Tão logo Judas se retirou do meio dos apóstolos, durante a ceia da Páscoa, Jesus disse imediatamente que Ele estava sendo glorificado e que o Pai também estava sendo glorificado nEle.
Ora! Se Ele sabia que Judas saiu para traí-lO, qual glória poderia ser resultante de um ato de traição?
O Pai seria glorificado na morte do Filho, e seria justamente a traição de Judas que precipitaria todas as ocorrências que culminariam na morte do Senhor.
Como o Pai seria glorificado por causa do Filho com a conversão de milhões de pessoas em todo o mundo, então era de se esperar que o Pai também glorificasse o Filho, e isto começaria logo depois da Sua ressurreição, quando Ele entrasse no céu com grande triunfo e glória pela obra que havia consumado na terra, sendo celebrado, honrado e adorado pelas potestades celestiais e pelos espíritos desencarnados dos santos que haviam morrido antes da Sua ascensão, que aguardavam com grande expectativa por esta vitória sobre a morte, porque disto dependeria a ressurreição futura dos corpos deles.
Este foi um dos motivos de Jesus ter dito que Abraão havia visto o Seu dia de glória e se alegrado, por causa da expectativa de tais coisas que seriam cumpridas pelo Seu Senhor e nosso.
Esta glória seria recebida por Jesus no céu, onde os seus apóstolos não poderiam estar com Ele, pelo menos por algum tempo.
Mas, eles, de fato não poderiam testemunhar todo o cortejo triunfal com que Jesus entrou nos céus depois da Sua morte.
Os seus mais diletos amigos não poderiam ver isto, mas como era amigo deles e os amava Ele lhes falou de todas estas coisas antes de partir para a glória que O aguardava, para que também exultassem com Ele, e soubessem que as coisas que Ele ainda teria que padecer, até à Sua morte na cruz, não significavam de modo algum, o fracasso da Sua missão, que era a mesma missão dos discípulos.
Foi nesta ocasião, em face da glória que haveria de se seguir aos Seus sofrimentos, e pelo derramar do Espírito Santo sobre os discípulos como comprovação daquela glorificação que Ele receberia no céu, que o Senhor lhes deu o novo mandamento de se amarem uns aos outros, assim como Ele lhes havia amado; isto é, eles deveriam se amar com o mesmo amor de comunhão espiritual que sempre existiu entre Ele e o Pai.
Seria por este amor divino, celestial, que o mundo saberia que eles eram de fato Seus discípulos.
Eles sairiam com uma missão ao mundo.
Eles teriam uma mensagem para pregar.
Eles receberiam poder do Espírito para testemunhar dEle e da Sua morte e ressurreição.
Mas, caso faltasse este amor entre eles, faltaria tudo o mais, e Ele não seria glorificado.
Deus não pode ser glorificado quando falta a unidade e a comunhão espiritual, no Espírito.
Os apóstolos haviam aprendido do Senhor o modo como deveriam viver neste amor, mas deveriam crescer nisto.
Deveriam avançar para o alvo da maturidade em Cristo, que é, sobretudo amadurecimento no Seu amor divino.
Isto não se aprende nos livros, mas na prática da vida. Na submissão à vontade do Senhor e à Sua Palavra, num espírito quieto e manso que é agradável a Deus.
O brilho da face de Cristo deve ser visto também nos rostos dos cristãos, porque sem isto, não é possível cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.
É importante lembrar que Ele falou deste novo mandamento do amor no contexto das palavras que havia proferido acerca da Sua glorificação nos céus, e no ajuntamento futuro de todos os Seus discípulos no céu para participarem da Sua glória.
Pedro não entendeu a que tipo de amor Jesus estava se referindo, e tentou demonstrar que o seu amor por Ele era maior do que os de todos os demais discípulos. Já que Jesus havia falado de amor, então Pedro na sua sinceridade quis lhe demonstrar até que ponto ia o seu amor por Ele.
Ele insistiu em dizer que seguiria Jesus mesmo depois dEle ter-lhe falado que não poderia segui-lO para onde Ele iria naquela ocasião, a saber, para o céu, mas como não disse a Pedro para onde iria, Pedro disse que iria segui-lO até mesmo dando a própria vida por Ele.
Mas Jesus lhe respondeu que o galo não cantaria naquela noite antes que Pedro lhe tivesse negado três vezes.
O amor natural de Pedro não seria suficiente para mantê-lo firme na fé e perseverante em confessar o Senhor mesmo diante do perigo de perder a sua própria vida.
Mas Pedro não havia aprendido esta lição, e teria que passar por ela de uma maneira muito dolorosa, para que jamais confiasse na carne.
Afetos, sentimentos, emoções, vontade, tudo isto faz parte da alma e não do espírito.
Portanto, nada tem a ver com o amor sobrenatural de Deus que é fruto do Espírito e que é gerado no nosso espírito.
Pedro deveria aprender a andar no Espírito, e a não confiar na carne, isto é, pelo seu ego (alma).
É somente estando fortalecido no Espírito, pela graça do Senhor que podemos cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.
Por isso quando o Senhor restaurou Pedro depois de tê-lo negado, perguntando-lhe também por três vezes se ele O amava, no grego, ele usou a palavra ágape (amor divino) nas duas primeiras vezes, e como Pedro respondeu com a palavra filéo (amor de amizade natural), Jesus usou esta palavra “filéo” na última pergunta que fez, e Pedro tornou a responder em sua insegurança também com “filéo”, porque não estava certo ainda de possuir o amor divino.
Jesus queria demonstrar a Pedro, que importa ser amado com o amor espiritual, celestial e divino, e não com o amor natural que é resultante de nossos afetos naturais, porque não O conhecemos mais segundo a carne, mas segundo o espírito.