Era mais um desses dias de muito trabalho. A vontade era de chegar em casa, dar um beijo na esposa, um outro no filho, tomar aquele banho e sentar no sofá, esticar as pernas e esperar a fome chegar pra jantar.
Enquanto isso, liguei a TV e sintonizei num canal que estava passando um desses jornais que, se espremer, sai sangue . Mudei pra outro, a mesma coisa. Então, decidi ver minhas mensagens de WhatsApp. Dentre todas as mensagens, havia uma no grupo da família, enviada por um parente, que constava a foto de um garoto de pouco mais de 15 anos de idade que havia sido assassinado por um policial militar que tentara assaltar e este reagiu e o matou.
Havia três fotos, todas muito feias, porém, mais feio, ainda, foram os comentários que logo se seguiram. Alguns diziam: menos um para atrapalhar a vida dos trabalhadores, enquanto outros diziam: bandido bom, é bandido morto!… Um “peba” a menos nas ruas! Confesso, não consegui ter os mesmos sentimentos que eles, e dei graças a Deus por ainda conseguir me compadecer e chorar por aquela vida.
Aproximei a foto com meu zoom do celular e pude ver no rosto daquela criança um irmão, um parente ou mesmo um de meus filhos. Senti a dor da mãe ao ver seu filho naquela situação. E o Senhor me fez ver e entender o que Sua Palavra quer dizer, quando disse: o coração do homem é mau e mau todos os seus desígnios (Gen 6:5;7), não há bondade em nós, a não ser aquela que vem do coração de Deus, conduzida pelo Seu Espírito Santo direto pros nossos corações.
Fiquei a imaginar como aquela criança teria sido gerada, como ela vivia, onde morava, que forma seus pais o conduziram, se ele ainda teria pai, se alguma vez ele o abraçou e o beijou com amor protetor e amigo. Nunca paramos pra pensar que, por trás de uma criança que chega a matar, roubar ou praticar crimes, há sempre um pai que deixa de exercer seu papel de sacerdote da família e por orgulho, ira, coração endurecido ou, até mesmo, por ignorância, não assume suas responsabilidades e os abandonam.
Cada grito que damos com nosso cônjuge, é uma ferida gerada no coração dos nossos filhos. A missão dos pais, principalmente do homem, é a de estabelecer o Reino de Deus na sua família. E isso, independe da sua religião, se crê ou não na Palavra de Deus e nos Seus princípios. Todo homem, ao gerar um filho, tem como missão exercer o sacerdócio sobre essa vida que Deus o empresta por um tempo e pedirá conta dela a ele, estando ou não por perto. E sacerdote é aquele que oferece o sacrifício. Trabalhamos mais para que eles trabalhem menos, nos cansamos mais, para que todos se cansem menos e, aos poucos, vamos “morrendo” para dar vida à nossa família, isto é cristianismo!
Por isso a dificuldade de ser cristão, pois, no cristianismo, para nascer é preciso morrer. Morrer nos conceitos, pré-conceitos e antigos valores que achávamos estarmos certos. Mas, não se preocupe, quem tem Deus como Pai e vive Sua vontade aqui na terra, dentro da Sua Palavra, tem vida longa e, mesmo que o Senhor o recolha, saberá que o morrer é Cristo e o viver é lucro. (Fil 1:21)
Nossa função como homem e sacerdote não consiste, apenas, em prover nossa casa, não é enchendo a geladeira de “danoninhos” que tudo estará bem. O Reino de Deus não é comida, nem bebida, mas justiça, alegria e Paz no Espírito de Deus (Rom 14:17) . Nossa casa tem que ser o “céu” aqui na terra e deve expressar a paz, a alegria e a tranqüilidade da presença de Deus conosco. E, se a nossa fé, a nossa religião, o que sabemos sobre Reino de Deus, não nos trás paz, alegria, não nos faz leves, temos que rever nossos conceitos sobre Deus e Sua Palavra, pois Seu fardo é leve e o Seu julgo é suave (Mat. 11:30).
Num ambiente onde Deus é a Pessoa principal, e onde tudo se volta ao centro de Sua vontade, cada cônjuge tem o outro como prioridade, o marido trata a esposa como parte mais frágil, não fragilidade de forças ou capacidades, mas aquela que necessita de um cuidado especial, a esposa trata o marido como uma autoridade de Deus sobre ela e os filhos e os filhos respeitam e honram seus pais, dando-lhes o devido valor, creio, jamais, sairá uma criança assim.
Terminando de ver aquelas fotos, com o coração cheio de dor e percebendo como estamos despreparados para tratar os pecadores e darmos continuidade à obra que o Senhor veio fazer, lavando os pés de seus apóstolos e os amando, a ponto de morrer em favor de todos, percebi que, pra Deus, os nossos atos de justiça, são, de fato, como o trapo de imundícia, ou seja, o absorvente da vovó…(Isa 64:6)