As Escrituras apresentam o pecado como sendo um princípio estranho que se apoderou da natureza dos seres morais que Deus havia criado perfeitos e para viverem em perfeição. Ele é representado como um senhor de escravos, como se fosse uma pessoa que possui energia própria, ou, como por assim dizer, vida própria.
Este domínio do pecado não é uma mera força contra a vontade e os esforços dos que estão sob ele; pois opera com a força e o poder de uma lei nas vontades e mentes dos homens, e assim os reduz ao estado de servidão. Assim, ainda que não haja um consentimento da nossa vontade, ele continuará operando.
Vemos isto de modo muito claro nas palavras do apóstolo:
“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.” (Rom 7:14-17)
Se o pecado possui tal vida e poder, muito maior do que a nossa própria vontade, então é por isso que nosso Jesus Cristo afirma que somente ele pode nos libertar do senhorio do pecado, através do poder operante do Espírito Santo.
“Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:34-36)
“Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.” (Rom 8:2)
Vemos portanto, que o pecado é vencido somente quando nos sujeitamos ao Senhor Jesus Cristo e ao trabalho da sua graça em nós.
É de grande importância termos o conhecimento desta realidade, para que entendamos que a condenação eterna consiste basicamente na rejeição do livramento deste senhorio do pecado que nos está sendo oferecido gratuitamente pelo evangelho de Cristo. E também, para sabermos que a obediência ao pecado conduz à morte eterna, e que a obediência a Cristo, à vida eterna.
Ainda que o princípio operante do pecado remanesça naqueles que se convertem a Cristo, todavia, ele já não possui o predomínio e nem sequer pode mais reinar de modo absoluto no coração que crê, porque este se encontra em Cristo, sob o domínio e governo da graça.
Não é o pecado que detém agora o poder, mas a graça de Jesus. Tanto isto é verdadeiro que ele não pode colocar em risco a nossa salvação, senão apenas influenciar na perda de galardões pela nossa eventual infidelidade, por ainda nos submetermos a ele, depois de termos sido livrados do seu senhorio por Jesus Cristo.
Dantes não podíamos dizer não ao pecado, porque ainda que o ato pecaminoso não fosse praticado, ele ainda prevalecia sob a forma de desejo. Mas, em Cristo, tanto a ação quanto o desejo podem ser mortificados pelo poder do Espírito Santo, que em nós habita.
Se fosse do agrado de Deus ele poderia exterminar o pecado completamente no momento mesmo da nossa conversão a Cristo, mas ele quer que aprendamos em nossa própria experiência o quanto somos dependentes do trabalho da graça e da nossa obediência a ele para a subjugação do princípio do pecado.
Fica evidente na experiência daqueles que andam no Espírito, que o pecado vai ficando cada vez mais fraco e a graça cada vez mais forte, com a constância da sua caminhada em obediência a Deus e à Sua Palavra. Assim, louvamos continuamente a glória da sua graça maravilhosa, pela qual somos mais do que vencedores sobre este senhorio usurpador que reinava absoluto em nossas vidas antes de conhecermos a Jesus em espírito.