Um dia um amigo me convidou para visitar uma igreja chamada “Igreja Global de Cristo Brasileira”. Fiquei um pouco desconfiado pelo nome do lugar, mas aceitei o convite.
Chegamos e fui surpreendido por sorridentes jovens bem aparentados, e aparentemente bem treinados que me fizeram lembrar daqueles vendedores que ao verem um cliente querem que você se sinta à vontade para deixar todo seu dinheiro ali.
Nos assentamos e na hora determinada, com um atraso irrelevante, começou uma música muito agradável aos ouvidos. Cantavam sobre como eu era importante e como Deus queria realizar todos os meus sonhos. Depois, cantaram outras que falavam coisas parecidas e também sobre a derrota dos meus inimigos.
Após esse momento, um pastor descontraidamente falando sobre a programação semanal da igreja ressaltou um evento que iriam fazer no carnaval. Confesso que fiquei muito interessado em ir. Ele também agradeceu ao grupo de voluntariado que auxiliava nas atividades eclesiásticas dando a eles um grande destaque; talvez, pra que eles se sentissem reconhecidos e continuassem atuantes.
Depois esse pastor chamou um outro, referindo-se a ele como seu grande amigo, o qual, ao assumir o microfone, passou a discursar. Muito interessante era o que ele falava. Dizia sobre como Deus era poderoso e me amava. Assim, bastava eu pedir qualquer coisa a Deus que Ele me daria, inclusive um carro novo, uma casa… Também disse que eu podia pedir uma Mercedes se tivesse fé, pois Deus realmente queria realizar meus sonhos! Eu nunca havia sonhado em ter uma Mercedes, mas diante dessa ousada palavra eu até pedi uma pra Deus, mas acho que me faltou fé, porque já faz uns meses e não consegui nada. Aliás, preciso voltar àquela igreja, pedir ao pastor pra orar por mim. Necessito de uma oração forte, pois acho que vou perder o emprego por faltar muito.
Continuando, o que mais me chamou atenção naquela pregação, é que em determinado momento o pastor pediu que abríssemos a Bíblia em I Timóteo capítulo três e rasgássemos esse capítulo da bíblia, pois ali falava que um pastor deve ser marido de uma só mulher. Com uma entonação adequada a um imperativo, esbravejou que aquela palavra não era de Deus! Podíamos rasgar essa parte, porque isso contradiz o texto que ele leu sobre o amor de Deus por nós. Ele disse que um Deus que é amor não irá fazer uma pessoa sofrer toda a vida com um casamento ruim. Esse Deus é pai e entende o divórcio, fazendo nova todas as coisas. Basta pedir perdão e casar de novo para sermos felizes. Terminou a pregação em tom emocional e deixou o púlpito ao som dos aplausos e lágrimas dos ouvintes.
Essa foi a primeira vez que fui naquela igreja. Achei bem confortável estar ali, as pessoas são legais e a mensagem não é nada fundamentalista como imaginava. O pastor é empresário e o outro que pregou tem umas ideias bem de acordo com a vida moderna. Como disse, vou falar com meu amigo que quero voltar lá.
Em minha opinião, essa história reflete a maioria das igrejas evangélicas do nosso país: igrejas que funcionam em lógica de mercado, com fim em si mesmas, com pregações contrárias à bíblia e promovendo o egocentrismo.
Nunca vi no Brasil um pastor rasgar a bíblia literalmente, mas vejo muitos fazerem isso em suas pregações quando, com discursos contrários à Palavra de Deus, vivem uma vida segundo seus próprios interesses.
Isso não é uma crítica pela crítica, escrevo com um coração quebrantado diante de tantas calamidades no meio gospel brasileiro. Não sou contra recepcionistas e introdutores, sou contra como eles são preparados a estarem ali para interpretar um papel que a igreja não está interessada a fazer. Sou contra o “grupo de voluntariado”, sou a favor do serviço cristão para glória de Deus, antigamente conhecido como ministério.
Sou contra pastores animadores de auditório, embora não veja pecado no riso e na descontração quando estas não são o centro da mensagem. Sou contra pastores que pregam autoajuda. Quero ir à igreja para ouvir somente a palavra de Deus. Não sou contra alguém ter um carro importado, sou contra falsos mestres ensinarem a Teologia da Prosperidade. Sou contra deturpações bíblicas e homens que ignoram as verdades da Escritura em benefício próprio.
O crivo bíblico pelo qual deve passar todo pastor para saber se está apto ou não para o ministério é o que encontramos em I Timóteo 3.1-7: Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo.
Sou a favor da bíblia e somente dela como padrão que rege nossas atitudes e percepções acerca do Cristo e da fé.
Também acredito que dentro dessas instituições humanas está a verdadeira e santa Igreja de Cristo, a quem o Senhor está vindo remir. A essa igreja dirijo esse texto, com o propósito de conclama-la a diligentemente se opor aos falsos mestres de nosso tempo.
Não acredito na possibilidade de outra reforma, seria absurdo algo do tipo na pós- modernidade… mas acredito em avivamento, que é melhor que qualquer reforma.
SOLA SCRIPTURA!