O orgulho mata porque impede que recebamos de bom grado a a graça educadora e transformadora de Deus. Quando estamos cheios de nós mesmos, com nossas próprias convicções arraigadas, especialmente no que tange aos assuntos relativos a Deus e à sua vontade, ficamos inclinados a rejeitar tudo o que seja diverso da nossa maneira de pensar.
Não é com pouca dificuldade que podemos ser livrados dessas próprias cadeias com as quais nos amarramos, e na verdade, é impossível que sejamos libertados, senão por uma ação direta divina misericordiosa e graciosa em nosso favor. Se Deus não mover pacientemente o nosso coração, através das circunstâncias da vida, ao conhecimento da verdade em relação à necessidade da nossa condição e da sua pessoa divina, nada mudará em nosso viver.
Somos dados naturalmente a todo tipo de idolatria, quer de pessoas, de objetos ou de símbolos religiosos ou não, lhes adorando no lugar que é devido exclusivamente a Deus, e assim, o mandamento que nos proíbe a idolatria não encontrará eco em nossos corações enquanto não formos libertados disso pelo poder do próprio Jesus Cristo.
Lembro-me ainda hoje, depois de tantos anos passados, quando o Senhor começou a atrair o meu coração para Si. De ateu convicto me deixei persuadir depois de algum tempo a fazer parte de um grupo religioso, e certa ocasião, na chamada semana santa, quando todos estávamos enfileirados para beijar os pés de uma imagem representando “Jesus“ crucificado, ouvi nitidamente uma voz que me dizia: “Não beije porque eu não estou morto, mas vivo!”
Narrei o ocorrido à minha esposa que estava à minha frente na fila, e disse que me sentia impedido de efetuar aquele ato de devoção religiosa. Meu coração estava cheio de temor, e discretamente deixei a fila, atônito e ao mesmo tempo alegre com aquela revelação.
Lembro-me que eu não conseguia deixar de pensar desta forma: “Ele está vivo… Ele está vivo!”. Eu exultava, mas não tinha entendimento de quem era de fato Jesus Cristo, como vivo e participando ativamente de nossas vidas. Isto despertou em mim um grande interesse em buscar conhecer a Jesus através da leitura da Bíblia, especialmente no Novo Testamento. Desde que tinha ouvido aquela voz comecei a ficar inquietado com o meu modo de vida, que era bastante contrário a quase tudo o que era narrado na Bíblia, quanto ao comportamento daqueles que haviam vivido para Deus.
Mas confesso que havia ainda muito orgulho religioso em meu coração, e eu não queria dar o braço a torcer em admitir que pudesse existir alguma convicção religiosa diferente e melhor do que a minha. Sequer havia tido um encontro pessoal com Cristo, pela conversão e transformação do meu coração, e me considerava um grande entendido em assuntos da Bíblia.
Até que passado algum tempo, o Senhor fez com que um casal de genuínos convertidos alugasse a casa ao lado da minha, casal este que se tornou nosso amigo. Eu ouvia à noite os seus louvores entoados a Deus, acompanhados ao violão, e também suas orações. Havia vida e uma grande diferença não apenas na sua forma de adoração, como em suas próprias vidas.
Mas eu permanecia no endurecimento do meu orgulho religioso, comparando-me com eles, e dizia a mim mesmo que não podia existir religião melhor do que a minha. Até que no melhor dia da minha vida, o Senhor me levou ao pó da humilhação, fazendo-me arrazoar com ele quanto ao fundamento de minhas convicções, se era verdadeiro ou não. Ele me fez contrastar a minha vida com a do meu vizinho: “você diz que me conhece tanto quanto ele, e porque isto, e isto, e aquilo” – começou a mostrar o meu comportamento pecaminoso em várias áreas, nas quais nada poderia ser imputado ao meu vizinho.
Minhas convicções orgulhosas e erradas foram por fim quebradas. Prostrei-me em humilde oração clamando ao Senhor que me perdoasse e lavasse dos meus pecados. Que tivesse misericórdia de mim e que pelos méritos exclusivos de Jesus Cristo, e por amor a Ele, me concedesse a graça de conhecê-lo de fato e de verdade, em espírito, em comunhão pessoal e real.
Desde então, fui liberto de mim mesmo – dos fardos que eu mesmo criara e carregava por anos a fio.
Tudo se fez novo, e desde então tenho aprendido cada vez mais, que para conhecer e viver na verdade relativa a Cristo, e à nossa real condição de pessoas necessitadas do seu amor e poder, dependemos inteiramente dele – que ele se manifeste a nós e nos instrua e capacite a ter alegria, amor e paz em nossos corações, a par de todas as circunstâncias em que vivamos, sejam elas agradáveis ou desagradáveis, porque em meio a tudo isto, somos conduzidos a um maior conhecimento da vontade de Deus.