Quais são aqueles aos quais Deus afirma que são de um coração puro? São aqueles que nunca erram e pecam? Que nunca transgridem quaisquer dos seus mandamentos? Se assim fora, de ninguém se poderia dizer que seja de um coração puro.
A quem se refere então a Palavra de Deus, especialmente, quando Jesus diz no Sermão do Monte que são os de puro coração que são bem-aventurados?
O puritano Thomas Watson muito me ajudou a entender o significado da proposição.
Esta pureza de coração, segundo ele, é totalmente de caráter evangélico, ou seja, não propriamente pela condição de nossa natureza isenta de pecado, mas pela nossa determinação em fé em confirmar toda a Palavra de Deus como verdadeira, temendo esta palavra, e almejando ser santos, assim como Ele é Santo.
Então são estes os de coração puro para Deus, ainda que eventualmente cometam pecados e sejam imperfeitos, porque a perfeição de Cristo – a oferta do evangelho – lhes é atribuída como sendo propriamente deles, e de fato se empenham em manter a devida comunhão com Deus, pela fé, e por um andar no Espírito.
Sem a fé firmada em Cristo, e sem uma permanência nEle, é impossível se obter e manter o coração puro.
Por isso, o autor de Hebreus advertiu os destinatários originais da sua epístola quanto ao risco que estavam correndo em relação ao juízo de terem o seu castiçal removido por um juízo do Senhor, em razão da incredulidade deles quanto ao temor que Lhe era devido e à Palavra do evangelho. Isto, vemos em textos como Apo 2:14-16, 20-23, 3:1-3, 15-18. Ter o castiçal removido significa deixar de existir como Igreja verdadeira do Senhor, em razão da ausência da Sua santa presença. E o que se terá serão apenas reunidas para propósitos religiosos que não terão qualquer eficácia espiritual real, uma vez que a glória de Deus foi retirada (Icabod).
Tal como fizera o autor de Hebreus no passado, este continua sendo um dever dos ministros do evangelho em relação à Igreja, quanto a adverti-la dos juízos de Deus sobre aqueles que não andam com o devido temor de reverência à Sua santidade e majestade, pela falta de santificação em todo o procedimento deles (I Pe 1.15).
“mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento;” (I Pe 1.15).
Estas duas coisas devem caminhar juntas, a saber: a fé e a Palavra, porque se ajudam mutuamente, porque não há fé sem ouvir a pregação da Palavra, e não há verdadeira pregação da Palavra que não seja acompanhada pela fé.
E esta mistura de fé com Palavra mistura-se também com a alma do cristão transformando-se em graça e poder que santificam a sua vida.
É requerida, uma união da mente com a verdade revelada na Palavra, para que haja uma verdadeira santidade. Onde isto não estiver presente as pessoas continuarão vivendo de acordo com suas próprias imaginações e vontade, sem qualquer conhecimento verdadeiro experiencial da vontade de Deus na própria vida.
Por isso se impõe a renúncia ao ego. Muitos pensam que morte do ego é deixar de ter vontade própria. Não é isto. É a renúncia à minha vontade quando esta colide com a vontade de Deus.
Onde há este conhecimento, há transformação espiritual em todo o procedimento, porque o espírito regenerado e renovado pelo poder de Deus, se disporá e se inclinará somente para aquilo que é santo e aprovado, porque a semente que nele foi implantada, é completamente santa.
A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam (Hb 11.1). Estas coisas que são esperadas, são também aquelas que se esperam de nós conforme a verdade revelada nas Escrituras. Estão incluídas, também e principalmente, a plena certeza quanto às promessas contidas nas Escrituras sobre o poder do Espírito que nos transformará e operará toda a vontade de Deus para a Sua Igreja através da nossa instrumentalidade pelo canal da fé.
Devemos ter em consideração que uma fé que aumente em graus destruirá o pecado na mesma proporção do tamanho progressivo que esta fé alcance, e daí entendermos que à medida que avance o tamanho da fé, maior é a intensidade da comunhão com Deus e da santificação da vida.
À medida que ocorre o despojamento progressivo do velho homem, pelo aumento da fé, aumenta também a manifestação da vida da nova criatura, e isto se traduz em aumento da plenitude de Deus no nosso próprio ser.
Permanecer vivendo na carne, segundo o homem natural, impossibilita portanto, o aumento da fé e da santificação.
Logo, o descanso espiritual de Deus citado em Hebreus 3 e 4, é alcançado pela fé e pela Palavra que nos unem a Ele.
Pr Silvio Dutra