Uma abordagem sobre o 21º capítulo de II Reis.
Em II Crônicas 33.10-19 nós temos o relato da conversão do rei Manassés, depois de ter sido preso pelos assírios e deportado para Babilônia, porque no seu exílio se humilhou diante do Senhor, e se arrependeu dos seus pecados, especialmente de todo o mal que fizera a Judá, por ter reintroduzido a idolatria que seu pai Ezequias havia erradicado em seus dias.
É bem provável que as condições de prosperidade e de paz do reino que ele experimentou até os 12 anos, enquanto seu pai vivia, somadas à aflição do seu cativeiro em Babilônia, devem ter contribuído muito para o seu arrependimento.
Nós não sabemos explicar porque alguns homens como Davi, Ezequias e Josias, por exemplo, perseveram em seguir ao Senhor todos os dias das suas vidas; e porque outros se permitem desviar no fim dos seus dias como foi o caso de Salomão, Joás e Uzias, e ainda de outros, que apesar do bom testemunho de seus pais, como foi o caso de Manassés, não seguem logo os seus passos, e atraídos pelo mundo e governados pelos desejos da carne, adiam por muito tempo a decisão de consagrarem suas vidas a Deus.
Então, nós encontramos este período de densas trevas na história de Judá, porque o filho de um rei piedoso não se dispôs a seguir o exemplo que fora deixado pelo seu pai, e se entregou à prática de todo tipo de abominações aos olhos do Senhor, como por exemplo a adoração do deus Moloque, tendo inclusive oferecido seus filhos em holocausto a ele (II Rs 21.6), e recorreu também aos adivinhos e feiticeiros, e como se isto fosse pouco, ainda profanou o templo do Senhor colocando nele altares para sacrificar a outros deuses e uma Aserá (II Rs 21.4,5 e 7).
E foi por causa desta profanação do templo, consentida pelos judeus, que o Senhor decretou o seu cativeiro (v. 14), assim como pelos crimes contra inocentes que Manassés praticara (24.3,4).
Deus enviaria os judeus ao cativeiro porque sabia que a idolatria e a injustiça estava no coração deles, porque senão, em caso contrário teriam resistido ao que Manassés estava fazendo.
E os atos de Manassés colocaram à prova o que estava de fato no coração deles, mesmo quando se encontravam sob Ezequias, e ao que parece, haviam se rendido às suas reformas por obrigação, mas não com um coração voluntário e pronto para servir ao Senhor, por amarem de fato a Sua vontade e Palavra.
E isto se confirma no verso 15, onde o Senhor diz qual era a causa do cativeiro que Ele havia sentenciado no verso anterior (14):
“porquanto fizeram o que era mau aos meus olhos, e me provocaram à ira, desde o dia em que seus pais saíram do Egito até hoje.” (II Rs 21.15). Isto é, na verdade foi por amor aos patriarcas que o Senhor os suportou por todo aquele tempo, desde a saída do Egito, porque nunca o amaram a ponto de fazerem toda a Sua vontade, revelando ao mundo, que era um povo justo e santo, por guardarem os mandamentos do Seu Deus.
Como seguiram os passos de Manasses, é dito no verso 16 que ele havia derramado muito sangue inocente, isto é, eles pagaram o preço por terem confirmado no trono as injustiças de um rei injusto, que certamente se voltaria contra eles, não julgando com justiça, sentenciando à morte quem não era merecedor disto segundo a Lei.
Esta desordem social produziu as condições favoráveis para que a iniquidade se multiplicasse em Judá nos dias de Manassés, de forma que lemos o seguinte em II Crôn 33.9:
“Manassés tanto fez errar a Judá e aos moradores de Jerusalém, que eles fizeram o mal, ainda mais do que as nações que o Senhor tinha destruído de diante dos filhos de Israel.” (II Crôn 33.9).
Por isso, devemos ter muito cuidado quando pregarmos ou ensinarmos sobre o perdão de Deus, tomando a vida de Manassés como exemplo, pelo fato dele ter se convertido próximo ao final do seu longo reinado de injustiças de 55 anos.
Por que qual é a honra que estaremos dando ao Senhor enfatizando a disponibilidade do Seu perdão para quem viveu de modo tão contrário à Sua vontade e que serviu grandemente ao Inimigo na destruição de tantas vidas?
Que isto não sirva portanto de incentivo, ainda que indiretamente, para dizer que as pessoas podem permanecer nos seus pecados e adiarem o mais possível a sua conversão, porque estamos afinal diante de um Deus perdoador.
Longe de nós tal atitude, por que como poderia o Senhor aprovar um tal pensamento?
Isto equivale a fazer aquilo que Paulo condena com uma pergunta que traz a resposta em si mesma: “permaneceremos no pecado para que a graça seja mais abundante?”.
Ainda que permaneça verdadeiro que Deus pode perdoar os piores pecadores, no entanto, não traz nenhuma glória ao Seu nome que alguém viva a transgredir deliberadamente a Sua vontade, por abusar da Sua graça e do Seu perdão.
Os que agem deste modo correm um grande risco, que somente os insensatos ousam experimentar.
É preciso lembrar que Jesus não condenou aquela mulher adúltera, em face do arrependimento demonstrado por ela, mas também lhe disse que não pecasse mais dali em diante.
Ele também disse para aquele paralítico que curou junto ao tanque de Betesda, que não pecasse mais, para que não lhe sucedesse algo pior.
E é o próprio Jesus quem nos ensinou também que se um demônio é expulso de alguém, que permanece escravizado ao pecado, esta pessoa virá a ser possuída por sete espíritos malignos piores ainda do que o primeiro, caso não se consagre a Deus.
Muitas outras passagens bíblicas poderiam ser citadas para que entendamos que não podemos confundir o perdão do Senhor aos nossos pecados como um indulto para que continuemos pecando, ou pensarmos que o fato de adiarmos a nossa conversão possa de alguma forma Lhe trazer qualquer tipo de glória, honra ou agrado.
Longe de nós tal pensamento.
A loucura e insensatez de Manassés, ainda que ele tivesse se convertido, veio a influenciar o seu filho Amom, e nisto se demonstra uma grande outra desvantagem em se viver no pecado.
Amom, que passou a reinar depois da morte de Manassés, seguiu os passos do seu pai, não no que se referia ao bem, mas ao mal que havia aprendido com ele no seu período de transgressor voluntário da vontade do Senhor.
E assim ele tornou a reedificar os altares que Manassés havia destruído depois que se converteu ao Senhor (II Rs 21.20 a 22).
Ele tinha somente 22 anos quando começou a reinar, e como se vislumbrava nele o mesmo caminho de injustiças de Manassés, os seus próprios servos o mataram em sua casa, e com isto ele reinou somente dois anos (II Rs 21. 23).
Josias, filho de Amom era muito menino quando mataram seu pai, mas ele foi conduzido ao trono quando era ainda uma criança, como vemos no capítulo seguinte (v. 24, 26), afastado o risco de ser extinta a descendência de Davi por um possível assassinato dele por parte daqueles que mataram Amom com a intenção de se apoderarem do trono, porque o povo de Judá não somente preservou a vida de Josias, como também mataram aqueles que haviam assassinado o seu pai (v. 24).