Num país como o nosso, de cultura tradicionalmente católica, a figura do pastor evangélico é muitas vezes confundida com a do padre ou pai de santo. O padre, na cultura tupiniquim, é aquela figura distante, que celebra a missa, aparece nos eventos cívicos e é procurado no confessionário. O pai de santo é o curandeiro, o solucionador de problemas; a figura mítica que tem respostas rápidas e soluções instantâneas.
Como pastor já fui procurado por motivos semelhantes. Mas o que tem me intrigado é a mentalidade pós moderna do “pastor como um tio”. O tio, na cultura brasileira (e creio eu, na grande maioria dos países ao redor do globo), é alguém próximo o suficiente para ouvir confissões e ser um ombro amigo, mas sem autoridade paternal. Ou seja: o tio dá conselhos mas não dá bronca. Dá dicas, mas não impõe limites. O tio é disponível, acessível, mas procurado apenas por conveniência.
Acredito que as vezes, nós pastores, posamos nas fotos como “tios” de nossas ovelhas. Estamos nos aniversários, nos noivados, nas formaturas e onde houver festividade, alegria, confraternização. Até aí tudo bem. Amo muito tudo isso. Mas ser pastor é algo mais. Implica em responsabilidades espirituais sérias que precisam ser avaliadas de modo mais maduro.
O pastor é um guia espiritual.
Segundo a Bíblia, pastores são guias espirituais.
Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram (Hebreus 13:7) .
Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros (Hebreus 13:17 ).
Os tios não tem o papel de guiar mas os pastores tem. A palavra dos pastores e servos de Deus tem autoridade divina, tem um tom sobrenatural, e isso significa não só concordar com tudo que dizemos ou fazemos, mas muitas vezes discordar, apontar o caminho certo com determinação, julgar atitudes erradas, sentenciar, disciplinar, repreender, corrigir, exortar, visando nosso progresso espiritual.
O pastor é uma autoridade espiritual.
Deus decidiu colocar sobre nossas vidas homens maduros o suficiente para que tenhamos uma noção clara de Sua Santa Autoridade. A autoridade de Deus está investida na vida de seus servos, os pastores. Mesmo discordando deles, devemos respeitá-los e jamais rechaçar suas orientações, determinações ou ensino, quando respaldadas na Bíblia Sagrada. A autoridade dos pastores não é absoluta, é relativa. Mesmo assim, devemos primeiramente ouvi-los, exercer discernimento, considerar suas palavras, compara-las com a Bíblia e então agradecer à Deus pela orientação. Um pastor é mais que um conselheiro – é um porta voz de Deus, sob autoridade divina, para o nosso bem.
Gosto de ser amigo, de estar próximo, de participar da vida de minhas ovelhas. Acho até que tenho um lado “tio” bem acentuado.
Guardo bem vivo na lembrança a figura do amado “Tio Cássio” (Pr. Cássio Colombo, da igreja Cristo Salva) que foi uma tremenda inspiração para mim, mas o título de tio era carinhoso pois seu ministério de pastor evangelista brilhava.
Mas se eu for considerado apenas o “tio” não poderei exercer meu dom espiritual de pastor. Preciso ir além, exercer autoridade espiritual em amor, conforme Paulo orientou o pastor Timóteo em 1 Tm 5:1 , 6:17 e II Tm 4:2. Fazendo assim, cumprirei fielmente o meu chamado, exercerei a genuína autoridade pastoral a mim confiada e protegerei o rebanho do veneno mortífero das heresias, do relaxo espiritual, da falta de amor e de compromisso com o Reino de Deus.
Pastores não são “tios”, são pastores. Que assim seja, em nome de Jesus.
PR. SÉRGIO MARCOS