Concordo com Eugene Peterson, em sua entrevista para o Cristianismo Hoje, que a chamada “Teologia da Prosperidade” é um dos grandes perigos do nosso tempo. Cada vez mais “pequenas igrejas são sinônimo de grandes negócios”, mais preocupadas em garantir a “satisfação total” de seus “clientes” do que qualquer outra coisa. Isso claro, inclui promessas como o carro do ano (porque afinal você é filho do rei), apartamento em bairro chique, viagens internacionais, etc. Existe sim um cristianismo desfigurado, distorcido e conveniente que tem permeado algumas comunidades cristãs.
Quem definiu isso muito bem foi o Wilson Tonioli no blog Verticontes:
“A oração é a frase centrada no verbo. Aí vieram os carismáticos… Agora a oração é a frase centrada no sujeito.”
Quando li isso, percebi que o engraçado é que alguns versículos – “tudo posso naquele que me fortalece” – viraram praticamente um mantra de auto-ajuda e motivação (e não que não o sejam), só que outros como “quem quiser me seguir, tome sua cruz, e venha depois de mim” ficaram perdidos em algum lugar no Triângulo das Bermudas. Tenho a impressão que por trás de todo esse tema, deste “cristianismo de conveniência” (que daria uma verdadeira tese) está a nossa dificuldade em lidar com o sofrimento.
A bondade divina e o sofrimento humano parecem idéias desconexas, difíceis de conviver no mesmo ambiente. Tenho participado de um Fórum de Reflexão Bíblica e Teológica que tem tratado deste tema. Espero conseguir escrever mais sobre isso no futuro. Mas por hora, quero dividir com vocês uma história do meu amigo Pe. Lucas, de Jundiaí, que me fez muito bem e trata com propriedade do assunto.
O Lucas é uma autoridade reconhecida em Sagradas Escrituras e foi nosso professor (meu e da Van) em Teologia Bíblica. Quando nós o conhecemos ele se movimentava com dificuldade. Parecia que todo seu lado direito estava paralisado. E de fato estava. Foi quando descobrimos que há um tempo atrás, a secretaria de sua paróquia fora assaltada, e nas palavras do próprio padre – “Os assaltantes na saída, fizeram-me a gentileza de disparar 5 tiros contra mim” – Alguns passaram de raspão no pescoço, mas outros ficaram alojados na cabeça. Após um tempo em coma e com dificuldades, a equipe médica extraiu fragmentos de bala de regiões próximas ao cérebro, causando a tal paralisia parcial. Ele precisou, com muito esforço, aprender quase tudo novamente: falar, andar, escrever.
E foi durante uma de suas sessões de fisioterapia, que uma pessoa o surpreendeu com uma pergunta que coloraria em cheque sua fé – “Padre, onde será que Deus estava naquele momento? Onde Ele estava quando o senhor foi baleado desta forma?” A resposta dele, ainda me faz pensar até hoje:
– “Ora criatura, Deus estava exatamente no mesmo lugar que estava quando mataram seu Filho na cruz!”