Deus havia dado, cerca de 750 anos antes de Cristo, a seguinte revelação ao profeta Oséias:
“Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.” (Os 6:6)
Então veio nosso Senhor em carne, a este mundo, e não somente confirmou tal revelação, como acrescentou pontos de esclarecimento para entendermos o seu significado, em duas passagens do evangelho de Mateus:
“Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento.” (Mt 9:13)
“Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes.” (Mt 12:7)
Veja que em Mt 9.13 nosso Senhor declara que o propósito expresso, relacionado à vontade de Deus, é o uso da misericórdia, e que esta misericórdia por Ele referida consiste na sua chamada de pecadores ao arrependimento.
E que sem a apresentação do que significa esta misericórdia, e convite aos pecadores, por meio dos seus ministros, e sem o atendimento dos que são convidados, ao chamado da misericórdia, de nada adianta apresentar ofertas, culto, sacrifícios religiosos para tentar agradá-lo.
E na segunda passagem de Mt 12.7, em seu confronto com a justiça própria dos escribas e fariseus, nosso Senhor lhes disse que eles haviam condenado inocentes, por conta de não entenderem o significado desta expressão que Deus lhes havia falado por intermédio do profeta Oséias: “Misericórdia Quero”. Mas, afinal, pecadores são inocentes aos olhos de Deus? O que Jesus pretendia então, nos ensinar com o que disse? O motivo de os fariseus e escribas não terem entendido, é o mesmo pelo qual também não entendemos, se não formos instruídos por revelação do Espírito Santo, quanto ao seu significado. A carne, ou seja, o homem natural não pode compreender em que base a justiça divina opera com os pecadores. Em primeiro lugar, não há culpa para imputação de penalidade, nesta dispensação da graça, na qual Deus decidiu usar de longanimidade e misericórdia para com todos. Mas como funciona isto na prática? Vou lhes dar um exemplo:
Uma pessoa muito amada e querida estava se auto acusando por não se julgar uma pessoa justa e bondosa o tanto quanto queria.
Nem sequer estava se alimentando direito, tal era a enormidade da acusação que a magoava. Eu lhe disse, para sua estupefação, que aquilo não era arrependimento, e nem contrição de coração por se julgar por demais pecadora. Seu sentimento estava fundado em justiça própria. Não estava satisfeita com o que era, uma vez que não correspondia ao que havia projetado para si mesma, a saber, que era uma pessoa muito legal, bacana, bem melhor do que muitas outras. Mas quando Deus a colocou debaixo de certas provações, logo se revelou o que estava escondido debaixo de toda aquela justiça própria. O Senhor queria curá-la deste grande mal. E precisava conduzi-la a um diagnóstico preciso do que realmente sofria.
Mostrei-lhe, pela Bíblia, que ninguém possui uma natureza justa segundo o padrão de Deus. Que por este motivo a ninguém está o Senhor condenando, desde que Jesus veio ao mundo, porque a base da condenação, não está sendo levada em conta em razão daquilo que somos (pecadores com uma natureza errada), mas pelo fato de permanecermos incrédulos; de rejeitarmos a cura que há em Jesus para o nosso mal; de não aceitarmos que precisamos ser progressivamente transformados; enfim, que devemos ingressar pela graça, e mediante a fé, no caminho que nos conduzirá àquela justiça plena que há em Jesus, pela nossa conversão e santificação.
É de tal ordem a extensão da graça que Deus nos está oferecendo em Cristo, e aguardando pacientemente que nos rendamos a ela, para acharmos misericórdia e salvação, que até mesmo o ato de não ouvir e não dar a devida consideração à mensagem do evangelho, está sendo tolerado por Jesus, na expectativa de que mudemos de opinião, e que por fim aceitemos que de fato, não podemos, de nós mesmos, viver de modo agradável a Deus.
Veja as Suas palavras em Jo 12.47:
“Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.”
Recapitulemos então rapidamente, para que não sejamos mais enganados, como o povo de Israel era pelos escribas e fariseus do passado, que lhes ensinavam que se alguém não for bom e justo o suficiente, por meio de suas boas obras, não poderá de nenhum modo entrar no reino de Deus. Tal ensino é um ensino de total falta de misericórdia para com aqueles que são pecadores, e que estão por conta de sua natureza decaída, incapacitados para produzirem de si mesmos o tipo de vida espiritual santa e justa, esperada por Deus. Isto é um fardo terrível que produz muitas agonias e acusações, nas consciências de pessoas sensíveis, sem lhes ajudar em nada, quanto ao que devem fazer, para acharem misericórdia junto de Deus.
Este ensino legalista e farisaico, condena de fato as pessoas, como afirma o Senhor, porque aqueles que tentam alcançar o céu por tal caminho, jamais toparão sequer com a sua porta, e assim, permanecerão condenados para sempre. É melhor dar crédito ao jugo suave e ao fardo leve do Salvador, que ternamente nos diz com o coração cheio de amor: “não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento.”, e também: “… eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.”
Se não fosse por tal bondade, misericórdia e longanimidade, jamais poderíamos chegar ao conhecimento verdadeiro de Deus.
Sem este conhecimento, não poderíamos ser libertados do pecado, porque continuaríamos a nos condenar e a nos afligir, por toda a eternidade, sem saber que poderíamos ficar em paz, colocando nossas vidas nas mãos de Cristo, para que Ele, pelo Seu poder, nos despoje da antiga natureza que nos leva para longe de Deus, e que nos revista cada vez mais da nova, que nos leva a buscá-lo.
Graças a Deus, por nos ter dado Jesus Cristo.
Glórias ao Seu santo e grande nome.
Pr Silvio Dutra