A fé é um dos temas mais fascinantes da Bíblia, mas também um dos mais complexos. Através dela se agrada a Deus (Hebreus 11:6), é por ela que o justo vive (Romanos 1:17) e por ela devemos andar (2 Coríntios 5:7), através dela somos justificados (Romanos 3:28), e por aí vai…
A melhor definição para fé é confiança; do latim fides e do grego pistia, é a firme opinião de que algo é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta CONFIANÇA que depositamos nesta ideia ou fonte de transmissão. Dentro do contexto bíblico, a fé implica na confiança em Deus e em Sua Palavra, que são as fontes de toda a verdade em que cremos.
Contudo, temos visto a deturpação desse conceito nas igrejas atualmente. O triunfalismo, a confissão positiva e tantas “palavras proféticas” têm feito com que muitos deixem de confiar em Deus e passem a confiar em suas próprias declarações. Tem sido passada uma ideia de queo crente não pode sofrer, não pode passar dificuldade e não pode ficar doente. No entanto, o próprio Jesus disse que teríamos aflições (João 16:33). Ele próprio sofreu perseguições, foi humilhado, torturado e assassinado e a Bíblia é clara quando afirma: “Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor” [Mateus 10:24 ACF].
Considerando isso, o triunfalismo está longe de ser um princípio Cristão.
Dentro desse contexto, observa-se (e isso não é mais exclusivo às denominações neopentecostais) muitos declarando vitória, declarando bênçãos e curas ao seu bel prazer. O fazem acreditando que o simples fato de pronunciarem palavras de benção e de vitória fará com que Deus mude seus planos e concedam aquilo de que desejam, ou melhor, tomam posse. A fé, com isso, tem estado em suas declarações de vitória e não naquilo que Deus declarou. Aí eu pergunto: e se Deus permitir que se passe por uma provação? E se Ele julgar que determinada “benção” não é benéfica? Mesmo assim deve-se declarar tal “vitória” ou submeter-se à vontade de Deus?
Diz o salmista: “Aguardo ao Senhor; a minha alma o aguarda, e espero na sua palavra” [Salmos 130:5 ACF]. Temos visto cada vez mais pregadores declararem o inverso, querendo determinar aquilo que Deus não determinou. Esquecem-se da história de Jó, que passou por tudo o que passou por permissão de Deus. Mesmo julgando que Deus estava errado (ver Jó 32:2) Jó não “determinou sua vitória”, pois sabia que tudo aquilo provinha de Deus, ao ponto de rebater as críticas de sua esposa dizendo: “Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?” [Jó 2:10 ACF]. Não vemos mais declarações como “Desfaleceu a minha alma, esperando por tua salvação; mas confiei na tua palavra” [Salmo 119:81 ACF], onde a confiança naquilo que Deus determinou é soberana.
Hoje em dia a fé do cristão é medida por suas conquistas: se é rico, bem-sucedido, com muita saúde, com um bom carro e uma boa casa, então é uma pessoa de fé e que está em comunhão com Deus. Por conta disso, as confissões positivas tem ganhado cada vez mais lugar nas igrejas, onde aqueles que não acham estar “com tanta fé assim” ficam declarando palavras de ordem para cura e prosperidade e nessas próprias declarações colocam sua fé. Esquecem-se de histórias como a da oferta da viúva pobre, que não era bem-sucedida ou próspera, mas sua atitude agradou o coração de Deus (Marcos 12:41-44); como o salmo de Hemã (Salmo 88) onde ele declara que sofreu a vida toda, mas nunca deixou de glorificar a Deus e Nele esperar.
Onde devemos colocar nossa fé: naquilo que declaramos para nós mesmo ou naquilo que Deus declara? Lembre-se do que diz as Escrituras: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos” [Isaías 55:8-9 ACF].
Mesmo ante as dificuldades, a única coisa que devemos declarar é que confiamos Nele e que Seus planos são perfeitos.
“Tu és o meu abrigo e o meu escudo; e na tua palavra coloquei a minha esperança” [Salmos 119:114 NVI].
“Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado. Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação” [Habacuque 3:17-18 ACF].