O texto bíblico de Mateus 19.16-17, junto com Atos 2.42-44 e 4.34-35, tem sido usado por muitos para fazer que a pessoa doe tudo o que possui à sua organização (grupo religioso) e passe a viver como pedinte pelas ruas dos grandes centros urbanos atrás de donativos, não para ela, mas para o próprio movimento.
Em Mateus aprendemos que aquele jovem era um homem de “posição” e, logo de início, vemos um problema fundamental. Enquanto Jesus usa o verbo “receber”, o homem usa o verbo “fazer”. O jovem tinha a impressão errada de que podia ganhar a salvação por meio do esforço pessoal. Afinal, ele estava acostumado a ter tudo o que queria por ser rico. E ainda jactanciava-se de cumprir a Lei. Mas Jesus coloca o dedo no problema dele. No fundo, aquele jovem era um transgressor da Lei. Um idólatra! Pois tinha feito do dinheiro o seu deus, tentando adorar a Deus e a “Mamom”.
Não é errado possuir riquezas, desde que a pessoa não se deixe dominar por ela (1Tm 6.10). O texto, porém, não deve ser interpretado como sendo uma instrução normativa para os crentes venderem tudo e viver na pobreza, dependendo do governo e dos outros para sua subsistência. Ao agir dessa forma, estará incorrendo em grande pecado. Atos 2.44-45 não diz que eles vendiam suas residências. O que está implícito nesses versículos é a venda de terras e de outras propriedades excedentes. As medidas tomadas por aqueles crentes eram voluntárias. Estavam vivendo uma situação temporária para o progresso do evangelho e da Igreja primitiva. Novamente trata-se de uma passagem descritiva de profunda significância para nós, mas não uma norma a ser seguida.
Não é o dinheiro, mas o amor ao dinheiro que abre as eclusas e comportas da alma, através das quais correm encachoeiradas as destrutivas ondas da ambição que afoga os homens na destruição e na perdição. Lembremo-nos de que nada podemos levar deste mundo, com exceção do nosso caráter.