vitória? Está em adorar a Deus? Alguém quer paz? Está em adorar a Deus? Alguém quer ser liberto? Está em adorar a Deus. Alguém quer vida? Você a encontrará em Jesus Cristo, o Salvador. Não adianta querer dar uma de Naamã e tentar se inchar diante de Deus. Seus bens e riquezas materiais são nada, menos do que nada, diante daquele que criou todo o universo. Seu nome não é nada diante de Jesus, por que me Filipenses 2:9-10 diz que
“Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que em nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai”.
Mais cedo ou mais tarde, Deus virá ao teu encontro, fará isso de uma forma que você nem poderá imaginar, usará pessoas que você jamais pensaria que seria possível, assim como fez com Naamã, e te ensinará que só existe um Senhor e Deus em todo o universo. Mostrará mais uma vez a este mundo que ele é o dono no universo e que nada, absolutamente nada, acontecerá sem sua permissão. Que sua Palavra não pode ser questionada ou discutida, porque ela é a representação fiel de sua personalidade, e, assim sendo, é perfeita, infalível e fiel. Ele está nela, e vela para cumpri-la.
Não deixe que as coisas passageiras dessa terra tirem a tua visão de Deus, tampem os teus ouvidos e distorçam as suas Palavras de vida. Ele virá. Jesus está voltando. Não é mais tempo de duvidar. Não é mais tempo de questionar. Não é mais tempo de procurar defeitos. Não é mais tempo de se achar importante. Não há mais tempo para essas coisas. Hoje é o tempo de adorar ao Senhor. Deus está em busca de adoradores, e essa é a hora em que eles devem se manifestar. Hoje é o tempo de fazer uma aliança com Deus. De buscar sua Palavra.