“Companheiro sou de todos os que te temem, e dos que guardam os teus preceitos.” (Salmo 119.63)
Pelo princípio geral de que duas pessoas não poderão caminhar juntas na mesma direção nos assuntos da vida se não houver acordo entre elas, se estabelece o critério do companheirismo.
No campo moral e espiritual este acordo será então visto quer entre aqueles que seguem o bem, ou entre aqueles que seguem o mal.
De modo que não se pode dizer que haja um companheirismo real quando alguém faz parte de um grupo de pessoas de orientação diferente da sua, apesar de pensar que assim o seja, por motivo de ingenuidade ou ignorância da condição em que se encontra.
Este não era o caso do salmista porque estava bem definido quanto àqueles com os quais compartilharia o seu coração em íntima comunhão fraterna. Ele afirma em nosso texto que tinha por companheiros somente aqueles que temessem de fato a Deus, e que comprovassem tal temor por guardarem os Seus mandamentos.
Na verdade, esta não foi uma decisão isolada do salmista, porque temos da parte de Deus o mandamento de não entrarmos em jugo desigual, porque não é possível e nem desejável que haja comunhão entre luz e trevas.
Os que buscam o mal andam em trevas, e os que buscam o bem, andam na luz.
De modo que é por este princípio divino que todo cristão deve nortear a sua comunhão, pois o salmista diz que daria sua destra de companhia a todos, veja bem, todos, que tivessem o temor do Senhor, ou seja que fossem genuinamente pessoas dirigidas por Deus, tal como ele. Não seria por critérios interesseiros de busca de favor, honra, ou quaisquer outros que ele se relacionaria em íntima comunhão com as pessoas, mas fosse qual fosse a condição delas, se pobres ou ricas, sábias ou ignorantes, de condição social privilegiada ou não, enfim, fosse ela qual fosse, teria comunhão indistintamente com todos aqueles que amassem ao Senhor com um coração puro e sincero como o dele. Afinal, não há outra forma de se ter comunhão real na luz, a não por esta única via de mão também única.
Verdadeiros santos amam a Igreja de Cristo, amam todos os demais santos, independentemente de suas denominações religiosas, países, costumes, ou seja o que for. Oram pelo avanço do reino de Cristo na terra. Vivem para servir zelosamente à Igreja do Senhor onde quer que ela se encontre, ou como se encontre. Intercedem por todos seus irmãos em Cristo e não apenas por aqueles com os quais prive de um relacionamento direto, porque está perfeitamente instruído pelo Espírito Santo que este é o desejo do coração de Cristo, a saber, o da unidade da sua Igreja, na mesma fé, na mesma doutrina, no mesmo amor, no mesmo espírito.
Quem quiser ser proselitista que o seja, mas para sua própria perda e dano, porque efetivamente não é este o desejo de Jesus para os seus servos.
O verdadeiro temor a Deus ao qual se refere o salmista é de caráter servil e filial. Tememos ao Senhor por conhecer o nosso dever de servi-lo com fervor de espírito, com sabedoria e diligência, sob o poder e direção do Espírito Santo; pois sabemos que Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, que deve receber a devida honra e adoração de todos os seus servos.
Em segundo lugar, este temor é de caráter filial porque o cristão é como uma criança diante de Deus que teme ofender ou desapontar o seu pai amado. E ele sabe que isto não pode ser feito senão pela santificação operada pelo Espírito Santo pela aplicação da Palavra de Deus à sua vida. Por isso o salmista define aqueles que têm o temor de Deus como sendo os que guardam os Seus mandamentos. Veja bem, não apenas aqueles que reconhecem que a Palavra de Deus é a verdade, mas que a praticam de fato, buscando amoldar suas vidas às ordenanças de Deus, de modo que sejam elas o guia de todo o seu comportamento.