Desde o início da história da humanidade falta compreensão e conhecimento sobre qual é a oferta agradavel a Deus.
Em Gênesis 4:1-8 lemos que Abel trouxe os primogênitos do seu rebanho e os sacrificou no altar. Caim trouxe os frutos da terra. O resultado todos sabemos: Deus se agradou da oferta de Abel e não aceitou a oferta de Caim.
Embora hoje não mais realizemos ofertas com sacrifícios no sentido literal, em nossos cultos levamos ao altar de Deus nossas ofertas em dinheiro com orações e louvores através de hinos, cânticos, mensagens musicais vocais e instrumentais.
Do relato do sacrifício de Abel e Caim podemos imediatamente tirar algumas lições:
* Não existe oferta de louvor a Deus sem sacríficio. (Hb13.15)
A entrega a Deus no Louvor e Adoração é um ato de sacrifício em que nos despojamos do eu e entregamos a nossa vida e a nossa vontade ao Supremo Criador da terra e céu.
Participar do Louvor é realmente um ato de sacrifício: são muitas horas de ensaio e preparo para poucos minutos de apresentação. Pois Deus é o objeto de adoração. Ao contrário das apresentações artísticas onde o nosso talento e habilidade é apreciado e valorizado.
* O verdadeiro adorador é manso e humilde.
A reação do falso adorador ao ser repreendido é a raiva acompanhado da inveja. A inveja é uma espécie de admiração com a polaridade negativa. Caim matou o seu irmão. O invejoso não mais comete um assassinato, mas muitas vezes difama e tira a honra dos Abéis da igreja, questionando a autoridade do pastor e líderes do louvor e provocando divisões entre os membros da mesma forma que o inimigo agiu no céu.
Salomão em sua sabedoria escreveu que o sábio quando repreendido agradece a correção. O tolo por sua vez não só rejeita mas como zomba quem o corrige. (Provérbios 29:8 23.9 10:8 9:7-9)
* Como o falso louvor é introduzido na igreja.
Atualmente a indústria de entretenimento musical secular (Sony-BMG, Universal, Warner, EMI) são as proprietárias e acionistas de 90% das gravadoras e produtoras “cristãs”.
Essas produtoras “cristãs” em parceria com igrejas, escolas, revistas, redes de TV e rádio, e diversas outras entidades religiosas produzem e divulgam CDs, DVDs e todo tipo de material com conteúdo religioso. Grandes eventos de divulgação são realizados em ginásios, teatros e até em igrejas com o rótulo de louvor e adoração. Grande parte das pessoas que assistem essas apresentações artísticas com conteúdo religioso as tomam como modelo para o louvor e adoração a Deus na igreja e tentam transformar o altar de Deus em palco artístico. Como produtor musical eu não posso deixar de admitir que um produto com conteúdo religioso cristão na maioria das vezes é feito, concebido, produzido e planejado exclusivamente com intenção de venda. Se o produto não decola em vendas esse produto raramente é reeditado ou o artista consegue lançar novos produtos. No mercado religioso não é a espiritualidade que conta mas o resultado financeiro. Atualmente as gravadoras utilizam as mesmas foómulas de sucesso do mundo para o mercado religioso.
Se um determinado estilo de música está dando certo no meio secular em pouco tempo aparece o seu clone religioso. As vezes até os mesmos músicos coadjuvantes, produtores e artistas gráficos são usados pra produzir o clone religioso. Algumas lojas produzem um folheto com o seguinte dizeres: Se você gosta de U2 escute Michael W. Smith… Se você gosta de Mariah Carey escute Avalon, Natalie Grant ou Rachel Lampa… Não podemos esquecer que Jesus expulsou os mercadores do templo. O que esses mercadores vendiam? Elementos para serem usados no templo.
* Como diferenciar o Louvor e Adoração a Deus e Entretenimento Cristão.
