Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr. Silvio Dutra.
“Ora, de manhã, ao voltar à cidade, teve fome; e, avistando uma figueira à beira do caminho, dela se aproximou, e não achou nela senão folhas somente; e disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti. E a figueira secou imediatamente. Quando os discípulos viram isso, perguntaram admirados: Como é que imediatamente secou a figueira?” (Mateus 21.18-20)
Isto é um milagre e uma parábola. É um milagre singular, e é uma parábola impressionante. É uma parábola viva, em que o nosso Senhor nos dá uma lição objetiva. Ele coloca a verdade diante dos olhos dos homens, nesta passagem, para que a lição possa fazer uma impressão profunda na mente e no coração. Eu insistirei muito sobre a observação de que esta é uma parábola, pois, se você não olhar para ela sob esta luz, você pode interpretá-la mal.
Nosso Senhor quis ensinar aos seus discípulos sobre a destruição de Jerusalém. A recepção dada a ele em Jerusalém estava cheia de promessas, mas das quais nada viria. Seus altos hosanas iriam mudar para: “Crucifica-o!”
Quando Jerusalém seria destruída por Nabucodonosor, no tempo oportuno, os profetas não só tinham falado, mas eles tinham usado sinais instrutivos. Mais uma vez, os juízos de Deus estavam às portas da cidade culpada. As Palavras de Jesus tinham sido desperdiçadas, e até mesmo as lágrimas do Salvador tinham sido derramadas em vão, então havia chegado a hora de ser dado um sinal do juízo que estava às portas.
Nosso Senhor viu uma figueira, que por um capricho da natureza, estava coberta com folhas em um momento em que, no curso normal das coisas, não deveria estar assim; pois as figueiras somente se cobrem de folhas quando já têm dado os seus frutos. Nosso Senhor viu nisso uma oportunidade para uma lição muito boa para os seus discípulos. Quando ele viu que não havia qualquer figo naquela figueira, ele ordenou que ela ficasse infrutífera para sempre, e imediatamente começou a secar.
A figueira arruinada era um símile singularmente apto do Estado judeu. A nação havia prometido grandes coisas para Deus.
Quando todas as outras nações eram como árvores sem folhas, sem fazer profissão de fidelidade ao verdadeiro Deus, a nação judaica estava coberta com a folhagem da profissão religiosa abundante, mas sem qualquer fruto. Nosso Senhor tinha olhado para o interior do templo, e tinha encontrado a casa de oração senão como um covil de ladrões. Ele condenou portanto, a igreja judaica a permanecer como uma coisa inútil sem vida, e assim foi. A sinagoga permaneceu aberta, mas seu ensino tornou-se uma forma morta. Israel não tinha nenhuma influência sobre as nações. A raça judaica tornou-se, durante séculos, uma árvore seca: não tinha nada, senão profissão externa, exibindo uma pomposa folhagem, mas sem frutos, quando Cristo veio, e essa profissão se mostrou impotente para salvar, mesmo a cidade santa. Cristo não destruiu a organização religiosa dos judeus que ele a deixou permanecer, mas esta se secou a partir da raiz, até que vieram os romanos, e com suas legiões arrancaram o tronco infrutífero.
Que lição é essa para as nações! Elas podem fazer uma profissão religiosa, e ainda podem deixar de expor a justiça que exalta uma nação. Nações podem ser adornadas com toda a folhagem da civilização e da arte, e do progresso, e da religião, mas se não há vida interior de piedade, e nenhum fruto de justiça, elas permanecerão por um tempo, e depois desaparecerão.
Que lição é isto para as igrejas! Há igrejas que têm tido destaque em número e influência, mas a fé, e amor, e santidade não foram mantidos, e o Espírito Santo deixou-os para a exibição vã de uma profissão infrutífera; e há igrejas, com o tronco da organização, e os ramos amplamente estendidos, mas estão mortos, e todos os anos eles se tornam cada vez mais deteriorados.
Podemos ter um grande número de pessoas que vêm para ouvir a Palavra, e um considerável corpo de homens e mulheres que professam ser convertidos, mas a menos que a piedade vital esteja no interior deles, que são estas congregações e igrejas? Podemos ter um ministério valorizado, mas o que seria esse sem o Espírito de Deus? Podemos ter grandes serviços, mas o que são eles sem o espírito de oração, o espírito de fé, o espírito de graça e de consagração?
Há pessoas que parecem desafiar as estações do ano. Ainda não era o momento de figos, mas eles são como esta figueira coberta com aquelas folhas que geralmente indicavam figos maduros. Quando uma figueira está cheia de folhas, você espera encontrar figos nela, e se você não os encontrar é porque ela não vai ter qualquer figo nessa temporada. Esta árvore era uma aberração da natureza, e não um resultado saudável de verdadeiro crescimento. Tais aberrações da natureza ocorrem nas florestas e nas vinhas, e podem ser encontradas também no mundo moral e espiritual.
Alguns homens e mulheres parecem muito excelentes antes daqueles ao redor deles, e nos surpreendem por suas virtudes especiais externas. Eles são melhores do que o melhor, mais somente na aparência. Elas são pessoas muito superiores, cobertas com virtudes, como esta figueira com folhas.
Observe-se, que eles saltam por cima da regra normal de crescimento. Como já lhe disse, a regra é, em primeiro lugar o figo, e depois as folhas da figueira, mas temos visto pessoas que fazem uma profissão antes de terem produzido o menor fruto para justificá-la.
Essas pessoas participam de um encontro de avivamento, e se declaram salvas, embora não tenham sido renovadas no coração, e não possuem nem arrependimento nem fé. Eles vêm para a frente para confessar uma mera emoção. Eles não têm nada melhor do que uma resolução. Agora, eu não me oponho à rapidez da conversão, pelo contrário, a admiro, se é verdadeira, mas eu não posso julgar até que eu veja o fruto e as evidências na vida. Se a mudança de conduta é distinta e verdadeira, eu não me importo o quão rápido o trabalho é feito, mas temos de ver a mudança.
Onde aqueles que são proeminentes vêm a ser tudo o que eles professam ser, eles são uma grande bênção. Teria sido bom se naquela manhã houvesse figos naquela figueira. Teria sido um grande refrigério para o Salvador se tivesse sido alimentados pelo seu fruto.
O primeiro Adão veio à figueira para procurar folhas, mas o segundo Adão procura figos. Ele examina a nossa personalidade por completo, para ver se há alguma fé verdadeira, qualquer amor verdadeiro, qualquer esperança viva, qualquer alegria que é fruto do Espírito, qualquer paciência, qualquer auto-negação, qualquer fervor na oração, qualquer caminhada com Deus, qualquer habitação do Espírito Santo, e se ele não vê essas coisas, ele não fica satisfeito – ir à igreja, reuniões de oração, comunhões, sermões, leituras da Bíblia, pois tudo isso pode não ser mais do que folhagem. Se o Senhor não vê o fruto do Espírito em nós, ele não fica satisfeito conosco, e sua inspeção levará a medidas severas. Observe que o que Jesus procura não é suas palavras, suas resoluções, suas confissões, mas sua sinceridade, sua fé interior, o que está sendo de fato produzido pelo Espírito de Deus para trazer os frutos do seu reino.