No louvor a Deus o baterista contribue com a adoração provendo os andamentos e a unidade rítmica para os instrumentistas, cantores e congregação. Nas igrejas tradicionais e orquestras o maestro executa essa função. Na banda moderna a figura do maestro foi abolida. Mas alguém precisa coordenar o andamento e o baterista assume essa função. Por ser um instrumento um tanto barulhento as igrejas que compreendem a verdadeira função da bateria a isolam numa redoma de vidro.
No entretenimento cristão o baterista é o centro das atenções, o volume do som da bateria fica em primeiro plano e os desenhos e viradas estão em destaque. A habilidade do instrumentista é muito valorizada e apreciada.
No louvor a Deus o líder e os cantores conduzem a congregação a louvar a Deus num mesmo espírito e unidade. Dentro deste objetivo tudo que distrai a congregação é evitado. As vezes até mesmo cantar em vozes é evitado em alguns momentos em função do uníssono ou a unidade da adoração.
No entretenimento cristão o artista principal e seus vocalistas são o centro da atenção. Pulando, gritando, fazendo acrobacias musicais, melismas e voltinhas, usando roupas chamativas, corte e penteados de cabelo não convencionais. Ou seja todo o recurso artístico é empregado para ressaltar o talento dos envolvidos.
No louvor a Deus o volume de som é saudável e consegue-se ouvir a congregação.
No entretenimento cristão o volume de som é exagerado. Na maioria das vezes excede os niveis recomendados pelas organizações de saúde e especialistas da área médica. Na maioria das vezes quase não se ouve a congregação. A congregação grande, parte das ocasiões, participa sim mas através de barulho, palmas, urros, movimentos, dança e coreografia.
No louvor a Deus as palmas são uma expressão de alegria e reconhecimento pelas bençãos do criador.
No entretenimento cristão as palmas são usadas para demonstrar aprovação pelo talento e carisma pessoal dos artistas.
No louvor a Deus o líder canta e o pregador prega a palavra. Nos momentos em que o líder de louvor fala ele ressalta algumas frases e versos e faz a ponte entre uma música e outra.
No entretenimento cristão o artista novamente age como o centro das atenções: ele prega, “profetiza”, fala o que vem a cabeça, grita, inventa, improvisa, pula, levanta as mãos, se joga no chão, ajoelha, ora e tudo isso simultaneamente a música que é executada. É cientificamente provado que nossa mente é incapaz de concentrar-se em duas coisas ao mesmo tempo. Será que essas diversas atividades paralelas nos direcionam a Deus?
No louvor a Deus existe sacrifício através do preparo, oração, treinamento, ensaio, espírito de humildade e serviço.
No entretenimento cristão o improviso é um dos ingredientes principais. Em que o talento bruto é colocado como o centro das atenções. Quanto mais peripécias sem ensaio mais pontos. O artista é “dotado” “tem o dom” como dizem alguns. É uma espécie de adoração circense. A igreja se transforma num circo com malabaristas e mágicos.
No louvor a Deus a adoração é racional. (Rom. 12.1-2)
No entretenimento cristão a emoção é o que conta. O que eu sinto vontade de fazer na hora é o que vale. O incrível é que usamos os Salmos para justificar a validade de nossos atos. Usamos a palavra de Deus da mesma forma que o inimigo a usou para tentar Jesus.
* O que é proibido na verdadeira adoração.
Muita coisa poderia ser dita sobre este assunto mas, não podemos deixar de esclarecer que os elementos ou ingredientes que usamos para louvar a Deus são os mesmos que usamos para o entretenimento. Proibir instrumentos, músicas e músicos é a saída mais fácil e menos eficiente. Além de não existir base bíblica para proibir. Não está nos 10 mandamentos que esse ou aquele instrumento, acorde ou ritmo é proibido.
Na história da música sacra muitos elementos foram proibidos e gradualmente permitidos. E hoje, ainda existem diferenças contrastantes entre o que é utilizado em diferentes culturas e paises.
O orgão foi proibido por ter sido usado pelo Império Romano no derramamento de sangue dos mártires. Na geração seguinte, o mesmo instrumento representa o mais sublime deles para a música sacra, e para a nova geração este som é usado nos filmes de terror e ocultismo.
As mulheres por muito tempo não puderam fazer parte da adoração e para isso castravam se meninos para perpetuar o maravilhoso som das notas de um soprano, já que era proibido de serem executadas por mulheres. Até hoje ainda temos algum preconceito com pastoras e ministras.
Proibiu-se Saxofone por ser sensual, o piano por ser empregado em tavernas, boates e casa de dança. A bateria e a guitarra que ainda é empregada pelos grupos de Rock. A gaita e o acordeon por alguma razão… Até as doze notas temperadas por Bach foram proibidas. Antes de Bach o D ó sustenido e Ré bemol tinham uma pequena diferença em altura. Quando Bach temperou ou as transformou num som só com dois nomes, a gritaria foi geral.
Alguns intervalos entre notas foram proibidos e acordes também. O tempo e a história mostram e continuam mostrando que proibir não muda ou resolve o problema do louvor e adoração. O problema não está no instrumento ou na linguagem, mas no adorador.
O segredo é o bom senso, sabedoria e equilíbrio conseguidos pela oração e direção do Espírito de Deus.
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Uma palavrinha sobre os melismas e voltinhas tão apreciadas pela geração “American Idol”
As melismas e voltinhas ou variações sempre estiveram presentes na música. Bach usava e tantos outros compositores sérios em diferentes períodos da história da música utilizaram deste recurso. A diferença está na forma em que é empregado: se o melisma ajuda a conduzir o adorador a Deus evitando a repetição e mesmice produzindo variedade, ou se o melisma chama a atenção para o participante e não para Deus.
Na história da arte o ser humano anda em círculos exagerando na forma e algum tempo depois voltando a simplicidade, equilibrio e bom senso. Um exemplo musical secular brasileiro recente é a bossa nova de Tom Jobim, João Gilberto, entre outros, que foi sucedida pelos tropicalistas: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee e outros. O tropicalismo tentou se distinguir da bossa nova pelo exagero em todos os aspectos. Guitarras estridentes, visual exagerado, etc. A bossa nova era coisa de velhos, cantar baixinho com um violão e orquestra de cordas. A ironia da vida é que todos os grandes artistas da Tropicália recentemente gravaram albuns de bossa nova. O que era ultrapassado na juventude agora é valorizado. E porque gravaram? Porque os consumidores do mundo preferem comprar albuns de bossa nova. Já a Tropicália não passou de um movimento rebelde com pouco conteúdo incapaz de sobreviver ao tempo.
No meio religioso está acontecendo uma volta aos hinos. Todo ano milhares de canções religiosas novas são lançadas em todo o mundo. No entanto, como explicar o sucesso de um hino composto a centenas de anos noutra época e cultura, sem internet e meios de comunicação de massa e mesmo assim este hino inspira e toca milhares de pessoas?
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Entendendo a função dos elementos ou ingredientes na adoração.
A diferença de um louvor e adoração efetivo é a forma pela qual utilizamos o elementos e ingredientes: acordes, instrumentos, coreografia, palavras, palmas, vozes, variações, etc.
Será que o elemento utilizado é um meio ou instrumento para conduzir o adorador a Deus? Ou para distrair e desviar a atenção do adorador e o conduzir para apreciar a habilidade humana?
Fico imaginando esta cena no céu:
“Mas Senhor eu toquei, cantei e improvisei com melismas e variações maravilhosas em Teu nome… Pulei, dancei, gritei, usei as melhores roupas da minha época, o som mais potente, os melhores instrumentistas e cantores, tudo do melhor… meus cds venderam milhares de cópias… Não é justo que eu não faça parte do teu Reino…”
(E a resposta… ? Mateus 7.23)
Autor: Flávio Santos